Dias 361 a 364 – 28 a 31 de agosto | Cruzando o Mississippi, Alabama e Flórida

New Orleans, Terça-feira, 28 de agosto.

Acordamos sob as sombras das árvores do City Park. O imenso espaço verde foi construído no meio da cidade de New Orleans, em 1930, por Roosevelt. Não sei em que dimensão espiritual o ex-presidente se encontra hoje, mas imagino que ele esteja muito feliz com o resultado. Mais de oitenta anos depois, o parque está lindo, com riozinhos de águas calmas, árvores com copas majestosas, flores e gramados por todos os lados.

Eu, se morasse em New Orleans, queria viver bem perto da tranquilidade do City Park. Faria caminhadas na companhia dos esquilos, ao som dos pássaros, e deixaria para frequentar o centro da cidade só uma vez por semana, talvez às terças-feiras, para ouvir música boa ao vivo.

City Park: nosso lar em New Orleans
Árvores centenárias no Parque da Cidade
Amanhecendo no parque da cidade de New Orleans

Na noite anterior, eu e Vinicius fomos conhecer a famosa noite de New Orleans.

Começamos pela Bourbon Street e logo de cara nos deparamos com um pedinte sentado cabisbaixo na calçada, uma cena incomum nos Estados Unidos. E, infelizmente, ele não foi o único. Logo a cena se repetiu duas ou três vezes, enquanto procurávamos um lugar bacana para escutarmos blues, tomarmos um drink e provarmos algo da cozinha cajun.

Desfilamos por todo o passeio da Bourbon Street dividindo o drink mais baratinho que encontramos (em New Orleans, assim como em Las Vegas, é permitido beber na rua, o que também não é comum nos Estados Unidos). O lugar é turístico e os preços vocês já podem imaginar. Mesmo numa segunda-feira, o ambiente no French Quarter era de festa e a rua estava ligeiramente agitada.

Em busca de um lugar mais tranquilo, menos turístico e mais barato, fomos parar na Frenchmen Street, onde se concentram outros restaurantes e bares. Para o nosso azar, já eram quase 22 horas e os restaurantes estavam fechando suas portas (o que é bem normal nos Estados Unidos!rs). O único lugar que seguia atendendo era uma lanchonete que servia Hot Dog. Mesmo na cidade do agito, da música e da boemia, os restaurantes encerram suas atividades cedo para o nosso padrão brasileiro. Quer jantar? Saia de casa cedo.

Por fim, não nos restou alternativa senão voltar à Bourbon Street. Entramos no único lugar que ainda permanecia com a cozinha funcionando. Para a nossa sorte, a música era boa; para o nosso azar, a comida não era o que imaginávamos.

Pedimos Gumbo, um caldo típico da cozinha cajun, feito com farinha de trigo tostada no azeite e temperada com cebola, aipo e pimentão picadinhos – conhecido como “a santíssima trindade” do gumbo.  O prato pode levar também carne, linguiça ou frutos do mar. O nosso veio com linguiça e carne e estava bem modesto. Vamos e convimos, não dá para se esperar muito do único lugar que ainda servia comida no centro da cidade que não fosse fast food.

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O lendário Jean Lafitte’s Blacksmith Shop, considerado o bar mais antigo dos Estados Unidos
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O cardápio de comida cajun na agitada noite da Bourbon Street
viagem new orleans comida cajun
Gumbo: o caldo de carne e legumes de base francesa

Nosso primeiro gumbo deixou muito a desejar. O segundo já estava bem melhor.

No dia seguinte pegamos estrada rumo ao Leste. Cruzamos os estados do Mississippi e Albama e chegamos na Flórida.

Ao contrário dos outros estados do sul dos Estados Unidos, o Mississippi e o Alabama são relativamente pequenos e em poucas horas atravessamos os dois. Além da curta quilometragem, a condição das estradas também favorece a passagem sem maiores percalços.

Aliás, as estradas boas favorecem a infração! Acho que nós éramos os únicos que respeitavam o limite de velocidade sinalizado nas placas. Todos os demais passavam voando pelo nosso lado!

