Santiago Aguilar Zilli, mexicano, 25 anos, graduado em redes alimentárias, há 4 anos se dedicando à agroecologia. Isso é um breve resumo da história de um jovem com ideologia inovadora, mente voltada para o futuro e sonho de poder viver das suas hortaliças orgânicas.
Hortín Fortín é o nome do seu escritório verde, um espaço de cem metros quadrados dedicados à produção de grãos, hortaliças, frutas e ervas orgânicas. Ele já perdeu a conta, mas chutamos que são mais de 80 espécies cultivadas no espaço que antes era usado apenas para plantar tomates.
Entre os 28 canteiros do horto, Santi dedicou um deles para cultivar Milpa, o modo secular mesoamericano de plantar feijão, milho e abóbora. A ideia nesse sistema é obter o maior benefício dos recursos naturais disponíveis com um policultivo. Enquanto as ramas de feijão se apoiam no caule do milho e lhe fornece nitrogênio, o milho faz sombra à abóbora e essa trata de deixar o solo úmido para as outras espécies. Perfeito não é mesmo?
Além da Milpa, o Hortín Fortín tem uma parcela importante do seu espaço voltado especialmente às flores comestíveis, que além de lindas são super saborosas. Algumas tem gosto de pepino, outras de agrião. Pode parecer estranho comer flores, mas se comemos folhas, caules, raízes, por que não comer flores?
Aqui na América sentimos que o consumo de orgânicos vem crescendo, de pouquinho a pouquinho, mas o mercado encontra muita resistência nesse sistema que, nós, humanos, criamos ao longo das últimas décadas. Falta de tempo, acesso fácil e barato aos industrializados, apelo publicitário pelos produtos processados, supervalorização do modern style of life: o sucesso está materializado na visão de alguém correndo para chegar ao trabalho, com uma pasta em uma das mãos e um copo de café descartável na outra. Parar para comer é perda de tempo, escolher o que comer é desnecessário, escolher uma salada orgânica no lugar de um fast food está longe de virar realidade.
Foram essas e outras ideias que trocamos durante o dia em que passamos em companhia não só de Santi, como de sua mãe e seu pai, que – bem longe dos alimentos de mentira – preparam pra gente pratos típicos mexicanos, nos ensinando um pouco mais do vasto terreno da gastronomia do seu país.
A mãe preparou Tesmole; o pai, Salsa Macha. A salsa macha conhecemos no dia anterior, lá na Nevelândia, e nos apaixonamos por ela. Por isso eles muito amavelmente nos ensinaram a prepará-la. O molho é originariamente feito com chile comapeño, uma pimentinha típica da região de Veracruz, já quase não encontrada. A salsa tem esse nome porque a coisa não é brincadeira, pica mucho! Mas tem tanto sabor, é tão boa que sempre da vontade de colocar mais um pouquinho e dar mais uma mordida!
Já o Tesmole é um caldo feito com 3 chiles diferentes, carne de porco, flor de isote e massa de milho em bolinhas recheadas com folha de erva santa. Um pouco de picor, muito sabor e várias texturas num só prato. A verdade? Uma das melhores sopas que provamos na viagem! Prova de que comida feita em casa com produtos frescos, naturais e muito carinho são sempre a melhor opção!