Dia 360 – 27 de agosto – Segunda | Poor Boy, provando o sanduíche típico de New Orleans

Se você tiver disponível apenas um único dia no seu roteiro de viagem para visitar New Orleans, desejamos fortemente que não seja uma terça-feira.

Em qualquer dia da semana você poderá conhecer as peculiaridades do French Quarter, se perder entre os bares da Bourboun Street e sentir na batida da boa música a atmosfera efervescente da cidade mais boemia dos Estados Unidos.

Mas somente de quarta à segunda você pode conhecer a atração mais saborosa da cidade. E você nem pode pensar em perdê-la!

Às terças, depois de seis dias de trabalho frenético, os 35 colaboradores da Parkway Bakery estão de folga. Merecidamente. O trabalho num dos restaurantes mais tradicionais da cidade é rápido e imparável, tudo para dar conta dos pedidos das mais de 1.000 pessoas que passam por lá todos os dias. Desde às 11h da manhã, quando abre as portas, às 10h da noite, quando o último cliente se delicia com um suculento poor boy de rosbife, a antiga casa da esquina da Hagan com Toulouse não pára de embrulhar e entregar sanduíches e hamburgeres.

Nós chegamos por volta das dez horas, quando as luzes do salão ainda estavam apagadas, as cadeiras estavam sobre as mesas e o pré-preparo bombava na cozinha. Em menos de vinte minutes de portas abertas, o lugar se transformou. As mesas dos ambientes internos e as cadeiras envolta do bar estavam completamente lotadas.

Famílias, crianças de colo e aposentados compartilham espaço com homens engravatados que decidiram analisar alguns relatórios entre uma mordida e outra do sanduíche mais vendido do Parkway: Poor-boy de camarão empanado.

poor boys
Mãos ágeis e habilidosas para dar conta dos pedidos
poor boys
Rosbife: difícil não salivar

Casa cheia, volume de vendas extraordinário, patrimônio financeiro na casa dos milhões. O Parkway  Bakery é exatamente o que uma business magazine chamaria de negócio de sucesso.

Já a gente prefere chamar de história de valor, porque os números isolados das pessoas não passam de um amontoado de dinheiro sem sentido. E, no caso do Parkway, o que está por trás de toda essa cifra poderia render um livro, dos bons. São mais de cem anos de histórias colecionadas pelas famílias Goering, Timothy e Nix, os fundadores, transformadores e os atuais proprietários do estabelecimento.

Tudo começou em 1911, quando a casa foi construída para servir de padaria pelo padeiro alemão Charles Goering. Onze anos depois, a propriedade foi vendida à família Thimoty que esteve a frente do negócio por setenta e três anos. Nesse tempo a padaria começou a vender sanduíches e em 1978, quando uma inundação assolou a cidade destruindo os fornos que assavam os pães, acabou se transformou definitivamente em restaurante.

O tempo foi passando, a estrutura da casa foi ficando deteriorada e… manutenção não era o forte dos Thimotys. As autoridades locais passaram a vistoriar o lugar e pedir que reformas fossem feitas para que o restaurante pudesse continuar funcionando. Em 1993, a teimosia dos irmãos Thimoty em reabilitar o lugar acabou fechando de vez o Parkway.

Em 1995, Jay Nix – o atual proprietário com quem tivemos o prazer de conversar – resolveu comprar a propriedade. Nessa época nem passava por sua cabeça ter um restaurante. A compra não passava de um investimento e uma forma de proteger o bairro. Jay morava nas redondezas e não queria que o lugar abrigasse uma loja de licor ou quem sabe mais uma casa de festas, pelo que é mundialmente conhecida New Orleans.

O tempo foi passando e a vizinhança começou a perguntar quando ele reabriria o Parkway. Todos queriam os sanduíches do Parkway de volta. Anos mais tarde, o que parecia improvável aconteceu. Em 2003, depois de uma reconstrução completa do lugar, Jay reabriu as portas do Parkway Bakery para servir o famoso Po-boy.

A inauguração foi uma festa, com fila e sanduíche de graça para os vizinhos que aclamaram pela volta do restaurante.

A falta de experiência no ramo, entretanto, dificultou o inicio do negócio. Jay nos contou que  investiu nos equipamentos errados, a logística de produção estava equivocada, os colaboradores se esbarravam na cozinha enquanto preparavam os lanches. Havia muito o que ser feito para acertar os ponteiros, mas o investimento já tinha sido alto demais.

poor boys
Onze da manhã: o balcão já tomado de clientes
poor boy. po boy
Jay Nix erguendo mais uma conquista: eleito pelo jornal local, Gambit, o melhor Po Boy de New Orleans do ano de 2018
poor boys
Ah, se as paredes falassem…

Cerca de dois anos depois da abertura, um desastre natural mudaria o curso do Parkway. Em 2005 o furacão Katrina devastou toda a cidade e o restaurante ficou com mais de um metro tomado pela água. Desolado, Jay não tinha coragem de ver o estrago.

Foi Justin, seu sobrinho e atual Gerente Geral do lugar, quem arregaçou as mangas. Durante dois dias Justin trabalhou sozinho retirando a lama que havia se formado no interior do restaurante. No terceiro dia Jay juntou forças e foi ver de perto as marcas do furacão que deixou 1.833 mortos e destruição por todos os lados.

Vendo o esforço do sobrinho, Jay se comoveu, se juntou a ele e passou a reerguer o lugar mais uma vez. Na desgraça e aos poucos, começou a enxergar na tragédia uma oportunidade de recomeço. Com o dinheiro do seguro, ele poderia remodelar a cozinha e corrigir os equívocos da primeira experiência.

Seis meses depois da tragédia, o restaurante reabriu as portas, recebeu a ilustre visita de Barak e Michele Obama e hoje é considerado um dos melhores lugares para provar o prato emblemático da cidade.

Apesar das mais de vinte versões de Poor-boys, Jay nos contou que o campeão de vendas é o de camarão, justamente o pedido por Obama. E, não por nada, o presidente tem bom gosto. O sanduíche de rosbife, o tradicional, é muito bom, mas o de camarão é sensacional.

Poor Boy
Fotos das marcas do furação e da visita do Presidente estão nas paredes do Parkway
poor boy Parkway
Justin Kennedy, o “big boss” do Parkway
Poor boy
O melhor Po Booy de New Orleans: camarão frito
poor boy
Poor Boy de Rosbife: carne desmanchando

Para reproduzir em casa, corte uma baguete francesa ao meio, passe maionese, ajeite uma cama de alface americana, rodelas de tomate e picles e sobre isso coloque muitos, muitos camarões de tamanho médio frescos, empanados e recém fritos.

A receita é simples e o sucesso, garantido. E a gente não vê a hora de voltar a provar um po-boy de camarão lá no Parkway.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *