Saímos de Puebla tarde! Já passava das dez da manhã quando nos despedimos de Ale, Mari e Xavier. Nesse horário já imaginávamos estar em San Martín de las Pirâmides, cidade que abriga o sítio arqueológico de Teotihuacan.
Mas as pirâmides não iam fugir, tampouco tínhamos hora marcada para desbravar as ruínas que abrigaram uma das maiores cidades da mesoamérica antes da chegada dos colonizadores.
Assim fomos tranquilos pela estrada pedagiada e cheia de caminhões. Estávamos chegando na região próxima ao DF e deu pra sentir o movimento de carros que transitavam num dos maiores conglomerados humanos do mundo. Escapamos dali rapidinho, sem piscar.
Chegamos por volta da uma da tarde e logo depois de comer uma enfrijolada e um ojo de buey, seguimos para conhecer as pirâmides de Teotihuacan, que em náhuatl significa “Cidades dos Deuses”.
Nos contaram que nos tempos áureos, a cidade chegou a contabilizar 100 mil habitantes. Para organizar tanta gente, os registros contam que a cidade era estratificada em diversos grupos étnicos, possuindo inclusive atividades comerciais. A construção da cidade iniciou no ano 300 a.C e a construção das pirâmides em 150 d.C.
Saindo da cidade dos deuses fomos direto para a casa da deusa do pulque ou melhor, para o Restaurante Mayahuel.
Foi com a bebida fermentada do líquido retirado do Maguey que recebemos as boas vindas de Noemi Durango ou Mimi, a proprietária do restaurante e a pessoa responsável por nos fazer recuperar as energias que gastamos em Teotihuacan. Mimi caprichou no menu degustação de pratos típicos regionais. Pouco a pouco ela foi trazendo os pratos e explicando os ingredientes, as formas de preparo e as tradições da cidade que abriga uma das mais importantes atrações turísticas do México. Aliás, a localização do restaurante é excepcional. É possível ver a pirâmide do Sol ali mesmo, sentado em uma das mesas externas enquanto aprecia deliciosas preparações mexicanas.
Para compatibilizar os sabores dos turistas vindos de todas as partes do mundo, Mimi conta que substitui os chiles mais picantes por outros menos ardidos. Para quem quer provar o verdadeiro sabor do México, é só incorporar uma das várias salsas que vão pra mesa junto com a comida.
Com 12 anos de existência, o Restaurante vive cheio de turistas em especial os russos que precisamente nessa época não estão no México por conta do Mundial. Como eles se comunicam? Além de cardápio em inglês há também em russo. Mimi confessa que não entende nada da língua, mas nada que mímicas e gestos não resolvam a questão.
Começamos nossa viagem pelos sabores de Teotihuacan com um shot de pulque natural e outro de goiaba que estava deliciosa!
Pra iniciar a brincadeira, Mimi mandou servir um prato que leva o nome do restaurante e que traz uma amostra das principais preparações mexicanas feitos com massa de milho. Amostra por assim dizer porque na realidade o prato é muito bem servido! Vieram sopecitos, pequenos sopes de feijão preto com bastante epazote; tlacoyos, empanadinhas cobertas com nopal e recheadas com feijão temperado com anis; e três quesadilhas, uma de tinga (frango desfiado com tomate), outra de cogumelos e a terceira de huitlacoche, o fungo que cresce no milho.
Provamos ainda Cecina, Mixiote e um Molcajete cheio de delicias mexicanas: carne enchillada (envolvia em pimenta), queijo panela (queijo fresco), nopal, frango, chistorra e carne arrachera.
Tanto a cecina como a arrachera são carnes de gado. A primeira é cortada bem fininha e é salgada por um par de dias. Na hora de preparar e só colocar na prancha pra fritar com um pouco de azeite. Já a arrachera é um corte particular da carne de gado que vem do diafragma do animal. Nem uma parte do bichano se desperdiça no México.
Já a chistorra é uma linguicinha de porco, bem parecida com o que comemos nos churrascos do Brasil.
O Mixiote é um prato de origem asteca feito de carne cozida ao vapor que pode ser de frango, coelho ou carneiro. Tradicionalmente a carne é coberta em algum molho feito com chiles e depois envolvida em uma película que se retira da folha do maguey pulquero chamada, precisamente, de mixiote. Ali dentro do papelote de maguey a carne vai cozendo lentamente enquanto ganha sabor.
Mimi nos contou que a receita tradicional tem sido parcialmente alterada, já que a comercialização da película de maguey está proibida. A causa seria o saque dessas folhas de áreas protegidas. Assim, o mixiote vem sendo substituído por papel manteiga e outros que são resistentes ao calor. [Não encontramos fontes seguras sobre a proibição de venda do mixiote. Numa busca rápida, inclusive, vimos que eles são facilmente encontrados no comércio eletrônico].
Mas ainda teve mais!
Escamoles, chapulines e chinicuiles, pra gente nunca mais esquecer dos insetos mexicanos! De todos, os escamoles são os nossos preferidos: salteados com manteiga e cebola ficam bem saborosos!
A sobremesa foi pra lá de diferente também: Xoconostle recheada com uvas passas e amêndoas. Mimi nos ensinou que Xoconostle é a tuna de uma planta jovem, de regiões mais áridas, de cujo cactus tiram as folhas para fazer salada, o famoso Nopal.
A tuna jovem é ácida e seu interior é pura sementes. Então eles retiram as sementes e recheiam com uma mescla doce e uma caldinha de chocolate pra quebrar a acidez.
Ufa! Quanta coisa não é mesmo? Calma, não comemos isso tudo, mas que levamos o que sobrou num potinho, isso sim. Obrigada Mimi e equipe do Restaurante Mayahuel pela jornada fantástica pelos sabores de Teotihuacan!