Como é um mercado público em Cuba?
Não chegamos a ser mega surpreendidos em nossa visita ao Agromercado 19 y B, no Bairro de Vedado, nessa quarta-feira. Mesmo sendo mais organizado e com uma oferta bem maior de hortifrútis do que um mercado estatal, o mercado privado 19 y B – considerado pelos cubanos como o melhor de Havana – é pequeno e, com exceção da Malanga, não trouxe nenhuma fruta ou verdura que já não conhecíamos.
Veja bem. Estamos visitando mercados públicos pelas Américas há oito meses, não é tarefa fácil nos apresentar algo que já não tenhamos visto nessa parte do globo.
Mas se você não teve a mesma oportunidade que a gente, vale um rápido passeio por lá: você vai encontrar guanábana (a fruta doce da família da anona que vemos desde que entramos no Peru), mamey (a fruta com cara de sapoti, gosto de mamão e consistência de pêssego bem maduro usada para fazer vitamina) e a malanga.
Malanga não é fruta, mas um tubérculo muito parecido com nhame. Com cara escura e peluda por fora e cor branca por dentro, tem gosto suave e consistência bem mais branda que uma mandioca. Ao ralá-la crua ela praticamente se desmancha e fica perfeita pra preparar o bolinho frito oferecido em 9 entre 10 restaurantes de comida criolla em Havana. No cardápio procure por Fritada de Malanga.
Mas Cuba é Cuba, e mesmo quando aparentemente as coisas se repetem, algo acontece para nos lembrar que não estamos em um país comum.
Enquanto gravávamos uma entrevista com Ania, a simpática representante do site cubapaladar.org, um dos responsáveis pela administração do mercado nos interrompeu e solicitou nossa autorização do governo para podermos gravar.
Ania informou ao agente que não tínhamos já que se tratava de algo simples, de um vídeo que iria ao ar somente na web. Ele disse que ainda sim precisávamos da autorização e permitiu que gravássemos somente com Ania, mas estávamos proibidos de gravar com os atendentes.
Já havíamos sido alertados sobre a exigência de portar uma autorização para gravarmos – o que em Cuba custa tempo e dinheiro – mas a rigor ela só seria requisitada em estabelecimentos estatais. Em se tratando de um mercado privado não imaginamos que teríamos problema. Ania esclareceu que apesar das vendinhas serem privadas, o espaço do mercado é cedido pelo governo, poderiam, portanto, fazer tal exigência.
Tudo bem, de verdade não foi nada que tenha atrapalhado nossa visita ou entrevista. Aliás, o ocorrido foi mais um dos capítulos que nos permitiu conhecer um pouquinho mais de como funcionam as coisas em Cuba.
Já com relação à gastronomia estávamos bem mais informados. Antes mesmo de pisar na terrinha já tínhamos acessado o blog cubapaladar.org e caçado várias dicas importantes. O site é muito interessante e é uma mão na roda pra quem está indo visitar Havana. Ali você encontra críticas gastronômicas feitas pelos exigentes colaboradores do blog, formados por chefs, professores e outros profissionais da área da alimentação. Além disso, um ranking popular mostra qual estabelecimento tem melhor reputação entre os clientes. Um verdadeiro termômetro de onde comer e beber na terra de Fidel.
Sem os mesmos critérios rigorosos e imparciais do Cuba Paladar, nossa dica pra quem está com passagem comprada para Havana é: vá até a Coppelia da Avenida 23. Foi pra lá que fomos depois de conhecer o agromercado.
Coppelia é uma grande sorveteria do governo, grande mesmo, podendo atender simultaneamente 1.000 pessoas. Ainda assim é muito provável que você enfrente alguma fila até conseguir uma mesa.
O motivo de tanta procura? O preço! Uma bola de sorvete custa 1,00 CUP, equivalente a R$0,15. Mesmo sem ter uma grande variedade de sabores e faltar muito pra ser um italiano, sorvete a R$0,15 não deixa de ser um grande atrativo.
Todos vão à Copellia. Famílias, namorados, casal de idosos, pessoas sozinhas com celulares em punho lendo algum artigo que baixaram horas antes em alguma zona de wifi. Copellia é mais que uma sorveteria, é uma instituição cubana onde as pessoas se encontram para se refrescar do sol quente de Havana. O sorvete estatal subsidiado é tão procurado que não raro o sorvete acaba!
E foi assim, entre mercados privados, sorveterias estatais, mojitos e cubas libres cubanos que passamos a quarta-feira, dia em que Vinicius comemorou seu aniversário fazendo o que mais gosta: viajando, descobrindo e provando novos sabores.