Chef que é chef de cozinha gosta de comer, não?

Provamos a cozinha de Tiziana Favi, a chef criativa que adora experimentar…e comer.

Viajar o mundo nos coloca dia a dia com situações que nos fazem refletir sobre as nossas próprias escolhas e também sobre as escolhas de quem cruza o nosso caminho.

Analisar sem julgar é difícil, é um exercício constante, mas que sempre acaba por nos mostrar que as coisas não precisam (nem devem) ser como a resposta padrão que nos vem súbito à mente (e que é resultado da nossa educação, da cultura, da política, dos veículos de comunicação…).

A reflexão que vem tomando conta das nossas últimas conversas não é, a priori, uma questão vital, mas tem nos intrigado verdadeiramente. 

Se você puder, responda pra gente: como pode um enólogo não tomar vinho, um chef de cozinha não experimentar a comida que faz ou um mestre queijeiro não comer queijo?

Desde que conhecemos pessoas que se encaixam na descrição acima, fazemos incansavelmente essa pergunta. Talvez o fato de termos uma predileção por queijos e vinhos torne a busca pela resposta dessa charada mais difícil. 

Não seria o mesmo que negar a própria condição, ignorar os frutos do seu trabalho ou menosprezar a sua importância?

Afinal, o profissional criou algo que ele mesmo não aprecia!

Não é esse o caso de Tiziana Favi, a chef de cozinha e proprietária do Namo RistoBottega, que não tira o sorriso do rosto ao falar do seu trabalho, ao executá-lo e, ao final, apreciá-lo. Também não poupou adjetivos à receita que havia escolhido para nos ensinar.

“É uma sopa de grão de bico de uma espécie pequenininha, mas saborosíssima. A receita tem origem hebraica, portanto, muito antiga e vem servida com bacalhau. Eu a revisitei um pouquinho porque gosto muito da fusão entre as várias cozinhas nacionais”, disse a profissional que faz parte da Aliança de Cozinheiros do movimento mundial Slow Food.

No lugar do tradicional bacalhau feito em postas, Tiziana faz o peixe amanteigado, cremoso, cozido no leite e emulsionado com azeite e salsinha, como é feito em Veneza. E para dar um toque de originalidade e acidez ao prato, a chef acrescentou pó de framboesas desidratadas.

“Me piace manggiare!”, exclamou ela, interrompendo a narrativa entusiasmante do preparo. Ufa! Não tínhamos o que temer. Tiziana não era mais um caso a ser estudado, apenas docemente admirado.

chef
Chef de cozinha Tiziana Favi: sorriso largo

Cozinheiro que não experimenta ou que não gosta de comer pode até ter habilidade, mas não passa credibilidade. E isso Tiziana não demorou a transmitir. Em cinco minutos de conversa, onde viajamos pelos sabores dos pratos e produtos típicos da sua linda Tarquinia, sabíamos que se tratava de uma profissional verdadeiramente apaixonada por seu ofício.

Tarquinia fica a 90 km ao norte de Roma, foi a cidade mais importante da civilização Etrusca e merece uma visita sua!

profissão chef
Umami: a sopa de grão de bico é cozida com alga kombu
grão de bico com bacalhau
Sopa de “ceci e baccalà”

Do salão para a cozinha, onde Tiziana se diverte a experimentar novos sabores, a história só se confirmou. A forma como havia sistematizado os ingredientes para nos apresentar a receita, a gentileza com que tratava seus colaboradores, o modo como apresentou e descreveu seus pratos, tudo era fluido, orgânico.

chef de cozinha
Entre sorrisos e empratamentos, Tizi apresentou Hassan, seu braço direito na cozinha e Júlia, a futura sommelier que domina o salão do pequeno e agradável restaurante.
chef de cozinha
Fora das muralhas que circundam o centro histórico de Tarquinia, o restaurante aberto desde 2015 tem uma vista privilegiada para o horizonte e o mar que fica a 10km. 

A comida é sempre italiana – com os toques criativos de Tiziana – mas o cardápio nunca é o mesmo. De mês em mês novos pratos são oferecidos e talvez o cliente não tenha a sorte de encontrar mais a carne batuta al coltello por lá.

Talvez não tenha a felicidade de poder provar o ravióli de batatas com manteiga trufada e café da Guatemala, nem mesmo a polpetta de pão acompanhada de legumes frescos que chegaram pela manhã.

Certamente encontrará, entretanto, outras revisitações de pratos italianos conhecidos, tão criativos e ousados como os que nós provamos. Afinal, Tiziana ama a profissão, e amor sempre estará no menu, temperando tudo o que ela faz.

carne crua italiana
Carne crua “battuta al coltello” di fassona piemontese com sal de amora, salada russa feita em casa e crosta de grana
ravioli de batata
Ravioli de batata e sálvia na manteiga trufada com pó de café
porpeta de pão
Da Calábria para o Lazio: polpetta de pão com abobrinha, pimentão e berinjela

Se ficar na dúvida, peça um tradicional cacio e pepe e – ainda que não esteja no cardápio – temos certeza que ela o fará com maior prazer.

cacio e pepe
Tiziana: “Nem sempre os pratos simples, são simples de fazer”
cacio e pepe
Harmonização: Petit Verdot da Muscari Tomajoli., cultivada a 200 metros acima do nível do mar.
vinho tinto tarquinia

Vinho tinto de uvas de colheita manual nos vinhedos cultivados – sem herbicidas – nas colinas de Tarquinia.

Veja como foi a nossa visita no Namo Ristobottega!

Saímos do restaurante Namo confirmando a lição que já aprendemos bem nesses meses de estrada: gostar do que se faz é sinônimo de sucesso e felicidade. Seguimos, entretanto, sem entender como pode um enólogo não tomar vinho ou um mestre queijeiro não comer queijo. Se você tiver algum palpite, deixe nos comentários!

Nosso muitíssimo obrigado à Tiziana e a família do Namo que nos receberam de braços abertos e fizeram com que nos sentíssemos em casa!

[su_box title=”Namo Ristobottega”]
Via Giovanni Battista Marzi, 1,
01016 Tarquinia, Lazio, Itália
www.namoristobottega.it
[/su_box]

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