Olá queridos leitores desse diário de bordo! O que temos para dizer hoje é: provamos larva frita!! E não paramos por aí! Provamos também ovas de formiga e grilo e vou dizer: apesar do aspecto indigesto, estava tudo muito bom!
Vinicius se divertiu provando as iguarias e tentando encontrar as propriedades gustativas dos bichanos. Já eu me surpreendi. Achei que quando fosse me deparar com esse tipo de “comida” ia fazer cara feia e ter mais dificuldade para prová-lo. Mas não. Encarei com tranquilidade. Tenho que dar crédito ao jovem chef Henrique Branco que nos apresentou os insetos de uma forma bem natural, com se fosse mais um prato de comida qualquer.
Fato é que no México, comer “chapolines”, “escamoles” e “gusanos de maguey” não é nada chocante. Eles não chegam a fazer parte da dieta diária dos mexicanos nos dias atuais, até porque essas belezinhas não são baratas (com perdão do trocadilho). Um prato como o da foto sai por U$11. Entretanto, a colheita e preparação dos insetos já fazia parte das antigas civilizações pré-hispânicas e é uma tradição passada de geração em geração.
Se pra você o tema parece estranho ou nojento, é melhor ir se acostumando. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a solução para evitar a fome do mundo é comer insetos e é um alternativa cada vez mais proclamada entre os estudiosos no assunto que tem até nome: antropoentomofagia.
Pra nossa sorte, anos e anos de consumo de inseto fez com os mexicanos aprendessem muito bem como prepará-los. O prato feito por Henrique levou ovas de formigas negras, guacamole e folhas de chaya e estava bom. Mesmo! Ele puxou as ovas na manteiga, com cebola e acrescentou um pouco de pulque, a bebida fermentada feita do agave, a planta da qual se fabrica tequila. Depois enrolou o refogado com guacamole em folhas de chaya que foram cozidas em água por cerca de 2 minutos.
Com ou sem molho adicional, encaramos o rolinho e não nos arrependemos. O gosto é bem peculiar, puxado um pouco para doce. A consistência é bem suave e mescladas ao guacamole nem dava para perceber que se tratava de ovas de formigas.
Os chapolines e os gusanos provamos assim mesmo, sem estarem em nenhuma preparação especial e mesmo assim o sabor não decepcionou. Os grilos foram puxados no azeite com alho e limão e estavam crocantes e bem temperados. Os gusanos, que são larvas de mariposas, foram apenas fritos e nos pareceu com um gosto levemente amargo, mas não chegando a incomodar.
Insetos a parte, do que eu gostei mesmo foi da folha de chaya. E olha, numa rápida zapeada pela internet vi que apesar de ser nativa do México, ela também existe no Brasil, onde também é conhecida como espinafre de árvore. No nosso país ainda é considerada uma PANC, não sendo tão fácil de achar, apesar de crescer com muita facilidade. O sabor é parecido com a de couve e nos disseram que ela é super rica em proteína e cálcio.
No quesito proteína, aliás, os insetos não ficam pra trás, sendo considerados mais nutritivos que carne e peixes. Em resumo, o prato que provamos no La Perla Pixan era totalmente inusitado, saboroso e super saudável!
E não teve jeito: a pauta do dia era mesmo os insetos! Mas nada de comê-los dessa vez. Muito pelo contrário.
Saindo do La Perla Pixan fomos encontrar Sebastian e Efrain e ver de perto um trabalho realizado com abelhas. O ponto central da nossa conversa era a preservação desse bichinho tão importante para o ser humano, para a natureza e para o mundo como um todo.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura divulgou um estudo onde relata que as abelhas são responsáveis por pelo menos um terço da produção mundial de alimentos e o impacto de seu desaparecimento seria um colapso mundial. Isso porque as abelhas são os principais insetos polinizadores, atividade essencial à reprodução de diferentes espécies de plantas, incluindo vegetais consumidos pelos humanos. Uso de agrotóxicos inseticidas, desmatamento, desconhecimento e desinformação tem levado a diminuição das abelhas, acendendo o sinal vermelho dos ativistas do mundo todo.
O assunto é tão importante que a ONU reservou um dia para lembrar da importância da polinização, declarando o dia 20 de maio o Dia Mundial das Abelhas.
Mas na Playa del Carmen, México, uma pessoa vem fazendo a diferença. Ele é Efrain Cab e sua missão é resgatar abelhas nativas que seriam dizimadas por conta da ação humana, protegê-las e reinserir-las na floresta. O crescimento avassalador da região que nos últimos anos ganhou uma quantidade infindável de hotéis e resorts acaba por destruir tudo o que vê pela frente, inclusive árvores colonizadas com milhares de abelhas nativas.
Em um canto do terreno de sua humilde casa, ele conta com instalações simples para abrigar 9 espécies de abelhas. Nada de tecnologias sofisticadas. Efrain aprendeu as técnicas de cultivo sozinho, por paixão às abelhas, mais na prática do que nos livros e assim já leva um par de anos fazendo voluntariamente esse trabalho de herói.
Depois que as abelhas estão recuperadas da perda repentina de seu habitat Efrain as reintroduz à natureza para que possam continuar seu precioso papel de polinizar. Detalhe: ele não comercializa o mel e só retira o suficiente para o consumo de sua família. O restante fica ali na colmeia mesmo para que as abelhas dele se alimente.
É realmente um trabalho muito bonito, feito com muito amor e sem qualquer retorno financeiro que nos faz para e pensar: enquanto alguns dão causa a um problema visando somente dinheiro, outros se doam para ser parte da solução. De que lado você está?