Dia 163 – 11 de Fevereiro – Domingo: Pan Rebelde

Debatendo sobre alimentação na Colômbia

Rebeldia pode ser encarada de várias formas. Negativamente, quando não se traduz mais do que uma forma de quebrar normas legais, morais ou éticas em um processo não legítimo.

Ela também pode ser tratada indiferentemente, quando se trata apenas de contrariar alguma situação imposta ou alguém sem nenhum fundamento, sem nenhuma razão aparente. Rebeldia sem causa concreta, como diria a geração de minha mãe.

Já a rebeldia com causa é saudável e positiva porque faz pensar, faz agir, faz mudar.

É nesse último contexto que se encaixa o “Pan Rebelde”, um movimento que se desenvolve na região da Armênia, em Quindio, Colômbia, para debater sobre alimentação e transformar, através dela, a vida das pessoas.

Como fazem isso? Eles promovem os produtos locais e tem como bandeira resgatar tanto aqueles que já não se encontram mais com tanta facilidade, como as receitas antigas que não passam de registros nos cadernos de receitas das avós.

Assim, uma vez por mês ou um pouco mais que isso, pessoas que vêm na alimentação mais que um gesto de sobrevivência, mas um ato político, se reúnem para debater assuntos voltados à gastronomia, em torno de uma grande mesa. Nela, cada participante coloca um pouco do que sabe em um refratário e compartilha com os demais os sabores, o conhecimento e a receita escolhida.

Foi num dos encontros do “Pan Rebelde” que passamos nosso domingo. Vinicius preparou uma deliciosa berinjela recheada, prato armênio aprendido com sua mãe, para render homenagem ao país de seus ascendentes e aos moradores da cidade que leva o nome daquela nação.

Pan Rebelde: compartilhando comida e conhecimento

Quem nos levou ao encontro, claro, foi nosso grande amigo Don Hernán. Com seu chapéu Panamá estampando a bandeira do Slow Food, mais uma vez ele nos colocou em conexão com as pessoas que, assim com ele, estão fazendo acontecer a revolução alimentar na Colômbia.

Ficamos bem impressionados – e felizes – com a iniciativa do “Pan Rebelde” e de tudo que vimos por lá, podemos concluir que eles estão no caminho certo e, em comparação com os brasileiros, estão em dupla vantagem.

A primeira é que temos percebido a baixa quantidade de sal utilizada nos alimentos, tanto nas casas como nos restaurantes. As arepas tão consumidas por aqui, por exemplo, não levam nada de sal. Enquanto o resto do mundo ocidental tenta regulamentar o uso de sal nos alimentos, aqui na Colômbia (ao menos na região de Quindio), por uma questão cultural e até onde pudemos conhecer, esse definitivamente não é um problema que eles precisam enfrentar.

[É fato que, em se falando de sabor, a ausência de sal deve ser compensada com outros temperos para que não fique comprometido o gosto do alimento. Alimento saudável não deve ser sinônimo de alimento sem sabor, certo?]

A segunda vantagem de nosso vizinho sul americano é a quase inexistência de cadeias de fast food . Talvez haja um pouco de nacionalismo nessa constatação, mas ao que nos foi dito, as poucas que tentaram sobreviver nessa região central das terras de Shakira não lograram muito sucesso.

[Veja bem. Esta constatação não expressa uma opinião absoluta contra as empresas de fast food, o que requer mais que duas linhas de motivação. Do contrário estaríamos nos encaixando naquele conceito dito acima: “rebeldia sem causa”. Todavia, a falta de perseverança das redes de fast food – em geral com oferta de comida de estilo americano padronizado-, tem um forte indicativo de que as pessoas tendem a consumir a comida crioula, local, que, salvo exceções, é mais saudável].

Além de conhecer um pouco mais do que estão pensando a respeito da comida, o encontro permitiu que provássemos vários pratos de um a só vez. Com uma forte tendência ao vegetarianismo e a o veganismo, poucos pratos apresentavam carne.

Destaque para o sudado de cidra com cogumelos, um refogado de chuchu ao molho de tomate com champignons, e para as tortas de cenoura e espinafre. Nos doces, o yuncado fez bastante sucesso: doce de côco com mandioca e queijo ( a receita você encontra clicando aqui!)

A banana e o plâtano também estavam por lá, claro, na forma de banana frita, de torta de banana e na sopa com ovos e banana.

Não deu para provar de tudo porque eram inúmeras as opções, mas deu para conhecer um pouquinho de como o movimento se coordena e tenta, de modo informal, divertido e prazeroso, trazer o debate sobre a alimentação à mesa.

Sensacional!

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