Dia 130 – 9 de Janeiro – Terça-Feira: Um mês de Peru!

O hostal em que nos hospedamos oferecia café-da-manhã, coisa rara por aqui. Claro que se tratava de um café solúvel e um pãozinho com manteiga, mas estava realmente de bom tamanho. Pão com manteiga tem seu valor, tem muito valor. Na verdade nós adoramos!

Na quela manhã tínhamos algumas coisas para resolver que não podiam mais ser adiadas. Precisávamos de um HD novo para armazenar nossas fotos e vídeos. Precisávamos também renovar o seguro obrigatório do carro. Completamos 30 dias de Peru e o SOAT feito lá em Puerto Maldonado vencia naquela terça-feira. Andar sem o seguro pode acarretar na apreensão do veículo e correr esse risco nem passou pela nossa cabeça.

Em geral é muito fácil fazer o SOAT. A maioria das cidades pelas quais passamos há inúmeros estabelecimentos credenciados a fazer, de hotéis a papelarias, todos com placas chamativas indicando “SOAT aqui!”. Em Huaraz, contudo, a coisa não foi tão simples. Apenas os bancos estavam autorizados a emitir o seguro e pelo prazo mínimo de um ano. Como nossa previsão era de ficarmos apenas mais uns dez dias no país seria um desperdício de dinheiro fazermos o SOAT por mais tempo.

No final seguimos as indicações da moça que nos atendeu no banco e procuramos pela agência da MAPFRE. Ali sim conseguimos fazer o seguro por quinze dias. E mais adiante também conseguimos achar o HD por um bom preço! Pendências resolvidas!

Às onze da manhã fomos ao encontro de Junior, um jovem chef de cozinha cheio de ideias, sonhos e criatividade que se identificou com o nosso projeto e nos presenteou com uma preparação que nos surpreendeu muito. Junior abriu um pequeno restaurante em Huaraz quando voltou a morar na cidade depois de ter passado um tempo estudando gastronomia em Lima.

O restaurante, segundo Junior, era muito pequeno e ele sentiu necessidade de ampliar. Estava buscando um lugar maior para reabri-lo. Enquanto isso, ajuda outro restaurante a refazer o cardápio. Foi nesse outro estabelecimento que ele preparou um prato típico peruano com uma cara totalmente nova.

                                                                                        Promessa da cozinha peruana em Huaraz

Locro com zapallo. Originalmente é um prato que tem por base um cozido de abóbora bem consistente, levando queijo e batatas. Na versão de Junior ele transformou o tradicional em uma criação cheia de ingredientes e sabores.

Diferente do que é feito na versão original, onde todos os ingredientes são cozidos juntos em uma panela, o chef preparou os ingredientes de modo separado, respeitando o tempo de cocção de cada elemento. Só ao final, no empratamento é que ele reuniu os ingredientes clássicos do locro (caldo de abóbora, milho, batatas, queijo) com seu toque pessoal (favas, estigmas de milho tostados, algas andinas). Um prato vegetariano cheio de sabor e texturas diferentes.

                                                                                 Locro autoral: detalhe para o cushuro, a alga das lagunas andinas

A novidade pra gente foi provar o Cushuro, essas pequenas uvinhas gelatinosas que na verdade são algas que só crescem nas lagoas andinas acima de 3000 metros acima do nível do mar. Onde mais encontraríamos tamanha iguaria? O sabor dela é suave, mas a textura acrescenta vida ao prato, sem contar nas propriedades nutricionais. Dizem que só de proteínas ela chega a ter 42% da sua composição!

Entre uma garfada e outra, o jovem chef nos disse que a cidade produz muito presunto cru, numa versão mais simples do que os espanhóis chamam de “jamóm ibérico”. Não podíamos deixar de conhecer! Saindo de lá fomos direto ao mercado público da cidade onde o presunto era vendido a 16 solis o quilo. Não, não era presunto de parma, tão pouco pata negra. Mas pelo preço valia a apena arriscar…. compramos meio quilo.

Já passava das duas da tarde quando seguimos para outra atração do Parque Nacional Huascarán, agora para ver de pertinho a Laguna Parón, a maior lagoa da Cordilheira. De lá é possível apreciar, em um dia de céu aberto, oito grandes picos nevados que contrastam com as águas claras da lagoa.

O caminho levaria algumas horas e nos renderia agradáveis surpresas. Encontramos um pessoal a beira da estrada separando lindas pimentas alaranjadas. Vinicius não teve dúvida: brecou o carro, deu a ré e foi até lá falar com os peruanos que por dois solis lhe venderam uma sacola cheia de lindos ajís. Logo mais adiante aconteceu o mesmo, dessa vez com pêssegos. Por um nuevo sol compramos uns quatro quilos de pêssego amarelo, doce e recém colhido do pé.

                                                                                              Ají às pencas na beira da estrada!

Entre plantação de frutas e flores, em especial de cravos, chegamos na entrada do parque quando a cancela acabava de ser fechada.

Mais uma vez decidimos pernoitar na porta de acesso ao parque com a intenção de subir até a Laguna logo que abrisse. A diferença dessa vez é que não havia um estacionamento ou qualquer tipo de estrutura. Foi praticamente no meio da estrada que passamos a noite. De um lado havia um paredão de dezenas de metros de altura. Do outro, um grande desfiladeiro de onde vinha o som de uma cachoeira formada pelo degelo.

                                                                           Na nossa cozinha: tirando as sementes para branquear as pimentas

Mais um vez sozinhos, no meio da imensidão da natureza, nossa terça-feira estava acabando. Decidimos preparar um jantar caprichado para comemorar. Com uma leve chuva caindo, cozinhamos dentro de casa mesmo. No cardápio, os achados do caminho e os regalos dos últimos dias: salteado de carne com as pimentas frescas; purê de batatas andinas de Ayacucho; pêssegos e macarrons do El Taller de sobremesa.

Quer ver imagens dessa aventura pela cordilheira branca? Dá o play!

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