Dia 152 – 31 de Janeiro – Quarta-Feira: Educação. Respeito. Gentileza. Às vezes falta…

Que nem tudo sai conforme o planejado já estamos cansados de saber e já estamos acostumados a lidar com situações adversas. Com o que definitivamente não nos acostumamos é com a falta de educação e de respeito.

Tinha tudo para ser um grande dia em Quito. Estávamos ansiosos por mais uma rica experiência gastronômica no Equador.

Havia dias que tínhamos agendado uma visita em um restaurante supostamente conceituado no centro de Quito. Por telefone falamos com o chef do local que aceitou participar do projeto e indicou o dia e o horário que seria mais adequado para ele nos receber. Quarta-feira, 16 horas, nos disse. Desligamos o telefone e imediatamente marcamos o compromisso em nossa agenda.

– Teremos que ficar mais um dia em Quito, disse Vinicius. Ele só poderá nos receber na quarta, às 16 horas.

Pois bem, às 15:50h estávamos na porta do restaurante. Nos apresentamos ao garçom que veio ao nosso encontro e que logo em seguida adentrou à cozinha para chamar o chef.

Em vinte segundos o garçom retornou dizendo que o compromisso era às 15 horas e que o chef não iria mais nos atender.

Imediatamente mostrei ao garçom a anotação na agenda, que estava em minhas mãos, explicando que deveria ter algum engano eis que o compromisso estava marcado para as 16 horas. O garçom simplesmente reiterou as palavras de que o chef não nos atenderia.

Perguntei se ele já tinha saído ou se ainda se encontrava no restaurante, ao que nos foi dito que sim, ele estava lá e mais uma vez ratificou a mensagem de que não nos atenderia.

Ficamos chocados, paralisados por um instante, sem acreditar em tal grosseria.

Ainda que houvesse qualquer mal entendido com o horário o que custava para aquele senhor se apresentar e falar com a gente sem intermediários? Estávamos lá para apreciar o seu trabalho, divulgar seu estabelecimento e com intuito único de conhecermos um pouco mais da gastronomia do seu país.

Mesmo que não pudesse mais nos atender, mesmo que algum imprevisto tivesse surgido, mesmo que o engano tivesse sido nosso (o que certamente não foi), ainda assim não poderia o ilustre cidadão ter mostrado a cara, nos estendido a mão e nos cumprimentado? Teríamos entendido!

Mas tudo o que recebemos foi um não. A decepção foi tamanha que saímos de lá desorientados e super chateados. Esperamos que os clientes não recebam o mesmo tratamento e que tenha se tratado de um evento único na vida do infeliz chef.

Mas a vida se encarrega de consertar as coisas, não é mesmo?

Quito, Equador
Batendo perna pelo centro de Quito

Não demorou muito para que aquele episódio ficasse no passado e que vivêssemos horas incríveis ao lado de pessoas realmente sensíveis e generosas.

Caminhando pelo centro da capital avistamos uma loja da Pacari, considerado algumas vezes, o melhor chocolate do mundo. Entramos na loja, fomos super bem recebidos, fizemos a degustação de vários chocolates e ficamos sabendo um pouco mais sobre a história da empresa e da importância do cacau na economia do Equador.

Por muitos anos o país manteve-se entre os grandes exportadores de cacau. Mais recentemente resolveu aproveitar a matéria-prima para produzir excelentes chocolates. Na Pacari eles não levam leite e são produzidos, no mínimo, com 60% cacau.

A diversidade de produtos a disposição do consumidor é incrível. Além de chocolates puros há uma linha que recebe frutas, ervas e até tubérculos na sua composição. É o caso do chocolate que ganha pedaços de mandioca!

Como os chocolates De Mendes, produzidos lá pertinho de Belém, no Brasil, a Pacari também tem uma linha de chocolates feitos com frutos da Amazônia, já que o Equador também é agraciado por parte dessa imensa floresta.

Para ver como foi nossa degustação de chocolates Pacari, é só clicar abaixo!

Nossa tarde já estava bem mais doce, e ficou muito melhor depois que nos dirigimos ao Teatro Nacional de Quito. Guido e Sônia nos convidaram a assistir um espetáculo musical japonês que celebrava 100 anos de relações diplomáticas entre o Equador e o Japão.

Chegamos antes deles e entramos na fila. Enquanto aguardávamos a abertura do teatro, começamos a conversar com a senhora que estava logo a nossa frente. As filhas queriam comer algo e ela ficou guardando lugar na fila. Disse a ela que se quisesse poderia acompanhá-las; o seu lugar na fila estaria garantido.

Ela agradeceu, perguntou de onde éramos e nisso começamos a conversar. Falamos do nosso projeto, ela falou da sua vida. Disse ter morado durante anos na França e que adora receber pessoas em sua casa. Depois de alguns poucos de minutos de conversa já havíamos sido convidados a passar o dia na sua casa, cozinhando e dançando salsa. Vários roteiros turísticos tinham sido elaborados pela simpática Miriam em poucos minutos.

Nos sentamos ao lado no teatro e continuamos a conversar. Guido e Sônia logo chegaram e o espetáculo começou. Sem qualquer expectativa sobre o que viria, o show nos surpreendeu muito. Dragões, tambores, muita sincronia e animação. A apresentação foi realmente muito bonita.

Chegando ao final, Miriam me abraçou e me entregou um cartão contendo seu número de telefone e endereço onde mora. Disse para entrarmos em contato se precisássemos de algo, se resolvêssemos ficar mais dias em Quito ou se um dia voltássemos a visitar sua cidade. Um gesto de generosidade que nos fez esquecer qualquer contratempo ruim.

Apesar de não estar no script, o espetáculo transformou nosso desapontamento com o desrespeito alheio em alegria sincera em saber que para cada atitude deselegante há centenas de momentos em que vivemos na plenitude do acolhimento, da hospitalidade, do carinho e do afeto. E é isso o que nos importa no final.

Saindo do teatro ainda fomos ao bairro mais badalado de Quito, onde se concentram restaurantes e barzinhos. Ali desfrutamos mais um pouco da companhia de Sônia e Guido, esse casal que por dois dias abriu as portas da sua casa, nos acolheu como filhos e de quem jamais esqueceremos.

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