Vá sem pressa e de barriga vazia
A cerca de duas horas de carro de Turim, Gênova e Mônaco, a região do Alto Vale do Tanaro é corredor de passagem entre destinos turísticos importantes da Europa, mas ainda é pouco conhecida pelos estrangeiros.
O anonimato pode ser explicado pela alta concentração de roteiros midiaticamente mais bem explorados ao seu entorno, como o Langhe, ou ainda pelos destinos tradicionais da Itália,
como Cinque Terre, Florença, Veneza e Roma, que há anos são os queridinhos dos turistas.
A concorrência é irrefutável, mas o Alto Vale do Tanaro também tem as suas singularidades. Próximo ao mar, mas com altitude de montanha, alguns locais do sul do Piemonte tem o privilégio de desfrutar do clima dos Alpes Marítimos: das altas montanhas pode ser avistado o mar. Para quem gosta de aventura, no inverno é possível esquiar tendo o mar da Ligúria como cenário. Nada mal!
Outra vantagem da região, no olhar de slow travelers, está na manutenção das coisas exatamente como elas são, ou seja, o Alto Vale do Tanaro é um destino totalmente autêntico.
Nas pequenas cidades italianas que compreendem o Vale – que podem ter apenas 100 ou um pouco mais de 20 mil habitantes – , a vida acontece naturalmente, no seu próprio ritmo e apreciar o modo de viver particular do interior da Itália é sem dúvida uma grande “atração”. Você verá as roupas estendidas nas varandas sobre as vielas e os italianos gritando e gesticulando enquanto bebem o quinto expresso do dia.
Além disso, o comércio segue o horário convencional – com uma pausa maior após o almoço – e ninguém tentará te vender insistentemente um porta-copos ou um ímã de geladeira.
Já os restaurantes, osterias ou agriturismos oferecem a mesma refeição – pelo mesmo preço – a um local e a um visitante. Sem pegadinhas. Ao meio-dia, no lugar de um “menu turístico” você encontrará um “menu de lavoro”: a sequência de pratos simples, típicos e saborosos a um preço bem atrativo para os padrões europeus. Uma experiência gastronômica genuína por um preço justo.
Destino Gastronômico: Os produtos típicos do Alto Vale Tanaro
Alguns dos alimentos mais apreciados no mundo são produzidos no Vale Tanaro, a começar pela avelã. A árvore da fruta de casca dura que no Brasil custa uma fábula é vista por todos os lados nessa região. Parte da produção é manipulada pelos pequenos produtores que a transformam em versões artesanais da famosa Nutella ou em deliciosos torrones.
Outro fruto que chega caríssimo no Brasil e que por aqui se vê em abundância é a castanha portuguesa. Nessa parte da Itália ela é conhecida como Castanha Garessine já que é produzida majoritariamente na cidade de Garessio. Aqui a castanha é ligeiramente menor que as produzias em outras regiões, o que a confere um sabor doce e delicado. Apesar de poder ser usada em preparações salgadas, o mais comum é vê-la em tortas e biscoitos.
Cerejeiras também fazem parte da paisagem do Vale. Nessa época de início da primavera elas estão começando a florescer – ao lado dos pessegueiros – e deixam os caminhos ainda mais bonitos.
A rapa de capraúna é outro produto bem típico da zona já que cresce muito bem em áreas mais altas. Semelhante a um rabanete, com um gosto que lembra um pouco o repolho, a rapa não está disponível em todas as estações do ano. Seu consumo, por essa razão, é quase sempre em forma de conserva e até mesmo em geleias, uma curiosa versão doce dessa raiz também chamada de beterraba branca.
Queijos, geleias e biscoitos artesanais crocantes e de sabores incríveis são facilmente encontrados em casas ou negócios de pequenos produtores.
Tour Gastronômico pelo Alto Vale do Tanaro
O trajeto de Côte d´Azur a Milão ou de Torino a Gênova pode ser muito mais gostoso com as delícias típicas do Alto Vale Tanaro. Nossa passagem pela região foi recheada de ótimos sabores e por isso compartilhamos um pouquinho do que pode ser encontrado por lá.
CAPRAÚNA |Refúgio Pian dell´Arma
Se o dia estiver ensolarado, a pedida é subir a serrinha até Capraúna, de onde é possível sentir o frio da montanha ao tempo que se contempla o mar. Para quem quer mais do que uma refeição com vista, o refúgio também organiza passeios de bicicleta e trekking.
A cozinheira e proprietária Marina Caramellino oferece menus com pratos típicos feitos apenas com produtos locais. No nosso almoço – preparado única e exclusivamente por ela – teve flan de abóbora, pimentões ao molho de aliche e tagliatelle feito de trigo sarraceno. Esse tipo de trigo não contém glúten e por isso a massa é mais quebradiça e com uma consistência menos lisa que a feita com farinha de trigo normal. Bem interessante para quem faz dieta restritiva ou mesmo para variar o cardápio de forma saudável.
