Dia 248 – 7 de maio – Segunda-Feira: Tentando decifrar Cuba

Cadeias de fast food. Internet Ilimitada. Cartões de Crédito. Shoppings Centers. Marcas famosas. Esqueça tudo isso. Esqueça também os congestionamentos quilométricos, a correria desenfreada e a insegurança.

Resumir Cuba a esse cenário de contrastes é ser simplista demais para um país tão complexo, mas é um começo.

Isso porque não é fácil entender a nação de Fidel de hoje. Não é exatamente como aprendemos na escola, não é exatamente como vemos na TV, não corresponde nem 30% do que imaginávamos.

O socialismo rege a vida do povo, mas o capitalismo está ali, nos bastidores, a espreita, dando um passinho de cada vez, só esperando uma oportunidade.

Se você é estrangeiro em solo cubando precisa estar muito atento as sinais do socialismo para não achar que se perdeu em uma ilha caribenha capitalista qualquer. Comida cara, transporte caro, internet absurdamente cara, entrada para atrações igualmente caras. Fique atento também às pessoas tentando levar vantagem…conta errada no restaurante, informação turística direcionada com evidente propósito de ganhar uma comissãozinha mais tarde, exatamente igual a qualquer outra ilha do Caribe.

Tudo isso não é nenhuma novidade para quem está acostumado a viajar para destinos turísticos, mas sinceramente não esperávamos encontrar isso em Cuba. Afinal, num modelo econômico que prega a igualdade mais do que o enriquecimento, porque uns haveriam  de querer tirar vantagens dos outros? Nossa conclusão é que os cubanos veem todos os estrangeiros como pessoas que tem muito mais dinheiro do que eles, então pode pagar mais caro por tudo.

Nossa ingenuidade ou desinformação acabou nos custando uma pontinha de decepção com Cuba. A capital da ilha da magia de Che é na verdade um destino turístico muito bem explorado, tanto pelo governo, como pelos cubanos que decidiram empreender e abrir um negócio voltado aos estrangeiros. Nada além do que já faz o resto do mundo, certo?

A Cuba de hoje
Estátua humana pronta pra foto e pra gorjeta: Havana também vive do turismo

No nosso quarto-dia em Havana, depois que já havíamos digerido nossas expectativas com Cuba, nos abrimos pra conhecer o outro lado desse lugar cheio de mistérios, encantos e regras próprias. Nossa missão era entender como funcionam os estabelecimentos estatais e particulares voltados à alimentação.

Quando chegamos em Cuba os locais nos disseram que os lugares estatais eram sujos, de má qualidade e que vendiam com moeda nacional. (Repito: isso foi o que os próprios cubanos nos falaram). Já os privados seriam os estabelecimentos mais bonitos, com qualidade superior e que comercializavam somente com o CUC, a moeda que vale mais que o dólar.

Na prática vimos que não é bem assim.

Fomos em uma padaria estatal que era muito bonita e limpa. Além disso vendiam tanto em moeda nacional como em CUC. Em contrapartida comemos em tendinhas particulares em condições de higiene deficitárias e pagamos em moeda nacional. Ainda que de regra a comida feita nos estabelecimentos estatais não levem produtos de tanta qualidade, comemos coisas boas e ruins em ambos os tipos de estabelecimentos.

Lanchonete estatal: cardápio em moeda nacional, sabor ok e higiene duvidosa
A Cuba de hoje
Restaurante Estatal Café del Oriente: ambiente requintado e preços em CUC
Restaurante particular Atelier: ambiente aconchegante, bom serviço, ótima comida e cardápio variado em CUC
A Cuba de hoje
Estabelecimento particular: comida de rua simples e muito boa! Preço em moeda nacional.
A Cuba de hoje
Folhado fresquinho comprado na confeitaria do governo. Pagamos em CUC, mas também aceitavam moeda nacional.
A Cuba de hoje
Tenda de churros do governo: atendimento nota 10!

Tentar desvendar o “novo modelo econômico” de Cuba através da gastronomia foi muito revelador. Não dá pra dizer que saímos de lá sabendo de tudo, mas deu pra matar um pouco a nossa curiosidade e a nossa fome de informação sobre a comida típica e a gastronomia local.

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