[Obs. Esse post foi publicado fora da sequência por equívoco involuntário da subscritora :D]
Antes que o sol nascesse já estávamos no centro de Belém. Acordamos bem cedo para fugir do trânsito matinal de uma capital. Ao chegar nas proximidades do Mercado Ver-o-Peso já deu pra ver a movimentação intensa dos pescadores que entre meia noite e oito da manhã oferecem seu pescado nas calçadas da região central da cidade.
A quantidade de gente é muito grande e a de peixes também. A muvuca por ali vai ficando menor conforme as horas se passam. Ao mesmo tempo, logo mais adiante, as barraquinhas de comida e de frutas são montadas. (Assista ao vídeo da nossa passagem pelo ver-o-peso clicando AQUI)
Peixes agora são vendidos dentro do Mercado, em quantidades menores, para o consumidor final mesmo.
Ali é possível conhecer uma grande variedade de peixes a um preço assustadoramente barato. Dez, treze, quinze reais o quilo. O que assusta também é o tamanho dos peixes. Filhote, o mais famoso de todos, é cortado a machadada, com emprego de muita força.
Mas tem piraputinga, pintado, cavala, serra bijupira, tambaqui, tucunaré, etc.
Era hora de tomarmos café, que substituímos por um copo de suco de cupuaçu. Pedimos também uma coxinha bem temperada de caranguejo. Tudo por R$ 4,00.
Na barraquinha de polpas de frutas era possível provar, em forma de suco, das mais diversas frutas da Amazônia. Escolhemos a Taperebá, uma frutinha laranja, que tem gosto cítrico, sem chegar a ser azeda. O interessante dessas barraquinhas de polpa é que você compra 1 litro de polpa concentrada para levar pra casa e faz render para virar muito suco natural. O preço varia de R$5,00 a R$13,00 o litro. Como não tínhamos como levar para casa naquele momento, bebemos o suco feio pela moça da barraquinha ali mesmo.
Lo go ao lado vendiam bombons com recheios de frutas da Amazônia e os olhos não deixaram escapar a oferta. Pelo preço de R$1,00 cada, não resistimos e pedimos um de cupuaçu e outro de castanha do pará. O gosto de chocolate hidrogenado, entretanto, acabou com a nossa alegria… pelo preço já deveriamos ter previsto né?
Quando terminamos nossa visita pelo Mercado e já tínhamos visto mais peixes, frutas e hortaliças diferentes se somados à viagem inteira, partimos em direção à Hidroviária de Belém, de onde saem as balsas com destino à Macapá, Santarém, Belém, e nem imagino para onde mais. rs
Era hora de tomamos uma decisão sobre os próximos passos da viagem. O nosso próximo destino era Manaus e para chegar lá é possível ir de balsa, num trajeto que leva de Belém, uns 7 dias. Mas a balsa só sairia na próxima quarta-feira e custaria, somente para levar o carro R$1.500,00. Para nós dois, passageiros, custaria mais R$ 300,00 por pessoa. Navios cargueiros estavam proibidos de levar passageiros e não teríamos como ir junto com a nossa casinha.
O jeito era pegar estrada mesmo, ao menos até Santarém, que fica ali na metade caminho, uns 1.300 km de distância da capital. Saímos de lá decididos então a pegar estrada cedinho no dia seguinte, depois de passar o dia conhcecendo um pouco da gastronomia de Belém.
Fomos então até a Estação das Docas, um local muito bonito, com vários restaurantes e vista para o rio.
Provamos o famoso sorvete Cairu, dito o melhor sorvete do Brasil. Por R$7,50 provamos uma bola de sorvete de pavê de cupuaçu. Estava realmente muito bom, mais pelo gosto da fruta – que se tornou uma das nossas preferidas – do que pela qualidade propriamente do sorvete.
O ponteiro do relógio apontava quase meio dia e, depois de tomada a sobremesa, resolvemos almoçar. Mas não na Estação das Docas, que está mais voltada à cozinha internacional que regional. Fomos caminhando ao Mercado Ver-o-Peso novamente e ali numa daquelas barraquinhas minúsculas, pedimos o tradicional filé de filhote com açaí. Arroz, feijão e macarrão de guarnição. Tucupi com pimenta davam o tempero. O file de peixe empanado estava muito bom. Carne branquinha, macia e com gosto que em nada lembra os peixes barrentos lá do sul.
