Agradavelmente doce. Acho que posso resumir assim essa sexta-feira.
Por volta das dez da manhã, depois de já termos dispensado umas boas horas diante do computador, Gianfranco Vargas nos ligou para avisar que já estava na porta da casa de Elizabeth. Gianfranco é pesquisador da Universidade de San Martin de Porres, em Lima, e consultor sobre azeite de oliva. Ele está escrevendo um livro sobre o cultivo das oliveiras no Peru e manja tudo sobre o assunto. Quem nos falou sobre a sumidade do azeite no Peru foi Paulo Machado, o criador do Brasil Food Safaris, um projeto super bacana que leva as pessoas a conhecerem gastronomia local sem que precisem fazer disso o seu estilo de vida por três anos (se é que vocês me entendem! rs).
Para que a gente pudesse compreender melhor a temática, ele nos levou ao Bosque El Olivar ou o Parque das Oliveiras, onde se encontram mais de 1700 pés de olivas espalhados por quarteirões no Bairro de San Izidro, no centro da capital. Entre ruas e casas, as oliveiras seculares florescem e ornamentam o local que hoje é tido como um belo parque de caminhada e descanso dos peruanos, mas que já teve importância histórica para o desenvolvimento do cultivo da azeitona no país.
No bosque é possível encontrar oliveiras de mais de 300 anos, trazidas pelos Espanhóis e cultivadas pelos padres católicos que faziam do azeite o combustível para acender as lamparinas das igrejas. Hoje, considerando a qualidade da azeitona que cresce no Peru, quase a totalidade do que é produzido no país é destinado ao consumo de mesa.
Gianfranco nos contou um pouco da história da vinda das oliveiras para o Peru e também da sua preocupação com a qualidade dos azeites comercializados hoje em dia. Mais uma vez nos demos conta de que o que a indústria coloca no rótulo nem sempre é verdadeiro (nos referimos ao famoso teor de acidez estampado nas garrafas) e se não houver regulamentação e fiscalização sérias sobre os alimentos colocados à venda seremos constantemente alvo de falsificações que podem custar caro a nossa saúde.
Depois de um passeio super instrutivo – uma verdadeira aula sobre as oliveiras – voltamos para casa. Não tínhamos muito tempo. Só almoçamos e nos preparamos para conhecer o que seria o mais doce dos nossos compromissos.
Raúl Cenzano e Alessandra Sosa, chefs pasteleiros formados pela Le Cordon Bleu, comandam os trabalhos de uma cozinha totalmente diferente da que estamos acostumados a visitar. A começar pelo aroma. O local onde são trabalhados os chocolates na El Taller Pâtisserie exala aromas irresistíveis….A outra diferença está nas minúcias: pequenos detalhes como chocolates em forma de folhas e flores ficam perfeitamente organizados para decorar as mais deliciosas tortas.
Provamos duas das lindas criações do EL Taller: uma torta de maracujá, chamada atardecer e outra feita com Lúmuca. Lúcuma é uma fruta típica do Peru de sabor doce, sem qualquer acidez e de consistência pesada, como uma pupunha ou abóbora. Se tiver oportunidade, não deixe de experimentar. A fruta também é usada nos relámpagos, o doce que chamamos no Brasil de “bomba”. Ali elas ganham tons dourados e até cobertura preta, dando um acabamento fino ao doce francês.
Apesar de deliciosas, não foram as tortas ou as bombas que nos causaram mais suspiros. Foram as chocotejas as responsáveis por nos hipnotizar e querer voltar a Lima só pra poder degustar novamente essas belezinhas. A chocoteja é um doce típico do Peru que se originou na cidade de Ica, ao sul de Lima, nos anos 60. Se trata basicamente de um bombom recheado com creme (doce de leite ou outro) e frutas secas, mas que já ganhou novas versões, com biscoitos e marshmallows, por exemplo.
Foi Alessandra Sosa, a Chef Patissier responsável por trabalhar o chocolate, que nos mostrou, em movimentos rápidos e ao mesmo tempo delicados, como ela transforma a massa líquida de cacau em chocotejas lindas, decoradas e brilhantes.
Ao parti-lo ao meio, o recheio dá a dica do que encontraremos ao levarmos o doce à boca. A versão mais tradicional leva nozes, doce de leite e casca de laranja cristalizada. Simplesmente sublime!
Mas nossa degustação foi além: provamos ainda a de “pie de limón”, que leva, além da fruta cítrica, um toque de pistache e um crocante de biscoito. Uma delícia!! Ah, a Chocoteja de sal de maras não fica pra trás das outras duas. Feita com ganache de chocolate amargo, sal e nibs de cacau caramelizado são realmente irresistíveis!
[Veja como foi nossa visita ao El Taller!]
Mas o El Taller vai além. Sua especialidade são os Macarrons, a delícia crocante por fora e macia por dentro, criada na França. São fabricados cerca de 5000 macarrons por semana na pasteleria de Raúl! E dos mais diversos sabores. Tivemos o deleite de poder provar todos e não nos restou dúvida alguma: Lima está muito bem servida em termos de confeitaria.
Pra você que é louco por doce assim como eu e quer aprender a fazer essas delícias, os chefs pasteleiros dão aulas para todos os níveis, inclusive para estrangeiros. O nome da Escola é “Paste101” (clique aqui para saber mais). Você aprende, faz e depois prova tudinho! Não tem como ser melhor!