Sábado: dia de conhecer mais uma feirinha no México. A essa fomos a convite de Ali, a querida chef que conhecemos no dia anterior.
As feirinhas sazonais aqui, que acontecem em dias específicos da semana e estão localizadas de maneira semi fixa em alguma rua ou praça, ganham nome diferente no México: tianguis.
Nesse tianguis, os expositores estão organizadas em associação e funcionam abaixo um regulamento. Doze expositores agroecológicos se reúnem todos os sábados para venderem produtos diferenciados. Além de frutas e hortaliças, são comercializadas granolas, frutos desidratados, farinhas especiais e produtos de beleza 100% naturais.
Três são as características que diferenciam esse Tianguis dos demais: 1- aqui todos os expositores são os próprios produtores, ou seja, só quem produz ou transforma o produto pode participar; 2- os produtos devem ser agroecológicos, artesanais ou orgânicos; 3- o produto deve ser local, só produtos do estado de Chiaplas são vendidos nesse tianguis.
E assim, com a ideia de oferecer produtos limpos e saudáveis criaram essa pequena feira há cinco anos. Uma das fundadoras do projeto nos contou que é um “trabalho de picar pedra, um trabalho árduo de conversar com os clientes, falar, falar e falar” para conscientizá-los da importância de se consumir produtos naturais.
Em cinco anos, disse ela, várias pessoas ingressaram ao projeto com finalidade somente de lucro e logo desistiram. Nos últimos dois anos, o grupo ficou menor e só ficaram os que verdadeiramente entenderam o conceito e a filosofia do tianguis. Hoje os produtores estão mais unidos, somando esforços não só para vender como para informar e educar os consumidores.
E assim, graças à resistência e dedicação dos produtores locais, o consumo de orgânicos e naturais cresce sábado a sábado em Tuxtla, ainda que a passos mais lentos do que nossa saúde demanda.
Antes de deixarmos o mercado fomos presenteados com tamales de chipilin, feitos com milho orgânico e envoltos em folha de bananeira recém cortada. O sabor estava mesmo incrível.
Saindo do tianguis fomos a Copoya, um povoado a vinte minutos do centro de Tuxtla para conhecer outra associação com iniciativa igualmente louvável.
Suri Sadai Guzman Lopez, uma das coordenadoras do projeto, nos recebeu e nos falou que a intenção é resgatar e manter as tradições da comunidade Zoque, formada majoritariamente por mulheres descendentes indígenas.
São 10 cozinheiras mais 4 doceiras que se reúnem todos sábados e domingos para prepararem mais de 20 pratos típicos salgados, mais os doces e bebidas. Quem visita o Mercado da Cocina Tradicional Zoque tem a oportunidade de ver de pertinho a magia que acontece nas panelas antes de escolher o que vai comer. Um conceito bem simples, que deixa as pessoas super a vontade e com gostinho de provar sempre uma coisinha a mais. Não é à toa que aos domingos o lugar vive lotado, com filas de espera.
Na nossa passagem por lá tivemos a oportunidade de provar vários prato da cozinha Zoque: Sopa de Pão, Chalupas, Mole de galinha, Pozol de cacau e Tepache.
Bem, vamos por partes!
Sopa de Pão é uma preparação simples, bem saborosa e bem pesada! Mas consumindo um pouquinho, de vez enquanto, não faz mal né? A sopa de pão é feita com pão amanhecido frito em azeite até ficarem dourados. Depois são colocados em caldo de frango que já recebeu cebola e tomate refogados. Para finalizar, são colocadas passas, sal, açúcar, banana frita em rodelas e ovos cozidos. Que mistura louca não é? O prato é doce e salgado ao mesmo tempo!
As chalupas são igualmente compostas de vários elementos, mas aqui as misturas são mais normais. Um pouco mais normais! São tostadas fritas de milho cobertas com feijão moído, repolho, alface, molho de tomate, creme e queijo de chiaplas. Beeem gostoso!
O mole de galinha, bem, o mole é uma espécie de molho feito de inúmeros ingredientes e merecem um post só dedicado a ele. Por ora o que podemos dizer é que é uma delícia!!
O tepache é uma bebida fermentada por aproximadamente 2 meses feita com casca de abacaxi e adoçado com rapadura, assim como o Aloá, que provamos lá no Acre, feito pela chef Izanelda Magalhães! Muito legal encontrar semelhança entre os preparos indígenas brasileiros e mexicanos!
O pozol já é nosso velho conhecido: bebida fria de milho cozido com cacau. É gostoso e refrescante, mas talvez pela quantidade que vem servido cada vez – quase 1 litro! – acaba pesando um pouco o estômago.
Em tempos em que os jovens só querem comer comida standart, encontrar público que aprecie e prestigie comida tradicional é coisa para guerreiros, ou melhor, guerreiras! Vida longa ao projeto e à cozinha Tradicional Zoque!