Dia 114 – 24 de dezembro – Domingo: Um banquete peruano na véspera de Natal

A noite na fazenda foi gelada! Pela manhã o termômetro marcava -4ºC! Os equipamentos deram conta do recado. O duro mesmo foi sair da cama e ir ao banheiro que ficava uns bons metros de onde estava o carro.

                                                                                       Tarefas na fazenda: dando mamadeira à vicuña bebê

Mas havíamos de acordar! Era de dia de preparar chuño, o prato mais emblemático da cultura quéchua feito com batatas andinas desidratadas. O processo que é chamado de liofilização é possível nessa região de Condorcoccha graças ao frio extremo que faz à noite, congelado as batatas, à baixa pressão atmosférica e ao forte calor do sol durante o dia que sublima os cristais de gelo que se formaram com as temperaturas negativas.

A batata desidratada tem uma validade incrível e por isso era um alimento que se mantinha guardado para situações de escassez. A batata que utilizamos para fazer o chuño, por exemplo, estavam guardadas há mais de cinco anos!! Incrível!

O preparo do prato leva, além das batatas, que devem ser reidratadas por 48 horas, cebola, alho, ovos e queijo fresco. É um guisado super saboroso que tivemos o privilégio de aprender a fazer e degustar antes das sete da manhã.

                                                                 Os primeiros raios de sol batendo no chuño, a batata liofilizada dos andes

Mama Vitoria ainda nos ensinou um último preparo: com o sangue do porco sacrificado no dia anterior aprendemos  a fazer morcilhas ayacuchanas. Diferente das outras que já vimos, ela leva muitas folhas verdes, como couve, cebola china, coentro e salsinha. Na hora de provar é possível sentir as texturas das folhas cruas picadas que compõe pelo menos 50% da morcilha.

Às nove da manhã nos despedimos da fazenda, e voltamos à cidade pra conhecer novos pratos, novos sabores, novas tradições culinárias peruanas.

Fomos ao Restaurante La Casa del Nino. Como o nome sugere, Nino, o dono do restaurante, fez do seu estabelecimento um espaço agradável, para que o cliente se sinta em casa.

Os chefs do restaurante, Javier e Miguel, prepararam um verdadeiro banquete pra gente! Sério mesmo, uma variedade incrível de comidas cujas cores e aromas nos deixaram com água na boca. Nosso almoço teve causa limeña, uma entrada fria feita com batatas originária da costa mas que sofre variações e é servida em todo Peru. Javier fez três preparações: uma com ají amarelo, outra com beterraba e outra com espinafre. O recheio levava frango e vegetais ou atum. Uma melhor que a outra!

                                                                                    Causa limeña feita com beterraba e atum

Depois pudemos provar papas com três tipos diferentes de cremas: uma com a folha de Huacatay, outra com a pimenta rocoto e outra de pimenta amarela. Todos os cremes levam queijo, deixando tudo mais saboroso.

                                                                              Batatas cozidas com creme de rocoto, a pimenta venerada pelos peruanos

Ainda teve Chicharrón preparado na caja china, uma “churrasqueira” diferente, muito utilizada no país. As carnes são colocadas em uma caixa fechada e, em seguida, o carvão é acesso na tampa,  em cima da caixa. A gordura da carne cai pelos pequenos orifícios feitos no interior da churrasqueira deixando a peça bem sequinha.

                                                                                Chicharrón a la caja china com humita e milho

Pra terminar, duas sobremesas tradicionais do Peru. Mazamorra de Abóbora e de LLipta, esta última feita a base de milho e ervas aromáticas, como canela e erva doce. As sobremesas tem consistência de um iogurte bem grosso, assim com a maioria das sobremesas típicas do Peru. Na hora de servir, o recomendado é colocar um pouquinho de leite por cima para dar um toque especial.

                                                                                       Mazamorra Llipta, um doce feito a base de milho escuro

Tudo isso já havíamos provado e não eram nem duas da tarde! Tá difícil não ganhar uns quilinhos!

[Assista as preparações no nosso Canal ou aperte o play aqui mesmo!]

Mas era véspera de Natal e a noite ainda nos reservava uma ceia! Edilberto nos convidou a passar a noite de Natal junto a sua família. Fomos então descansar um pouco para à noite nos reunirmos em volta da mesa outra vez.

Chegando na casa dos Soto, vimos que as tradições são bem parecidas com as nossas. A ceia tinha maionese (feita de maçãs e não batatas, só pra variar), arroz árabe (o mesmo que mãe de Vinicius costuma fazer no Natal) e Peru, é claro! Detalhe, eles nem faziam ideia de que no Brasil o nome da ave que preparamos no Natal é o nome do país deles. Acharam graça. Por aqui o peru se chama pavo e é preparado assado também, com temperos comuns, como cebola e alho.

Assim é que, reunidos com a família que nos abraçou em Ayacucho, ao som de música peruana e regado a caipirinha, pisco e cervejas em temperatura ambiente celebramos a noite de Natal. Um verdadeiro privilégio poder acompanhar essa festa bonita e familiar na companhia de pessoas de bom coração.

2 Comentários

  1. Dani, o que vc quer dizer com “os equipamentos deram conta do recado”. Vocês tinham algo mais além dos sacos de dormir e cobertores? Tipo aquecimento no interior do carro?

    1. Oi Mônica!! Não, não tínhamos nenhum aquecimento dentro do carro, só usamos os sacos de dormir e de um cobertor de microfibra. Inclusive foi tudo o que usamos para passar o inverno aqui na Europa também! Abraços! 🙂

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