E se era frio que a gente queria, não podíamos reclamar. O clima desértico se colocou fresco poucas horas depois que o sol se pôs. Nossa manta foi usada depois de muito tempo.
Com o camping praticamente vazio e tendo os silenciosos vinhedos como vizinhos, a sensação era de que não havia ninguém no Valle de Guadalupe. Mas era só impressão.
Fomos ao centro comprar mantimentos para os próximos dias e lá descobrimos vida no Valle. Mas não era só no mercado que ela estava. Várias pessoas aproveitavam suas férias de verão para conhecer as vinícolas da região, exatamente como a gente pretendia fazer nesses nossos últimos dia no México.
A umas 10 horas de carro de Napa Valley, o famoso rincão vitivinicola da Califórnia, o Valle de Guadalupe é – como já esperávamos – mais modesto que o Vale D’ouro, a região de Rioja, Mendoza ou o Vale de Maipo.
Os vinhos produzidos no México não tem um apelo significativo dos mercados consumidores do mundo. No Brasil, por exemplo, nunca nos havia chegado qualquer exemplar. Foi em terras mexicanas – lá em Veracruz – que provamos pela primeira vez o vinho produzido em Baja Califórnia.
E, quando não há expectativa a surpresa tende a ser maior. Foi exatamente isso que aconteceu com a gente.
Nossa primeira parada foi em La Casa de Doña Lupe. O nome era sugestivo, mas foi quando vimos a simpática proprietária de 86 anos caminhando em nossa direção que nos demos conta do que realmente se tratava aquele lugar.
Diferente de outras tantas vinícolas do Valle que apenas agora dão os primeiros passos, a Casa da Doña Lupe tem muita história pra contar, mais precisamente, 30 anos de produção de vinho. Ok, não estamos na França, nem na Itália onde os vinhedos já estão nas mãos da oitava (ou centésima) geração. Estamos falando do México, terra da tequila que há muito pouco tempo vem aprendendo a degustar a bebida fermentada da uva.
E é por isso que a história da Dona Lupe é interessante, já que além de ser uma das vinícolas mais antigas do Valle, é uma das únicas orgânicas, com produção sem químicos há mais de duas décadas.
O vinho orgânico da Dona Lupe está a venda exclusivamente em sua casa, que abriga ainda um restaurante e lojas de produtos artesanais. Depois de uma rápida conversa com a matriarca, interrompida algumas vezes por fãs que pediam uma foto com ela, saímos de lá com presentes nas mãos: duas garrafas de vinho e uma pomada de uso veterinário para eu passar no meu pé machucado.
Escutei atentamente aos conselhos de uso da pomada dessa lúcida, inspiradora e ativa senhora e anotei as dicas para tanta vitalidade: uma dose de vinho com alho picado e mente ocupada com o trabalho.
Obrigada Dona Lupe, seguiremos a última dica desde já e deixaremos a primeira para…outro dia.
Ainda sobrando alguns minutos antes que as vinícolas fechassem, fomos conhecer a L.A. Cetto, o nome forte do vinho no México. Fundada em 1829 por imigrantes italianos, ela começou produzindo uvas para fazer brandy e só depois passou a fabricar seu próprio vinho. Hoje o local conta com boa estrutura para visitação de turistas, amantes de história e apreciadores da bebida. Por lá conhecemos a estrutura em um tour rápido pelas instalações e degustamos bons vinhos tintos e brancos da Linha Don Luis, com destaque para o tinto assemblage de 60% cabernet sauvignon e 40% Shiraz. Provamos, ainda, um cabernet souvignon rosé, todos eles muito bons com notas aromáticas bem marcadas.
Depois de tanta história e tanto vinho era hora de voltar para o nosso cantinho no camping, preparar o jantar e aproveitar a noite de lua cheia com uma taça de vinho mexicano nas mãos. Tim-tim!