Lubbock é uma cidade plana situada no nordeste do Texas. Nem tão grande, nem tão pequena, tem quase tudo que uma cidade grande tem, com a vantagem de ser mais tranquila que os grandes centros.
No quinto estado americano da nossa travessia, nos sentimos em casa, bem mais em casa. O estigma de povo carrancudo, de cowboys de blue jeans e botas de couro com armas em punho não passa de uma imagem das telas de cinema.
Ao menos em Lubbock fomos muito bem tratados por todos, pelo segurança do Walmart, pelo atendente do Starbucks, pelo staff do Hotel Overton.
Bem menos turística que Dallas, Austin ou Houstin, Lubbock passou a fazer parte do nosso roteiro depois de termos encontrado em nossas pesquisas o nome Douglas Noxon. Em meio a tantas redes de fast food e restaurantes sem muita personalidade, tínhamos achado alguém que encarava a culinária com paixão e não como mercadoria.
E olha que estamos falando de um chef que comanda um restaurante dentro de um hotel, onde muitas vezes não se tem espaço para ser criativo.
Porém, antes de ser chef, Douglas já era artista. Com a fomação original pela Escola de Artes, criatividade faz parte da sua essência e na cozinha não teria como ser diferente. Suas habilidades artísticas estão presentes em todas suas criações culinárias, na escolha das cores, na forma da apresentação e na seleção dos ingredientes.
Em conversa na cozinha do Pecan Grill, o restaurante do Hotel Overton comandado por Douglas, o chef nos contou que procura trabalhar com produtos locais, valorizando a qualidade e o frescor dos ingredientes vindos diretamente do campo para a sua cozinha, uma tendência mundial, mas aparentemente não tão presente nos Estados Unidos. E assim, nessa fusão de inovação, arte e o estilo “farm to table”, o chef prepara pratos autorias com toque texano.
Não por acaso o Pecan Grill recebeu destaque, nada mais nada menos do que pela Wine Spectator – uma das publicações mais influentes do mundo gastronômico – por ser um dos dez restaurantes de alto nível em todo os Estados Unidos que promove os vinhos locais e a cozinha regional.
Sobre a cozinha texana, aliás, o chef nos falou da influência mexicana, por certo, e também da presença da cozinha alemã, o que pra gente foi uma surpresa! Nós que vivemos em uma cidade colonizada por alemães no Brasil não fazíamos ideia de que o Texas também se favorecia da cultura germânica!
Salsichas e batatas com creme de queijo são comuns tanto no buffet do café da manhã do hotel como no cardápio do Pecan Grill.
Nossa experiência gustativa, no entanto, foi mais tex-mex do que alemã.
Fomos para a cozinha acompanhar o preparo de um Bone in a Rib Eye no ponto médio, macio e suculento, envolto em Dry Rub feito na casa. Saboroso mas não agressivo, o rub – a seleção de temperos e ervas secas – dava um toque especial sem tirar o gosto da carne. Pra acompanhar, o chef preparou brócolis salteados, vindos diretos de um fornecedor local.
Por fim e não menos importante, a preparação ainda ganhou feijão estilo rancheiro, bem Tex-Mex, com jalapenhos, bacon e queijo gratinado. Simplesmente delicioso!
Tudo bem que colocar bacon pode parecer covardia, mas olha, uma covardia dessas é bom provar de vez em quando!! E assim aprendemos mais uma forma de preparar o feijão nosso de cada dia, mas com uma camada extra de sabor.
Pra completar nossa experiência, o prato foi acompanhado de vinho texano (da McPherson Cellars), outra novidade pra gente! Jovem, a indústria vitivinícola no Texas ainda busca seu espaço no mercado e, aparentemente, tempranillo foi a uva eleita para traçar esse caminho.
E foi assim, em vinte minutos de conversa com chef executivo do Hotel Overton, que descobrimos mais do mundo gastronômico dos Estados Unidos do que sugeriria nossa imaginação.
Vivendo, viajando, provando e aprendendo!
E também nos surpreendendo!
Quando estávamos prontos para seguir caminho, recebemos o convite do Hotel para ficarmos uma noite por lá, o que foi muito bem vindo! Logo depois, quando já desfrutávamos das instalações amplas e confortáveis do loudge do hotel, conhecemos Dusty, um texano de verdade, sem cinto de fivela grande, nem chapéu de cowboy.
Dusty estava hospedado no hotel a negócios e depois de trocar algumas palavras com Vinicius já estava sentado em nossa mesa, compartindo uma e outra taça de vinho enquanto ouvia sobre o nosso projeto. Conversa vai, conversa vem, o loudge fechou e ele nos perguntou se gostaríamos de conhecer um winebar que ele costumava ir quando estava na cidade. Winebar é a nossa cara. Claro que aceitamos prontamente o convite e a noite, que poderia ter sido de muita cerveja artesanal e música country, terminou regada a um ótimo cabernet sauvignon e ao som de pop rock americano. Só para contrariar e surpreender!