A ‘zuppa di pesce’ típica da cidade de Civitavecchia é um verdadeiro tesouro dos mares
Se algum dia lhe oferecerem uma sopa de Civitavecchia, não titubeie. A palavra sopa pode dar algum descrédito ao prato que nada lembra comida de hospital. Bem longe disso! A sopa de frutos do mar de Civitavecchia é uma riquíssima preparação que tem por base peixes e outros (muitos) frutos do mar oriundos das águas do mar mediterrâneo.
Para situá-los, estamos a 80 km de Roma, no litoral conhecido pelos turistas do mundo inteiro que viajam de cruzeiros e desembarcam no Porto de Civitavecchia para conhecer a cidade eterna.
“A sopa de peixe é o prato típico de Civitavecchia por excelência“, contou-nos Claudio Scipione, proprietário do Restaurante Pane, Amore e Fantasia.
“É um grande prato único onde antigamente todos os peixes eram cozidos inteiros em uma base de alho, óleo, pimenta e bastante tomate. Eram cozinhados por duas ou três horas com totane, polvo, lula e outros frutos do mar. Depois, de pouco em pouco, considerando o tempo de cozimento, eram acrescentados os peixes, um por vez”, explicou-nos ele.
Com o tempo, a sopa ganhou crustáceos na composição e ficou ainda mais farta e gostosa.
“Não é que a sopa de peixe tenha sido substituída, mas a sopa de crustáceo passou a ser bastante apreciada. No mesmo procedimento em que é feita a sopa de peixe, é feita a sopa de crustáceos, apenas trocando os peixes por camarões brancos, vermelhos, lagostins, etc.”, contou Cláudio que cresceu a bordo de uma embarcação de pescadores e se autodenomina “gente de mar”.
A preparação que vimos da cozinha do restaurante de Cláudio pelas mãos do chef Valerio, contraria terminantemente a filosofia da maioria dos pratos tradicionais italianos. Nada de poucos ingredientes dessa vez, nem mesmo rapidez no preparo.
Uma boa sopa de frutos do mar de Civitavecchia leva pelo menos seis horas de cozimento: quatro horas para deixar pronto o caldo base e outras duas para o preparo da sopa em si. Se colocarmos na conta o tempo necessário para lavar, abrir e limpar os ingredientes provenientes do mar é fácil chegar ao tempo relativo a uma jornada inteira de trabalho.
Ou duas.
É só depois das cinco da tarde, quando o barco pesqueiro Oscar atraca no porto de Civitavecchia, que o chef pode pensar em começar o preparo da sopa de frutos do mar. Seu Sandro, pai de Claudio e pescador há 40 anos, embarca ainda de madrugada, passa o dia em alto mar e, ao final do dia, porta as mais diversas espécies que vivem na água salgada. De tudo que seu Sandro pesca, uma parte – a mais especial – vai parar nas mãos do filho. A paixão que também cultiva pela pesca, Claudio transfere na hora em que leva os peixes fresquíssimos para dentro da cozinha e, mais tarde, entrega-os aos clientes.
É em terra firme que ele reconhece o esforço diário do pai e do irmão e onde decidiu ser porta voz das tradições gastronômicas de Civitavecchia, lugar onde nasceu, cresceu e aprendeu a valorizar os sabores da cozinha local.
O cardápio do Pane, Amore e Fantasia, é um apanhado de especialidades gastronômicas de tradição local, “revisitadas numa chave moderna”, como mesmo diz a frase que identifica o estabelecimento lindamente decorado em estilo industrial.
Entre as preparações emblemáticas da cidade estão a pizza coberta alla civitavecchiese; a pasta com polvo e queijo pecorino; os biscoitos de natal civitavecchieses que representam uma das maiores especialidades de confeitaria da tradição local.
Já a zuppa di Civitavecchia não está apenas no cardápio como ganha um dia especial só para ela. Uma vez ao mês, o restaurante promove um evento dedicado ao prato símbolo da cidade. Nessa ocasião, é servida a sopa de crustáceos, uma variação da famosa sopa exclusivamente feita de peixe de Civitavecchia. Tudo acompanhado de pão frito torrado, como manda a tradição.
São 1,1 Kg de polvos, totanis, vôngoles e mexilhões numa sopa de peixes já filetados e totalmente livres de espinhas, imersos em um molho de tomate aromatizado com alho salteado, azeite e pimenta seca. A versão com crustáceos ganha caranguejo, camarão branco, lagostim, lagosta, e mais algumas variantes que só filho de pescador sabe distinguir a olho.
Como se constata um instante, o prato supera muito o número de ingredientes que estamos acostumados a ver nas preparações italianas. Em comum com a cozinha do restante do país a sopa de frutos do mar tem mesmo as sensações extra-palato que provoca a comida italiana: sempre reconfortante, sempre muito prazerosa.
E foi assim a nossa experiência pelo restaurante de Cláudio, do início ao fim…que se prolongou para o dia seguinte, quando pude sentir ainda os sabores do caldo de peixes feito por Valério em nossa “casa”.
Não tendo vencido o substancioso prato de víveres do mar – e tendo obviamente deixado espaço para os deliciosos doces feitos por Rosa Rita, a mãe de Cláudio – eu pedi para levar o que sobrou. É o meu modo de respeitar a natureza, reconhecer o esforço de todas as pessoas envolvidas até a preparação do prato e honrar todos aqueles que não têm a mesma felicidade de ter comida farta à disposição.
Vinicius – que segue os mesmos preceitos que os meus – o fez do modo seu: comeu tudo e com a ajuda do pãozinho frito não deixou caldo de peixe para contar história.
Ao Cláudio, o nosso muitíssimo obrigado por essa maravilhosa passagem por Civitavecchia. Jamais esqueceremos do movimento frenético do mercado de peixes, das cores das inúmeras variedades de frutos do mar e dos sabores de Civitavecchia.
[su_box title=”PANE AMORE & FANTASIA – IL RISTORANTE”]
Via Carlo Calisse, 20,
00053 Civitavecchia (RM), Itália
www.paneamoreefantasia.restaurant
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