A combinação com açaí é que não achamos tudo aquilo. Imaginamos que a qualidade do açaí não era das melhores, amargava muito. Enfim, nosso almoço para duas pessoas, com uma cervejinha Draft (que de tão leve você se pergunta se está mesmo tomando cerveja) saiu por R$39,00.
Voltamos a Estação das Docas para pegarmos nosso carro. Passamos mais uma vez na Sorveteria para termos uma segunda impressão do sorvete. Só que dessa ve pedimos um picolé. Por R$2,50 nossa experiência foi mais interessante. Provamos picolé de bacuri, uma fruta que ainda não conhecíamos. Gostamos muito e junto com o cupuaçu entrou para a lista das nossas preferidas.
Depois de tanta bateção de perna, a ideia era poder descansar. Mas Belém não é bem a cidade que você pode parar em qualquer canto com o carro e ficar sossegado. Optamos pela primeira vez na viagem a passar a noite em um hotel. O carro ficaria seguro, teríamos internet e um bom lugar para descansar para, no próximo dia, pegar estrada.
Conseguimos um desconto na diária de um hotel bem simples, mas que tinha estacionamento grande o suficiente para entramos com o carro (nem sempre é fácil encontrar).
Passamos a tarde pesquisando, colocando o trabalho em dia.
À noite nosso compromisso era com a gastronomia feita por Paulo Anijar e Ilca Carmo. Chefs paraenses que comandam o Santa Chicória, restaurante super agradável, com comida internacional e várias releituras das comidas típicas do Pará. (Assista tudo clicando AQUI!)
Paulo e Ilca tem um currículo extenso. Só para terem uma ideia, Paulo estagiou no DOM, o famoso restaurante de Alex Atala. Ilca é engenheira de alimentos e chef de cozinha, uma combinação preciosa. Juntos, os dois desenvolvem as receitas que vão parar no cardápio e também tomam conta de Mel, a filhinha linda deles de apenas quatro meses.
Ilca não estava no Santa, estava em casa com a bebê. Paulo foi quem nos recebeu e recebeu muuuito bem. Passamos longas horas conversando sobre o nosso projeto, sobre o restaurante, sobre viagens, sobre o seu cardápio, sobre as dificuldades de se ter um restaurante, sobre as alegrias de se ter um restaurante….enfim, a conversa rendeu muito e em meio a degustação de um longo e delicioso menu que ele nos ofereceu, surgiu um convite.
Antes de falarmos sobre isso, porém, precisamos registrar as delícias que provamos no Santa Chicória.
De entrada, Paulo nos serviu bolinho de tapioca com charque e queijo; bolinhos de vatapá; bolinhos de maniçoba; rolinho de pato com geleia de tucupi; carangueijo com farinha de bragança e chips de mandioca. Isso tudo acompanhado de um mojito inusitado. Feito com folha e cachaça de jambu. A dormência na língua é uma experiência muito legal.
O prato principal foi filé de filhote e arroz com pesto de jambu, com coulis de taperebá (a mesma frutinha da qual provamos o suco no mercado!).
E para finalizar, uma sobremesa daquelas difíceis de apagar da memória: Um brûlée de bacuri (a mesma frutinha do picolé da Estação das Docas) com gelado de castanha do pará e chocolate branco e farofa de neston. A combinação ficou divina!
Agora voltando ao convite feito por Paulo: acompanhar um porco sendo morto, destrichado e preparado. Vinicius vinha falando sobre isso há um tempo e o convite era super tentador! O problema que ainda era quinta-feira e passar mais um dia na capital resultaria em mais gastos.
Pensamos, pensamos, pensamos e vimos que não podíamos deixa a oportunidade passar. Adiamos nossa saída para Santarém para o próximo Domingo.
A conexão com Paulo havia sido algo inexplicável…a energia, o destino, sei lá. Chame como quiser. Decidimos que iríamos ficar e que no sábado de manhã estaríamos no local marcado, onde o porco seria abatido.