“-Dani, Dani”, escutei uma voz lá de longe, “são quase seis horas”.
Era Vinicius me acordando para que levantássemos. O sono estava tão profundo quanto o silêncio do Rancho Tünguis. A escuridão lá fora e o friozinho da região de montanha me ganhou na preguiça. Mas tínhamos compromisso cedinho e não podíamos nos atrasar.
Foi com cara de sono que cheguei na Radiorama, a radio da cidade de Uruapan onde o Chef Ricardo participa de um programa matinal.
Vinicius não, já estava bem desperto quando nos posicionamos em frente ao microfone para falarmos alguns minutinhos sobre o nosso projeto. E poder falar sobre o que estamos fazendo é uma grande alegria porque não se trata simplesmente de uma viagem gastronômica de volta ao mundo, mas de um projeto que envolve a cultura local, envolve as pessoas, se trata de observar como a comunidade se relaciona com os seus ingredientes e sua comida. É uma história de muitos atores, não se trata apenas de nós dois.
Desde que saímos de casa, uma rede de apoio se formou de uma forma que nunca poderíamos imaginar. Pessoas que se encantam com nosso projeto e com a nossa coragem. Muitos sonham com o que estamos vivendo e passam a viajar conosco pelas redes sociais. Outros são mais desconectados e se comunicam apenas por telefone, pelo bom e velho whatsapp.
Saímos da rádio e fomos à Escola do chef Ricardo, o Chief Instituto de Gastronomia. Ali, antes que seguíssemos viagem, ele preparou um delicioso café da manhã com ovos mexidos, queijo branco, abacate, suco e café.
A despedida teve presente especial. o Chef nos deu um receituário da cozinha típica Purépecha, a comunidade indígena que habita Michoacán. Saímos de lá também com chocolates, uma seleção de doces típicos michoacanos e duas garrafas de charandas, uma espécie de água ardente mexicana. Saímos também com vontade de voltar e poder conhecer mais dessa terra de gente acolhedora e muito querida. E para comer mais abacates também, é claro.
A estrada até Guadalajara foi tranquila: uma parada policial, uma parada para abastecer (20,53 o litro) e uma parada para almoçar tacos de carnitas. Sim, outra vez, aproveitando que era nossos momentos finais no Estado de Michoacán. Estavam muito boas, mas longe das carnitas que provamos no domingo, lá no Rancho de Juan.
Alguns tacos depois voltamos para o caminho até Guadalajara pela estrada não pedagiada, que é mais longa, mas é mais interessante, já que passa pelo movimento das pessoas e do comércio na cidade.
Seguimos nosso passo despacito, despacito até chegarmos na segunda maior cidade do México. Guadalajara é cheia de história, cheia de arquitetura antiga ao mesmo tempo que é bem moderna também. Mas nossa passagem não tinha nada a ver com atrações turísticas, tinha a ver com Jerry, um cara super gente boa que conhecemos lá no povoado mágico de Teposcolula, há um mês atrás.
Quando Jerry viu nosso carro estacionado na frente do Hotel Casa Franco ficou impressionado de ver um carro com placas do Brasil num povoado minúsculo do interior do México. No dia seguinte, nos encontramos enquanto tomávamos o café-da-manhã no Hotel e numa conversa de uma hora, nos conhecemos, trocamos ideias sobre viagens, trocamos telefones e recebemos o convite para irmos lhe visitar em Guadalajara. E, esse dia chegou!
Por volta da quatro da tarde estávamos estacionando na garagem do prédio de Jerry que de uma forma mais que generosa deixou-nos com as chaves de seu apartamento com total liberdade e privacidade. É o cara mais gente boa das galáxias de Guadalajara, não é mesmo?!
À noite Jerry ainda nos levou para jantar em um restaurante cool, com menu enxuto e bem original. Alguns de seus amigos se juntaram a nós e ali desfrutamos horas valiosas em ótima companhia.
Sair para jantar com amigos é algo que há tempo não fazíamos! Foi muito legal passar esse momentos com eles. Super obrigado Jerry por nos proporcionar esses momentos especiais!