Dia 333 – 31 de julho – Terça: “Fico com os vinhedos!”

Voltamos à programação normal nessa terça-feira, último dia do mês de julho, com a visita à mais um vinhedo, a mais uma vinícola do Valle de Guadalupe, a Emevé.

Chegamos sem reserva e fomos super, super bem atendidos por Brenda Martínez, a encarregada da sala de degustação, por assim dizer, mas que na prática é mais do isso. Ela leva o nome da vinícola no peito e no coração. Quando fala dos vinhos e da vinícola de Mario Villarreal é como se estivesse falando da sua própria família.

E foi com paixão pelo seu trabalho que Brenda nos contou que o nome Emevé vem justamente das iniciais do nome de seu fundador , que iniciou o projeto há 15 anos, com venda ao público no últimos dez. Assim como outras histórias de empreendedores do Valle, Dom Mario também se arriscou a iniciar com a produção de vinhos quando a atividade era ainda bem pouco explorada na região. A ideia dele era ter uma casa, plantar cítricos, ter uma granja com alguns animais e só. Como bom apreciador de vinhos, resolveu plantar algumas poucas parreiras para produzir sua própria bebida. As uvas, entretanto, não chegavam a ser fermentadas pois eram constantemente atacadas pelos animais que criava. Galinhas e cavalos não davam sossego e viviam comendo suas uvas. Então disse, “ou elimino os animais ou elimino os vinhedos”.

Decidiu então ficar com as uvas, com a ideia inicial de vender a maior parte da produção para outras poucas vinícolas da região. Acabou mudando de ideia assim que as colheu as primeiras safras. Em 2005, quando da primeira colheita, se deu conta de que as uvas tinha muito boa qualidade e decidiu entrar e vez no ramo do vinho.

vinhedos no México
Emevé: do rancho de animais aos vinhedos
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Brenda Martinez: há oito anos na empresa que lhe introduziu ao fascinante mundo dos vinhos

Iniciou com o cultivo de chardonnay, cabernet souvignon, cabernet franc e merlot. Hoje já são nove diferentes tipos de uvas plantadas em 18 mil hectares. A variedade de uvas é grande, assim como temos encontrado por todo o Valle: a diversidade faz parte da experimentação do recém explorado terroir. Com elas oito tipos de vinhos diferentes são produzidos na Emevé: dois brancos, um rosado, um tinto jovem, três monovarietais e o top da casa, vencedor de vários concursos, rotulado Los Nietos.

Isso mesmo, Los Nietos é uma homenagem aos três netos do patriarca o que por si só evidencia a veia familiar do negócio, sua principal característica.

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Sala de degustações. Ao fundo, os rótulos da Emevé.

Mas não pense que isso faz dela um projeto amador. Não, o que vimos foi um lugar muito bonito, moderno, bem cuidado, com serviço atencioso, parreiras bem podadas, cava e sala de degustação de tirar o chapéu. Negócio familiar levado a sério!

Pessoalmente, temos verdadeira estima por esse tipo de negócio porque representa a união familiar em prol de um objetivo que vai muito além do dinheiro. Concordam que colocar o próprio nome em um negócio é uma grande responsabilidade? Ninguém quer associar seu nome a algo mediano, de qualidade duvidosa. Assim, todo o esforço estará sempre para fazer o melhor, o resto é consequência.

A produção é limitada, com apenas seis mil caixas ao ano, e dela apenas 2% é exportada as EUA. Com exceção de Los Nietos, a regra da casa é produzir monovarietais, ou seja, vinho de um tipo de uva só. A casa também presa pela diversidade de barricas para o envelhecimento: americana, francesa e húngara, essa última bem menos frequente nas vinícolas que as demais.

Segundo Brenda, a madeira húngara é mais suave, dando um sabor menos amadeirado ao vinho que as demais.

Nossa degustação foi bem completa e conforme fomos avançando os sabores ficavam mais complexos. Começamos com um Chardonnay envelhecido por quatro meses em barrica húngara, que conferiu corpo e sabor ligeiramente amadeirado e ácido.

Passamos depois a um tinto, um Cabernet Souvignon Reserva Premium, safra 2014, bem frutado, com final seco, mas menos adstringente que normalmente costumam ser. O curioso aqui é que parte da produção passou 12 meses por barricas americanas e outra parte por barricas francesas e ao final foram mescladas. O aroma de madeira e tabaco ficaram bem presentes. Ameixa e especiarias também estão aí. Um vinho de guarda muito intenso que ainda vai desenvolver outros aromas e sabores.

O terceiro vinho foi um Shiraz, muito agradável ao paladar, também passado 12 meses por barricas americanas e francesas. Frutas vermelhas maduras, taninos bem ligeiros, corpo persistente, 13.9% de álcool, bem equilibrado.

Por fim provamos a estrela da casa, Los Nietos, uma mescla bordalesa (cabernet sauvignon, cabernet franc e merlot), com 18 meses em barrica, safra 2016. Na etiqueta estão representados Dom Mario, suas duas filhas e seus três netos. Notas de tabaco, café e madeira vão surgindo conforme o vinho ganha vida na taça. Um vinho bem complexo que a guarda desenvolverá todos o seu potencial.

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Um branco pra começar a brincadeira
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100% Shiraz: final de boca muito agradável
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“Sala de Catas”

Nossa visita ainda teve passagem pela elegante sala de degustação, pela fábrica e pela cava, onde tivemos o privilégio de provar  vinhos diretamente das barricas. Quem nos brindou com essa experiência foi o supervisor da Cava, Alexandro, que já contabiliza 11 anos no cargo que conquistou passo-a-passo desde que iniciou seu trabalho como jardineiro da vinícola.

Nossa passagem pela Emevé teve bons vinhos, ótimo atendimento e a certeza de que Dom Mário teve o feeling certo ao optar pelos vinhedos.

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