Dia 215 – 4 de abril – Quarta-Feira: Queijos com Denominação de Origem na Costa Rica

Sair de Punta Uva não foi fácil. O clima relax da praia mais bonita que vimos até agora era um convite para ficarmos um pouco mais. Até internet free tinha na praia e entre um mergulho e outro podíamos trabalhar. Perfeito!

Melhor escritório ever!

Nossa passagem pelo Caribe da Costa Rica foi muito especial. Conhecemos um pouco da história dos locais, ouvimos os relatos daqueles que presenciaram a queda da produção de cacau nos anos oitenta e a chegada dos estrangeiros que compraram as grandes fazendas por preço de banana. Desfrutamos da comida da comida típica, como a lagosta e o rondón de mariscos. Tentamos aprender “broken english“, a língua falada pelos nativos que mistura inglês “com as palavras comidas” e um pouco de espanhol. Vimos animais exóticos. Provamos Pati, a empanada com massa de trigo e achiote com recheio de carne e pão moídos. Acompanhamos o trabalho da Associação dos Pescados del Caribe del Sur. Conhecemos outros viajantes que seguem rumo ao Alaska. Desfrutamos do mar quente do caribe.

Rondón de Mariscos: caldo feito com leite de côco fresco e muito tomilho
Jair Ugalda, o pescador ativista do Slow Fish
Provando Patí, a empanda típica da Costa Rica vendida na praia

Mas a aventura não pára! Tínhamos muito o que ver ainda na Costa Rica.

Nossa próxima parada foi Santa Cruz de Turrialba. A pequena cidade fica localizada na província de Catargo, em meio a Cordilheira Vulcânica Central e é conhecida pela produção de ricos queijos, o primeiro produto da Costa Rica com Denominação de Origem Controlada. Pra quem não está muito familiarizado com a sigla D.O.C aí vai uma explicação resumida. Trata-se uma designação atribuída a produtos diferenciados produzidos em regiões geograficamente delimitadas, que seguem um conjunto de regras consignadas em legislação de cada país. Na Itália é muito comum nos vinhos e queijos.

Em regra, o selo D.O.C garante que o produto tenha qualidade e protege a genuinidade do modo de fabricação. Para poder estampar a certificação na embalagem, o produto passa por análises para verificar se cumprem as regras estabelecidas pela Lei reguladora. No caso dos queijos, por exemplo, são verificadas as condições sanitárias do local e a qualidade da água empregada no processo. Assim, o selo que a priori parece ser só um pretexto para tornar um produto mais caro, tem na verdade um objetivo bem mais nobre: desenvolver as regiões rurais e preservar a autenticidade do produtos agroalimentícios. É claro que todo esse investimento acaba impactando no valor da comercialização dos produtos. Cremos, porém, que ao final o saldo é positivo já que ao estimular a produção preserva-se o patrimônio cultural imaterial que há por traz desses alimentos.

Quem nos contou a história do queijo de Turrialba e nos levou a conhecer o sabor diferenciado do produto foram os membros do Comitê Gestor da ASOPROA, a Associação dos Produtores Agropecuários de Santa Cruz de Turrialba, representado por Don Carlos. A Associação tem papel fundamental no desenvolvimento do produto uma vez que promove cursos de capacitação dos produtores associados como de manipulação dos alimentos e boas práticas agropecuárias.

A justificação técnica para o registro do queijo Turrialba como denominação de origem está sustentada em um processo de pesquisa realizado entre os anos de 2002 e 2006 e, segundo os membros diretivos da Associação foi essencial para o desenvolvimento do produto “já que a qualificação protege legalmente os alimentos produzidos nessa zona contra produtores e indústrias de outros locais que querem se aproveitar do renome duramente conquistado pelos produtores da região de Turrialba“.

Depois de trocarmos uma ideia com o pessoal da Associação fomos in loco conhecer duas queijarias que produzem tanto queijo fresco como Maduro. O fresco é um queijo natural, com baixo teor de gordura, de cor branca e sabor suave, obtido a partir de 100% de leite de vaca, cru ou pasteurizado. Se parece com o nosso queijo Minas fresco, um pouquinho mais consistente. Já o queijo Turrialba maduro é aquele submetido a um processo de maturação natural por 15 a 30 dias, deixando-o com a coloração um pouco mais amarelada e com sabor mais forte.

Bernardo Pereira, proprietário da queijaria El Tulcán
Oscar Gamboa e as vaquinhas da Queijaria La Esperanza

O mais legal é que a partir do reconhecimento da qualidade do produto originário, a região acabou desenvolvendo outros produtos derivados que também ganharam destaque no território nacional, como o tamal e o chicharrón de queijo.

O bolo de queijo conhecido como Tamal é assado em panelas de ferro
Chicharrón de Queijo, o doce famoso da região de Santa Cruz de Turrialba

O tamal é um bolo bem denso feito com queijo Turrialba e amido de milho. Uma delícia! Já o chicharrón é o queijo cozinhado em calda doce, que pode ser de leite condensando ou melado de cana.

Se você vier a Costa Rica e estiver passando pela região para conhecer o vulcão Turrialba, não deixe de passar pela cidade. Além dos queijos e doces deliciosos você irá encontrar pessoas super simpáticas e de bem com a vida. Fomos tão bem recebidos em Santa Cruz que lamentamos ter passado tão rapidamente por lá.

Nosso agradecimento carinhoso ao pessoal da Associação, aos associados e aos doceiros que nos receberam e nos mostraram um pouquinho da sua cultura, dos seus sabores e da sua cordialidade.

Às seis da tarde, quando a noite chegava, pegamos estrada novamente em sentido à capital San Jose. A professora Maria Patrícia nos aguardava para coordenamos as atividades do dia seguinte. Muitas emoções na Costa Rica!

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