Dia 99 – 9 de dezembro – Sábado: Primeira fronteita, primeiros sabores do PERU!

O Acre era um estado só de passagem, mas se mostrou uma verdadeira mina de ouro da gastronomia. Foi uma feliz surpresa conhecer os pratos, os preparos e, em especial, poder ver de perto o trabalho na Reserva do Cazumbá-Iracema.

Após 99 dias de estrada pelo nosso querido Brasil, entretanto, chegava a hora de alçar vôos mais longos. O Peru estava logo ali, nosso primeiro destino internacional.

Estivemos no Peru dez anos atrás, também de carro, numa viagem que durou 23 dias (para saber mais, clique aqui). Nossa lembrança é de um país que preserva muito a sua cultura e que tem uma riquíssima gastronomia, com sabores bem picantes. Por dez anos ficamos repetindo “rocoto relleno”… o prato que mais nos instigou na época. Era dia de ir ao encontro do rocoto!

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              Bruno e Diva, apoiadores e amigos dos overlanders

Acordamos às cinco horas da manhã e Bruno, mais uma vez, nos convidou a tomar café na sua casa. Diva, sua namorida, já estava de pé, pronta para encontrar seus alunos do ensino fundamental.

Com um abraço apertado no casal e levando potinhos com abacaxis incrivelmente doces colhidos no seu quintal, seguimos o trajeto indicado no GPS.

O caminho até a fronteira brasileira em Assis Brasil é terrível! A rodovia é cheia de buracos (ou crateras) difíceis de desviar. Muita atenção ao volante se você pretende fazer esse caminho. Aliás, muita atenção em qualquer estrada brasileira!

Chegamos na fronteira por volta do meio dia. Passamos pela Polícia Federal no Brasil e fomos rapidamente atendidos. Três quilômetros a frente paramos na diminuta imigração peruana. Teríamos sido atendidos sem demora não fosse um grupo de turistas que deixava o país para passear no Brasil.

 

                                                                                   Na fronteira Brasil-Peru ainda no lado brasileiro

Sem pressa, ok? Fronteira é coisa para se fazer com calma e já estávamos preparados psicologicamente para esperar. Vinicius aproveitou pra desenferrujar o espanhol com os tiozinhos da “delegación”. Saindo de lá fomos à aduana registrar o ingresso do veículo.

Mas… era horário de almoço e só voltariam a atender às 13horas. Aproveitamos para “almoçar” também, comendo os sanduíches que havia preparado na noite anterior. De sobremesa, os doces abacaxis de Bruno!

Uma hora e meia depois estávamos atravessando de fato a fronteira. Ganhamos visto de permanência por 60 dias. Não que pretendamos ficar tanto tempo pelo Peru, mas vai saber né? No Brasil acabamos ficando um mês a mais que o planejado…

                                                                                       Primeiros quilômetros no Peru

Não conseguimos fazer o SOAT, o seguro veicular obrigatório do Peru, logo na chegada. A única seguradora estava também fechada por conta do almoço sem previsão de retorno. Sábado + sesta = sem previsão de retorno.

Seguimos adiante, sentido Puerto Maldonado, a primeira grande cidade peruana depois da fronteira. A estrada do lado dos hermanos estava perfeita, de fazer inveja mesmo. A paisagem alternava entre plantações de mamão, banana, mandioca e as enormes castanheiras ao fundo. Sim! Ainda estávamos na Amazônia!

Chegamos por volta das cinco da tarde em Puerto. Nosso ponto de apoio por lá era Chalo, proprietário do Hotel Cabaña Quinta, no centro da cidade.

                                                                                 Aquele descanso merecido no Cabaña Quinta!

Puerto Maldonado recebe muitos turistas por conta da sua localização na Amazônia Peruana. Aliás, em janeiro de 2018 Puerto Maldonado irá receber a visita do Papa Francisco e a cidade já está preparada para receber muitos fiéis.

O Cabaña Quinta tem uma estrutura muito boa, são cerca de 70 quartos, entre apartamentos e bangalôs. Possui várias áreas de convivência, piscina e estacionamento. As instalações são grandes, muito limpas e confortáveis. É perfeito pra quem chega na cidade depois de uma viagem cansativa de longas dez horas! Indicamos!

E sabe o que mais? O restaurante do hotel serve uma comida muito, muito boa! Chalo é o administrador do hotel, mas o seu conhecimento na área gastronômica é impressionante. Ele nos apresentou três pratos típicos da Amazônia peruana ou selva peruana, como eles denominam, e nos mostrou algumas técnicas culinárias diferentes utilizadas no preparo dos pratos. Assista nossa comilança no YouTube clicando AQUI!

O primeiro foi um clássico peruano, não só na região amazônica, mas em todo país, um dos mais consumidos por aquelas terras: o Lomo Saltado. Em linhas gerais, são tiras de carne refogadas com legumes.

Cecina Saltada com arroz e mandioca frita

Vendo a foto você lembra alguma comida que já conhece? Então! Esse prato tem influência da cozinha chinesa! Assim como no Brasil, os chineses tem uma colônia bem representativa no Peru. Os primeiros imigrantes chegaram no século XIX para trabalhar nas fazendas da costa peruana e acabaram influenciando a gastronomia local com seus costumes e temperos.

O prato tem várias versões e a que Chalo nos apresentou foi com Cecina, filé feito com o pernil de porco defumado, este sim tradicional da região da selva peruana.

O segundo prato é chamado de “El Tacacho con Cecina”, nada ligth, mas completamente delicioso! O sabor da carne de cecina é único e nessa preparação ela é frita! Um belo pedaço é submerso no óleo quente, pra deixar a carne ainda mais crocante por fora.

                                                                                      Ingredientes para preparar o Tacacho com Cecina

 

O “Tacacho” é o acompanhamento feito de banana que pode muito bem ser prato principal. Se você é vegetariano, se joga! Se não for, se joga também! Já comemos muita banana da terra por aí, de todas as formas e consistências e essa conseguiu nos surpreender!

As bananas são fritas e depois amassadas em um pilão. Nessa fase de pilar acrescenta-se o chicharrón (pequenos pedaços de carne fritos, tipo o nosso torresmo), manteiga e temperos (pimenta de cheiro, pimentão amarelo e chicória). Depois os bolinhos são formados com a mão, quase no tamanho de uma bola de tênis.

Volto a repetir: isso é muito bom!!

O terceiro e último prato é chamado de Patarashca. É feito com peixe envolto em folha de bananeira…opa, quero dizer, na folha de Bijau ou Bijao, também conhecida como “hojas de congo” na Colômbia (nome científico: calathea lutea). Mas se parece muito com a folha da bananeira e pode ser feito com ela também.

                                                                                  Patarashca acompanhado de Palmito em lascas

Ele usou o Pirarucu (ainda estamos na Amazônia!), que no Peru é chamado de Paiche. Acrescentou temperos e cobriu com a folha. Depois levou para ser cozido no vapor.

A comida estava sensacional, mas a conversa com Chalo e o pisco de maracujá tornou tudo muito mais rico. Nossas primeiras horas no Peru foram simplesmente fantásticas! Pudemos conhecer tanta coisa em tão pouco tempo!

Expectativas redobradas para desvendar todos os sabores desse paraíso gastronômico!

Prove com a gente todos esses sabores assistindo ao nosso primeiro vídeo do Peru:

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