Dia 234 – 23 de abril – Segunda-Feira: Y Por que No?

O pequeno restaurante de Antigua que é como coração de mãe

A noite no estacionamento do parque da polícia foi super tranquila! Como de costume, acordamos antes de todos os nossos vizinhos gringos que estavam no camping. Fizemos nosso cafezinho, vimos o sol nascer e nos pusemos a trabalhar.

Ao meio dia nosso almoço foram ricas tostadas com feijão moído que havíamos comprado na Costa Rica. Foi lá que vimos pela primeira vez a pasta de feijão à venda no supermercado…de lá pra cá encontramos por todos os países, por todos os cantos e não mais industrializadas, senão nas panelas das casas e restaurantes que tivemos o privilégio de visitar. É mais uma daquelas preparações que leva um ingrediente bem típico do Brasil e que tampouco vemos por lá.

Pasta de feijão refrita usada em inúmeras preparações

Enquanto o almoço foi só no lanchinho, o jantar foi farto! Farto de sabor e de carinho. Chegamos ao Restaurante Y Por que No quase sete da noite. Estava lotado! Tudo bem que a casa só conta com seis mesas e mais alguns cantinhos com banquetas, mas os demais restaurantes da cidade estavam vazios! E detalhe: não parava de chegar gente, a maioria turistas com os mais diversos sotaques. Apesar da espera e do aperto, era ali mesmo que todos queriam estar. E logo entendemos o porquê.

Primeiro a simpatia da dona, a Carol, que recebe todos com um largo sorriso (verdadeiro, não aquele forçado que vemos muito por aí!). Depois o clima descontraído de um lugar onde todos estão de férias, curtindo um país exótico, longe de casa. Por fim, e não menos importante, o cheirinho de comida boa que sai da minúscula cozinha comandada por Carlos que fica ali, exposta aos olhos de todos os clientes.

Assim que liberou um cantinho, nos sentamos no balcão, bem de cara com o fogão. Ali vimos os pratos saindo com agilidade e maestria. Foi a menor cozinha que vimos até agora e, sem dúvida, a mais organizada. Tudo no seu devido lugar. Sujou, já lavou. Terminou, já repõe. Usou, guardou no mesmo instante. Carlos conta com um único ajudante que já deixa tudo a mão do chef. Uma dança bem ensaiada e bonita de se ver.

E super importante: tudo é feito na hora! As coisas estão picadas, separadas, porcionadas, mas não pré cozidas. Tudo é feito na hora!

A cozinha de Carlos não é típica guatemalteca. É mais voltada para os paladares internacionais. Ele preparou pra gente uma deliciosa berinjela assada na chapa de ferro na boca do fogão. Intercalou as fatias com molho de tomate feito na hora e um pouco de queijo maduro ralado. Por cima, brotos de rúcula decoravam e davam sabor ao prato. Um toque especial foi dado com mini cenouras, tomates e abóboras salteados em azeite de oliva. Tudo bem fresquinho! Uma delícia de prato vegetariano!!

Depois provamos camarões ao molho curry e ao molho de chiltepe, o último mais picante que o primeiro. Pontos também para apresentação. Os camarões foram dispostos sobre uma tortilha assada em formato de uma cestinha. Um simples detalhe que faz toda diferença.

Restaurante Antigua Guatemala
Quem disse que prato farto não pode ser bem apresentado?
Restaurante Antigua Guatemala
Prato vegano suuuper saboroso: berinjelas assadas
Restaurante Antigua Guatemala
Camarões apimentados e a assinatura do chef: a mini abóbora amarelinha deliciosa que sempre aparece nos pratos do chef
Carol e a sua assinatura pessoal: o sorrisão!

Pra concluir, Carol serviu um brownie de chocolate que estava divino! É aquele tipo de sobremesa que não importa em qual lugar do mundo você esteja, sempre te fará feliz.

Saímos do Y Porque Nó super satisfeitos com a comida, com o carinho, mas sentimos falta de uma coisa: interagir mais com o chef! Ele estava super ocupado e, claro, entendemos!

Carlos é guatemalteco da Cidade da Guatemala e certamente teria muito a nos contar sobre a gastronomia do seu país. Pra matar um pouquinho da nossa curiosidade e poder conhecer um pouco mais de Carlos e do Y Por Que No?, mandamos algumas perguntinhas pra ele. As respostas nos surpreenderam e nos fizeram admirar ainda mais o seu trabalho! Confiram!

Carlos, você tem alguma formação na área da gastronomia ou é cozinheiro por experiência?

Não tenho nenhuma formação gastronômica. Antes de abrir o restaurante jamais havia cozinhado na minha vida, mas a lembrança que sempre vem a minha mente é da minha mãe cozinhando. Então penso em cada tempero, aquele sabor que vem da alma, que é herdado.

Como surgiu a ideia do Restaurante Y Por Que No?

A ideia do restaurante veio por necessidade. Estávamos em um ponto crítico da nossa vida, com uma filha recém nascida, sem trabalho, tendo que pagar aluguel. Carol tinha se formado em administração de empresas e feito mestrado em recursos humanos e mesmo assim não encontrava emprego. Um dia saímos pra caminhar os três (Martinee no carrinho de bebê) e Carol me disse: onde vamos? Você já vai ver, a respondi. Finalmente chegamos e batemos na porta. A esquina não estava para alugar. Para não deixar a história mais comprida… no final descobri que a dona era prima do meu avô e por conta dos laços de sangue me disse que sim, que para gente ela alugava o lugar. Saímos de lá e Carol me perguntou se eu sabia o que estava fazendo já que nem tínhamos o que comer. Mas pensei: há quem tenha dinheiro, mas não tem ideias e vice-versa. Pensei então em um sócio e deu certo no primeiro ano. Depois de 7 anos, este é o sexto em sociedade só com a Carol.

Qual o segredo para cozinhar com perfeição em uma cozinha tão pequena?

Um pequeno restaurante é como um lar, você tem o que é necessário. Não tenho nenhum parâmetro de comparação já que nunca havia cozinhado em oura cozinha.

Como é feita a escolha do que entrará para o cardápio?

O cardápio é fixo. Sérgio López, o chef que monta os cardápios, me ensina os procedimentos que vou simplificando com a prática diária, coloco amor e busco a perfeição.

Com você vê a cozinha Guatemalteca nos dias de hoje?

A cozinha guatemalteca está ganhando relevância graças a chefs como Diego Tells, Mario Godinez e vários outros. 

Ao final, Carlos faz questão de acrescentar: Nossa filosofia de negócio baseia-se no respeito pelos vizinhos, no respeito à liberdade, no respeito à lei e à arquitetura histórica.

Restaurante Antigua Guatemala
O casal entrando em ação. Com cara de botequim, o restaurante Y Por Que No é lugar obrigatório para o pessoal cool que vai a Antigua! (Foto: divulgação)

Mais uma história de superação, de força de vontade e de causalidade em que o alimento transformou a vida de uma família.

Vida longa ao casal, vida longa ao Y Por que Nó!

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