Outra preparação de Marina que nos agradou bastante foi a Panizza, uma polenta feita com farinha de grão de bico. A preparação pode ser consumida fria ou frita. Além de mais saudável, a versão fria tem mais sabor.
Destaque, ainda, para a rapa de capraúna, o rabanete autóctone que foi servido na versão salgada como brusqueta; e doce, como marmelada para acompanhar a panna cotta.
Um menu completo, com quatro antepastos, primeiro e segundo pratos e sobremesa custa em média 25 Euros.
[su_box title=”Rifúgio Pian dell´Arma” box_color=”#e5e6e4″ title_color=”#090a09″ class=”Fishmarkt”]Via Pian dell’Arma
12070 Caprauna
Reservas pelo e-mail: [email protected]
www.rifugiopiandellarma.it [/su_box]
ORMEA |Omero Marmellateria
A Omero é uma lojinha cheia de produtos típicos, deliciosos e diferenciados. Os proprietários Federica e Giancarlo tem uma grande preocupação com a origem das frutas, ervas e castanhas que eles transformam em geleias, biscoitos e licores, num pequeno laboratório a vista dos visitantes.
Um ponto super positivo do pequeno negócio é a quantidade de açúcar utilizada nos produtos. Nada é exageradamente adoçado.
O nosso preferido foi o doce de castanha garessio com mirtilo, mas a de castanha com cacau (Scau) também é sensacional. Um doce bem curioso é o de feijão branco típico de Bagnasco com baunilha. É “inspirado na cultura japonesa”, contou Federica.
Entre os biscoitos, o salgado – feito com queijo da região – foi uma deliciosa surpresa. Ninguém conseguia parar de comer!
Cereja, pera, pêssego, maçã são outros produtos típicos da zona que entram na composição dos produtos Omero. O legal é que dá para levar como “suvenir” um produto artesanal diferente, exclusivamente local e que te fará matar saudades da Itália quando chegar em casa.
[su_box title=”Omero Marmellateria” box_color=”#e5e6e4″ title_color=”#090a09″ class=”Fishmarkt”]Via Dott. Bassi, 45
12078, Ormea
Horário: 09:00 às 13:00, 15:00 às 19:00
www.omeromarmellateria.it
[/su_box]
GARESSIO |Pasticceria Cagna
Eis uma confeitaria com vitrines recheadas de doces e tortas que realmente podemos chamar de familiar. Giorgio e Sandra são os pais de Alessandro e Georgia e os quatro, juntos, levam a diante o ofício iniciado pelo nonno em 1934. A confeitaria que esteve fechada durante os ataques da segunda guerra, afortunadamente manteve-se em pé, junto do antigo forno que até hoje assa biscoitos incrivelmente deliciosos.
O mais tradicional deles é o Garessini, feito de avelã. A particularidade do biscoito está ausência de gordura animal ou acréscimo de gordura vegetal. Toda a gordura vem da própria avelã, produto cultivado na região, com o gosto característico que dispensa comentários.
O Garessini é feito em duas versões. Uma, leva avelã e cacau. A outra, avelã e amêndoas. A melhor? Impossível escolher sem cometer injustiça, apesar da primeira ser a mais tradicional.
Entre as receitas mais contemporâneas está o biscoito feito com a farinha de milho ottofile, uma variedade antiga que foi praticamente abandobada com a chegada do milho americano transgênico de maior rendimento. Peça um pacote de Paste di Meliga, um belo cappucino e seja feliz.
[su_box title=”Pasticceria Cagna” box_color=”#e5e6e4″ title_color=”#090a09″ class=”Pasticceria Cagna”]Via Vittorio Emauele II, 89
12075 Garessio
Horário: 08:00 às 12:30, 15:00 às 19:30
Facebook.com/ pasticceriacagna
[/su_box]
GARESSIO | Ca´del
Paolo e Valerio Sappa são dois irmãos que vivem da atividade que um dia já foi de seu nonno. Na nossa visita pela área onde fabricam os queijos e onde criam as vacas leiteiras vimos que os irmãos herdaram muito mais que um ofício. A família trabalha em sintonia com os animais e em uma felicidade facilmente perceptível, ainda que o trabalho exija despertar às 4 da manhã.
Não esperem por uma grande fábrica de queijos, mas tenha certeza que será uma das visitas mais especiais do seu percurso. Se chegar cedinho terá grandes chances de ver a nata sendo transformada em manteiga em uma pequena batedeira com mais de 150 anos.
Sextas à noite, sábado e domingos no almoço os irmãos recebem em seu pequeno Agriturismo quem quiser provar a comida feita com os produtos que eles mesmos produzem. Reservar antecipadamente é essencial!
