A noite na fazenda foi gelada! Pela manhã o termômetro marcava -4ºC! Os equipamentos deram conta do recado. O duro mesmo foi sair da cama e ir ao banheiro que ficava uns bons metros de onde estava o carro.
Mas havíamos de acordar! Era de dia de preparar chuño, o prato mais emblemático da cultura quéchua feito com batatas andinas desidratadas. O processo que é chamado de liofilização é possível nessa região de Condorcoccha graças ao frio extremo que faz à noite, congelado as batatas, à baixa pressão atmosférica e ao forte calor do sol durante o dia que sublima os cristais de gelo que se formaram com as temperaturas negativas.
A batata desidratada tem uma validade incrível e por isso era um alimento que se mantinha guardado para situações de escassez. A batata que utilizamos para fazer o chuño, por exemplo, estavam guardadas há mais de cinco anos!! Incrível!
O preparo do prato leva, além das batatas, que devem ser reidratadas por 48 horas, cebola, alho, ovos e queijo fresco. É um guisado super saboroso que tivemos o privilégio de aprender a fazer e degustar antes das sete da manhã.
Mama Vitoria ainda nos ensinou um último preparo: com o sangue do porco sacrificado no dia anterior aprendemos a fazer morcilhas ayacuchanas. Diferente das outras que já vimos, ela leva muitas folhas verdes, como couve, cebola china, coentro e salsinha. Na hora de provar é possível sentir as texturas das folhas cruas picadas que compõe pelo menos 50% da morcilha.
Às nove da manhã nos despedimos da fazenda, e voltamos à cidade pra conhecer novos pratos, novos sabores, novas tradições culinárias peruanas.
Fomos ao Restaurante La Casa del Nino. Como o nome sugere, Nino, o dono do restaurante, fez do seu estabelecimento um espaço agradável, para que o cliente se sinta em casa.
Os chefs do restaurante, Javier e Miguel, prepararam um verdadeiro banquete pra gente! Sério mesmo, uma variedade incrível de comidas cujas cores e aromas nos deixaram com água na boca. Nosso almoço teve causa limeña, uma entrada fria feita com batatas originária da costa mas que sofre variações e é servida em todo Peru. Javier fez três preparações: uma com ají amarelo, outra com beterraba e outra com espinafre. O recheio levava frango e vegetais ou atum. Uma melhor que a outra!
Depois pudemos provar papas com três tipos diferentes de cremas: uma com a folha de Huacatay, outra com a pimenta rocoto e outra de pimenta amarela. Todos os cremes levam queijo, deixando tudo mais saboroso.
Ainda teve Chicharrón preparado na caja china, uma “churrasqueira” diferente, muito utilizada no país. As carnes são colocadas em uma caixa fechada e, em seguida, o carvão é acesso na tampa, em cima da caixa. A gordura da carne cai pelos pequenos orifícios feitos no interior da churrasqueira deixando a peça bem sequinha.
Pra terminar, duas sobremesas tradicionais do Peru. Mazamorra de Abóbora e de LLipta, esta última feita a base de milho e ervas aromáticas, como canela e erva doce. As sobremesas tem consistência de um iogurte bem grosso, assim com a maioria das sobremesas típicas do Peru. Na hora de servir, o recomendado é colocar um pouquinho de leite por cima para dar um toque especial.
Tudo isso já havíamos provado e não eram nem duas da tarde! Tá difícil não ganhar uns quilinhos!
[Assista as preparações no nosso Canal ou aperte o play aqui mesmo!]
Mas era véspera de Natal e a noite ainda nos reservava uma ceia! Edilberto nos convidou a passar a noite de Natal junto a sua família. Fomos então descansar um pouco para à noite nos reunirmos em volta da mesa outra vez.
Chegando na casa dos Soto, vimos que as tradições são bem parecidas com as nossas. A ceia tinha maionese (feita de maçãs e não batatas, só pra variar), arroz árabe (o mesmo que mãe de Vinicius costuma fazer no Natal) e Peru, é claro! Detalhe, eles nem faziam ideia de que no Brasil o nome da ave que preparamos no Natal é o nome do país deles. Acharam graça. Por aqui o peru se chama pavo e é preparado assado também, com temperos comuns, como cebola e alho.
Assim é que, reunidos com a família que nos abraçou em Ayacucho, ao som de música peruana e regado a caipirinha, pisco e cervejas em temperatura ambiente celebramos a noite de Natal. Um verdadeiro privilégio poder acompanhar essa festa bonita e familiar na companhia de pessoas de bom coração.
Dani, o que vc quer dizer com “os equipamentos deram conta do recado”. Vocês tinham algo mais além dos sacos de dormir e cobertores? Tipo aquecimento no interior do carro?
Oi Mônica!! Não, não tínhamos nenhum aquecimento dentro do carro, só usamos os sacos de dormir e de um cobertor de microfibra. Inclusive foi tudo o que usamos para passar o inverno aqui na Europa também! Abraços! 🙂