Dia 224 – 13 de abril – Sexta-Feira: Provando Brisket (e outras coisinhas) na Nicarágua

Se for a Manágua, não deixe de conhecer o restaurante Asa2

A ideia do projeto sempre foi conhecer, aprender, investigar, pesquisar. Pra isso nos propomos estar abertos a todas as experiências gastronômicas que a vida nos brindasse, despidos de qualquer preconceito.

Assim visitamos pequenos produtores no interior, cruzamos pastos, lama, rio, areia, rípio. Andamos de lancha, de carro de bacana. Entramos em casas sem pintura, sem cobertura, sem água. Também ficamos em lugares com piscinas de borda infinita, casas com inúmeras suítes e hotéis luxuosos. Comemos na rua, nos mercados, em restaurantes super simples, familiares, restaurantes típicos, turísticos, desconhecidos, recém inaugurados, com décadas de vida, em bistrôs requintados. Provamos a receita milenar, a cozinha autoral de chef, a comida caseira da vó.

Acreditamos que a riqueza está na diversidade, na pluralidade, nas opiniões divergentes que agregam.

Por tudo isso é que achamos a história do restaurante Asa2 bem interessante. Não imaginávamos que poderíamos encontrar em um só lugar tantos conceitos diferenciados, que saem do trivial, e ainda por cima, na Nicarágua!

Bem, a história do restaurante Asa2 é muito curiosa e sem roteiro. Tudo começou com Jim, um alemão que há doze anos vive na Nicarágua depois de ter chegado ao país por força de circunstâncias alheias a sua vontade. Jim estava planejando viajar com um amigo, por terra, da Alemanha até a Índia. Uma semana antes da partida, os EUA sofrem o ataque de 11 de setembro. Passar por países como Afeganistão na época não parecia mais uma boa ideia. Mudaram completamente o roteiro e vieram parar na América Central. A decisão mudaria por completo sua vida.

Jim Kolvenbach, o cozinheiro criativo do Asa2

É que aí entra Lígia, doutoranda, professora de história da Universidade de Managua, hoje companheira de Jim e sócia no restaurante, cujas atribuições encara com muita seriedade.

Depois de viver alguns anos em Leon cozinhando para eventos, foram morar próximo à capital. Recomeçando do zero, Jim começou operar um pequeno (muito pequeno) comedor em frente a sua casa. O local contava com apenas duas mesas. Era mais informal que a sala da sua casa, caro leitor. Foi nesse lugar que Jim decidiu apostar no seu talento.

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Asa2 original: onde tudo começou

Mesmo tendo sido vegano por muito tempo, apostou em carnes assadas, especialmente defumadas. Com o tempo, o brisket defumado de Jim começou a ganhar fama entre os colegas de Universidade de Ligia e o boca a boca se encarregou do resto.

O local obviamente ficou pequeno. Propuseram sociedade a Salvador Gutierres, colega de doutorado de Ligia. Salvador, por sua vez, convenceu sua esposa Yasmim Sirias a investir na ideia do jovem e audacioso casal. Juntos, os quatro sócios formataram um novo negócio, a poucos metros do mais que pequeno Asa2.

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Com a ajuda dos sócios investidores o novo Asa2 ficou bem mais amplo e segue melhorando a estrutura sem perder a informalidade

No país que mais produz carne na América Central não é de se estranhar que os pratos com carne defumada fizessem sucesso. Mas os sócios queriam mais. Além das carnes, passaram a oferecer comida vegetariana e vegana, curiosamente em ascensão na Nicarágua. (Pode ser modismo, pode ser que não. É possível também que quanto mais carnívoro o país mais força ganha o movimento vegano).

Bem, o cardápio mudou, ampliou e continua surpreendendo os clientes todos os finais de semana. Como mesmo diz Jim, sua cozinha não é tipica, nem internacional, “é cozinha com alma“. A ideia é simples: cozinhar o que lhe dá vontade, o que lhe desafia naquele momento. Assim é possível ir ao Asa2 e comer fettuccini, hambúrguer, os famosos assados ou comida grega, como nós pudemos provar. Para saber qual será o cardápio do próximo final de semana os clientes ficam ligados nas postagens de Lígia no perfil do restaurante na internet.

A criatividade de Jim é grande, mas em geral ele segue o que os produtores locais tem pra lhe oferecer naquela semana. A proposta é comprar tudo diretamente do agricultor, sem intermediários.

Outro detalhe: o restaurante não tem autorização para vender bebida alcoólica. Problemão? Nada! Os clientes podem trazer sua própria cerveja, vinho ou rum. O copo com ou sem gelo é oferecido pela casa.

Com apenas dois meses de funcionamento no novo local, o restaurante que só abre para o público de sexta a domingo, vive cheio.

Em resumo, os sócios estão felizes e os Nicaraguenses – cansados de comer arroz com feijão- também estão. O publico alvo? O mais diversificado possível. Vimos adolescentes, famílias, grupos de amigos, casais e idosos. Vegetarianos e não vegetarianos. Pessoas mais simples e high society. Segundo o pessoal do Asa2 não é raro encontrar alguém ligado à Presidência da Republica no rancho informal do chef alemão.

Certo é que todo o conceito diferenciado do restaurante do quarteto não estaria caminhando tão bem se a comida não fosse boa.

Jim conta com sua habilidade e com a opinião dos demais sócios para criar o menu. Tudo é provado por todos antes de ir parar no cardápio.

Como já dissemos, nós tivemos a chance de provar algumas preparações com toques da cozinha do Oriente Médio, como a musaka, carne de cordeiro, charuto de folha de uva vegano (com recheio de arroz e especiarias) e pastas como iogurte com pepino bem picadinho, muhammara e hummus, esse último com um toque de coentro. Ficou super interessante a combinação!

Isso tudo acompanhado de pão feito pelo próprio Jim com farinha integral e fermentação natural.

É claro que também provamos o brisket, defumado e assado por doze horas, que fez a fama do lugar. E também a preparação champi-queso que leva quesillo, gorgonzola e champignon no pao pita-nica, ou seja, bem mais grosso e bem diferente do original.

E pra não dizer que provamos poucas coisas, ainda apreciamos um bom fettuccini al dente com bolonhesa feito com o brisket defumado.

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Pão feito com fermentação natural e o hummus, a pasta de grão de bico com um toque de coentro foi o que mais nos chamou atenção.
Brisket, carne de peito bovino defumado e assado por seis horas
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Muuuuito queijo Nica pra ficar bem gostoso
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Fettucinni com molho a bolonhesa feito com a carne de bristek defumada

Ver de onde saíram e no que se transformaram em menos de dois anos nos mostrou que não importa o tamanho do seu sonho, o importante é dar o primeiro passo e acreditar. Sucesso ao Asa2!

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