Nem por um decreto eu queria sair da cama. O estômago incomodava muito. Vinicius foi até a cozinha e logo ele e Sônia trouxeram um chazinho pra mim. Reuni forças pra sentar à mesa com eles. Guido já havia saído cedo para trabalhar.
Aos poucos a sensação de mal estar foi melhorando, mas longe de ficar boa. Alimentação controlada, muito chá e muita água. Mas um convite não podia ser recusado: conhecer um mercado público na capital do Equador.
No intervalo do trabalho Guido veio nos apanhar em casa e nos levou a té lá. Tomei uma sopa levinha de galinha, enquanto Vinicius aproveitou a oportunidade de comer cerdo al horno, aquele mesmo tipo que vimos em Cuenca.
Demos uma breve volta pelo mercado, voltamos para casa só para pegarmos nossas coisas e irmos em direção a pequena Calacalí para conhecer a fazenda de cogumelos The Fungus Garden, do casal Ricardo Viteri e Lola Martinez.
No caminho para fazenda um marco, ou melhor, uma linha. Cruzamos a Linha do Equador e estávamos oficialmente no Hemisfério Norte. Como sabemos? Há uma atração turística chamada Metad del Mundo. Chegamos a parar na frente e pensamos em entrar, mas nosso compromisso era a menos de uma hora e como definitivamente não gostamos de nos atrasar, seguimos adiante. Afinal, nosso assunto é gastronomia!
Para chegar até a fazenda de cogumelos pegamos uma estradinha simples, em meio a paisagem bucólica do interior. Algumas pastagens com gados, algumas pequenas plantações, um clima bem tranquilo e sossegado. Foi nessa vibe que o casal Ricardo e Lola resolveram começar um sonho, projetando no cultivo de cogumelos o sustento para sua família.
Biólogo de formação, Ricardo recebeu treinamento de ingleses que vieram até o Equador e resolveram investir em um projeto sem interferência governamental, mas comandado pela iniciativa privada. Sorte a de Ricardo que passou algumas semanas na Inglaterra estudando e aprendendo tudo sobre criação de fungos comestíveis.
E que sensacional foi essa visita. A plantação de cogumelos é feita no ar, o fungo não tem contato com o solo. Em poucas semanas, o produto está limpinho, pronto para o consumo. Cultivam várias espécies, de cores, tamanhos e sabores diferentes. O Equador não tem tradição em consumir cogumelos, mas o produto de Ricardo já ganha mercado nos grandes restaurantes da capital.
Além do produto in natura, eles vêm comercializando na forma seca e também em conserva. A maior rede de supermercados do Equador apostou na qualidade do produto já é possível encontrá-lo nas prateleiras. Sorte a dos equatorianos, porque o produto é uma verdadeira delícia!
Depois de conhecermos todo o processo de cultivo, fomos para cozinha onde Lola preparou bruschettas com o cogumelo azul. Nem a dor no estômago me segurou. Aquele cheirinho de cogumelo puxado na manteiga não deu pra resistir.
O sabor não podia ser nada além de excepcional. Das horas que passamos na fazenda pudemos perceber o cuidado com o meio ambiente, a preocupação com os resíduos e a dedicação dos funcionários no cultivo dos cogumelos. Sem contar na simplicidade e simpatia da família “Fungus Garden” cujo trabalho ganhou toda nossa admiração e respeito.
Voltamos para casa e Sônia havia preparado carinhosamente Locro de Papas e chá de orégano. Tomei e logo fui me deitar. Haveria de finalmente ficar boa para que não comprometesse mais a viagem.