Depois de doze horas deitada esperando passar os efeitos da comida condimentada mexicana, o novo dia não me trazia boas notícias. As fortes dores abdominais continuavam. Queria mesmo continuar ali, na cama, mas não podia deixar de ir conhecer Dolores Hidalgo.
O chef Alexandro havia coordenado um encontro com a comunidade de campesinos que fica há duas horas de Puebla. Encarei a dor de frente e nos fomos logo depois que tomei o chá preparado pelo Vi com o “kit sobrevivência” que ganhamos da querida Nelly lá de Xalapa (obrigada Nelly!).
Ao meio dia estávamos lá. Casa simples, chão batido, velas e crucifixos pelos cantos. Muitas mesas e cadeiras retráteis indicavam que era um lugar de muita confraternização, assim como qualquer casa mexicana do interior que se preze.
Adentramos o terreno e cumprimentamos Leonel, seu filho Luis e sua esposa Consuelo. Logo depois chegou Dona Francisca, a sogra e os outros três filhos que vinham do colégio: Consuelo filha, Citlati e Santos.
A família vive do cultivo de tuna, pitahaya e pitaya. Aliás, a comunidade inteira vive desses frutos que em geral são vendidos in natura, a preço baixo, para os intermediários que abastecem os mercados da cidade e ficam com a fatia mais gorda da cadeia produtiva.
E é aí que entra Alexandro, o jovem chef que depois de 10 anos morando na Espanha retornou a sua terra natal e vê agora a oportunidade de ajudar os pequenos produtores a terem seu produto valorizado. E mais. Trata de ser vitrine desses produtos na cidade, onde as pessoas já não identificam os ingredientes cultivados ali mesmo, na região de Puebla.
“Tem gente que vai até o Parrilla del Patrón e pergunta: ‘O que é isso?’. É tortilha de milho azul, respondo. Então me dizem espantados: ‘Temos milho azul??’ As pessoas da cidade já não conhecem os produtos nativos mexicanos. Lá eu trato de expor e ensinar um pouco sobre os nossos produtos típicos,” nos contou Alexandro que assume seu papel de chef e cidadão dentro e fora da cozinha.
Se do lado de dentro do balcão Alexandro trata de educar os clientes desavisados, do lado de fora do restaurante procura incentivar os produtores dos povoados próximos de Puebla. Com a Pitaya, a intenção é transformá-la ali mesmo no campo em produtos como sorvetes, sucos e biscoitos, garantindo que com valor agregado, os campesinos possam receber uma retribuição digna por seu trabalho.
O chef se encarrega de orientá-los, ensinar receitas e encorajá-los a seguir em frente e permitir que os filhos de Leonel e Consuelo possam viver ali no povoado e não tenham que seguir rumo a cidade grande para pensar em um futuro melhor.
“O artesanal não é moda. Precisamos valorizar, saber quanto custa semear, a energia empregada no cultivo, todo o trabalho que tem os campesinos e, ao final, qual o valor total empregado na comida que provém desses alimentos”, reflete Alexandro.
Chegamos em Dolores Hidalgo perto do meio dia. Antes mesmo de conhecermos a plantação, provamos doces e saborosas pitayas e pitahayas, frutas parecidas mas que vem de plantas bem diferentes. Enquanto a pitahaya é bem cor-de-rosa e cresce em plantas como orquídeas, as pitayas – que podem ser de um bordô bem intenso ou amareladas – são cheias de espinhos e crescem em cactus.
Depois de conhecermos a plantação, voltamos para casa de Leonel com mais algumas pitayas no bolso e uma receita nova na cabeça. O chef resolveu colocar pitayas no arroz que ficou colorido, cheiroso e saboroso. Com a ajuda de Consuelo, preparou também cecina – carne bem fininha assada no comal – e berdolaga em salsa verde, um caldo feito com de tomate verde, chile serrano, coentro, alho, favas e batatas.
A berdolaga é conhecida no Brasil como beldroega e é uma PANC: uma plantinha rasteira e suculenta, e com propriedades medicinais. Se você tem beldroega em casa pode colocar pra cozinhar junto com outros legumes que fica bem especial. Além de dar uma consistência super interessante aos pratos, há relatos que a beldroega é riquíssima em minerais e ômega 3.Aliás, com base em um estudo feito por uma engenheira química contratada por Alexandro, verificou-se que a pitaya mexicana também tem muitas propriedades nutricionais, com papel auxiliar no controle e combate a diabetes, doença tão presente nos dias de hoje por conta de todo açúcar que o mundo consome.
Ao final, nossa refeição foi super saudável, tanto pelos alimentos quanto pela companhia. Saímos do pequeno povoado de Dolores Hidalgo felizes em com conhecer a história dessa família linda e com muita expectativa para o nosso próximo encontro: aguardem, sexta-feira tem mais um pouco de Dolores Hidalgo!
Gostaria de saber onde consigo mudas de Pitaya mexicana, aqui no Brasil.
Olá Douglas! Gostaríamos de poder te ajudar, mas a nossa visitação do cultivo da pitaya foi mesmo no México. Cremos que no Brasil seja difícil encontrar. Abraços, Dani e Vini.
Onde posso comprar muda de pitaya mexicana
Olá achamos uma nova espécie de pitaya aqui no sul da Bahia com as seguintes características.. Casca lisa e rosa com a polpa branca e cheia de sementinhas pretas. Você conhce alguma fruta parecida ou essa espécie?