Mas voltando ao Gumbo…foi num restaurante à beira da rodovia que provamos pela segunda vez o prato mais emblemático da cozinha cajun. Nessa versão, o quiabo deu as caras e deixou o caldo com uma textura mais interessante. Nosso pedido ainda veio com Grits (creme de milho parecido com a nossa polenta), acelga e frutos do mar empanados. Ah, batatas fritas também, acompanhadas de catchup com raíz forte, bem gostoso!

Gumbo com quiabo: bem melhor que a primeira tentativa!
Grits: creme de milho pra matar a saudade da polenta
Fartura: peixe, vieiras, patas de caranguejo, ostras e camarões empanados!

Isso foi ainda no Mississippi… depois tomamos um café free no Visitor Center do Alabama e logo chegamos em Panamá Beach. Passamos a noite no Camp Helen State Park, um parque bem pertinho da praia, já no Estado da Flórida. Não havia viva alma no parque. Sem infraestrutura nenhuma, fizemos nosso último Wild Camping nos Estados Unidos.

No dia seguinte, aproveitamos toda a estrutura de banheiro, chuveiro e estacionamento grátis que tinham pelas praias e demos um mergulho nas águas quentinhas do Golfo do México. Mas, não ficamos muito tempo por lá não… praia pra gente só dura mais de meia hora se estivermos na sombra, com um livro numa das mãos e um copo de caipirinha na outra.

Camping selvagem: sem banheiro, sem chuveiro, sem ninguém por perto
viagem-mississippi-alabama-florida
A praia no litoral do Golfo do México, já na Flórida
Chegando no estado americano queridinho dos brasileiros

O que prendeu nossa atenção mesmo foi a Spring do Park Ichetucknee, uma entre a dezenas de Springs que existem em toda a Flórida. O solo poroso formado por pedra calcária, as chuvas constantes na região e quantidade de água existente abaixo da superfície formam essas incríveis nascentes de águas cristalinas. A cor azul impressiona!

Ao contrário de Bonito, lá no Mato Grosso do Sul, aqui as fontes não estão dentro de cavernas, mas a céu aberto, fazendo um lindo contraste com o verde da mata.

Riachinho formado pelas águas da Spring
Caminhos em meio à natureza te levam até a fonte de água azul e gelada
A vista de longe de uma das piscinas de água natural do parque

Hora de seguirmos para o nosso próximo destino: Gainesville!

O que, nunca ouviu falar? Gainesville é a cidade universitária do estado da Flórida, o lugar onde se concentra uma grande população acadêmica, dentre ela muitos, muitos brasileiros que vem para os Estados Unidos fazer mestrados, doutorado, pós-doutorado.

Foi em Gainesville, mais de 15 anos depois, que Vinicius se reencontrou com outro amigo de faculdade, o Gabriel, que veio justamente para fazer doutorado. Passamos três dia na companhia de Gabriel, sua esposa Angélica e de outra meia dúzia de brasileiros, amigos do casal.

Todo mundo sabe que a Flórida é tomada de latino americanos, mas nós, que nunca tínhamos viajado para o Estado antes, não imaginávamos que encontraríamos tantos brasileiros e hispânicos assim por lá! Em uma mesma mesa de bar, a conversa rola solta em português, espanhol e um pouquinho de inglês…só para não deixar os gringos de fora do bate-papo.

Nos nossos últimos dias nos Estados Unidos, pudemos conviver com vários brasileiros que escolheram esse rico país para residir e conseguimos entender melhor esse fascínio que a América exerce sobre os nossos conterrâneos. Uns vem querendo aprender inglês, outros querendo alcançar titulação. Há também quem se arriscou, conseguiu um emprego, e está buscando melhores condições de vida. Uns pensam em voltar para o Brasil, outros nem querem pensar nessa possibilidade.

Em meio a tantas histórias de vidas diferentes, nós vamos aprendendo a enxergar o mundo com o olhar de um pouquinho de cada pessoa, seja ela brasileira, mexicana ou americana. E dessa maneira vamos nos transformando…e seguindo adiante em busca de novas histórias, porque a vida é trem bala, parceiro, e a gente é só passageiro prestes a partir.

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