[su_box title=”Ca´del Duduro” box_color=”#e5e6e4″ title_color=”#090a09″ class=”Ca´del Duduro”]Reg Prossaldo 5 (91,56 km)
12075 Garessio
www.facebook.com/CaDelDuduro/
[/su_box]
VALCASSOTO|Formaggeria Beppino Occeli
A tradição italiana de fazer queijos maturados começou nas casas, mas hoje não é fácil encontrar na Itália quem se dedica ao ofício de forma artesanal como vimos em Garessio na companhia de Paolo.
Por outro lado, algumas empresas conseguiram unir a técnica de produção de queijos em grande escala mantendo uma qualidade inquestionável, como é o caso da Beppino Occelli.
Uma visita à sua antiga cantina de maturação que abriga quinze mil peças é, no mínimo, fascinante. No escuro da cantina, a água corrente, o ar da montanha e, principalmente, o tempo, trabalham para formar o queijo ideal para consumo.
Os queijos de Beppino Occeli podem ser maturados até dois anos. A graça aqui é que cada “estagionatura” ganha um envolto diferente. O queijo fica em contato direto com folhas de castanheiras, pimenta preta, grappa ou uva nebbiolo que foi usada para fazer Barolo, só para citar alguns exemplos.
Visitas à cantina podem ser feitas inclusive com guia em inglês. No final, é possível degustar queijos, salames e tomar um café na Formaggeria ou mesmo almoçar no Restaurante Locanda del Mulino que fica no primeiro plano. Em qualquer caso não deixe de provar o queijo maturado nas folhas da castanheira: é divino!
E se quiser um docinho, pergunte à simpática proprietária Alessandra pelo creme de castanhas e torça para que ele esteja no menu no dia da sua visita.
[su_box title=”Formaggeria Beppino Occeli” box_color=”#e5e6e4″ title_color=”#090a09″ class=”Formaggeria Beppino Occeli”]Via Santa Libera, 12
Valcassoto, Pamparato
www.occelli.it
[/su_box]
VIOLA | Azienda Agrícola Marco Bozzolo
Quem é apaixonado por castanha portuguesa não pode deixar de visitar a fazenda produtora do jovem Marco, que divide com o seu pai, Ettore, a paixão pelas castanheiras. A fazenda é aberta para visitas didáticas e para a degustação dos produtos feitos com a castanha.
Depois de colhida, e antes de ser utilizada, a castanha passa por um longo processo de secagem que ocorre em um secador original, em uma antiga uma construção em pedra e madeira. São quarenta dias defumando a castanha com o fogo baixo, acesso dia e noite. “São quarenta dias de magia”, como diz a família.
A colheita, quando a visita pode ser ainda mais interessante, é feita no outono. Pai e filho recebem visitantes todos os dias da semana, mediante prévio agendamento que pode ser feito pelo site.
Um quilo de castanha já seca custa cerca de 12,00€.
[su_box title=”Azienda Agrícola Marco Bozzolo” box_color=”#e5e6e4″ title_color=”#090a09″ class=”Azienda Agricola Marco Bozzolo”]
Via Castello 59 – 12070 Viola
[email protected]
Agende uma visita pelo site www.marcobozzolo.com
[/su_box]
VICOFORTE |Cascina Lisindrea
Esse é o lugar que você definitivamente deve conhecer se quiser provar salames artesanais italianos. Cláudio e Laura é o casal proprietário da pequena fazenda que cria porcos, vacas e coelhos com alimentação natural. Ali é possível ver como são criados os animais que serão abatidos posteriormente. Os estábulos, assim com as gaiolas dos coelhos, têm dimensões que permitem a movimentação do animal, além de contar com uma área externa para que possam ficar ao ar livre.
Uma as grandes preocupações do casal é a alimentação dos bichinhos e, por isso, eles mesmos preparam os farelos que são dados aos animais apenas para complementar a dieta. A maior parte do que consomem é presente da natureza: pasto e feno. A alimentação dos coelhos é baseada na castanha portuguesa.
O cuidado na criação e alimentação dos animais garante a qualidade do que será ingerido mais tarde pelos clientes. Ali mesmo eles transformam a carne do animal em produtos da charcutaria com a garantia de um produto fresco, de qualidade, sem os aditivos químicos que a indústria costuma acrescentar. O cliente que chega à Cascina Lisindrea encontra copa, monza, pancetta, lardo, bresaola e outros salames típicos da região.
[su_box title=”Cascina Lisindrea” box_color=”#e5e6e4″ title_color=”#090a09″ class=”Cascina Lisindrea”]
Via S. Stefano, 7
12080 – Vicoforte
[email protected]
cascinalisindrea.it
[/su_box]