Dia 144 – 23 de Janeiro – Terça-Feira: A adorável Cuenca e seus Sabores

Não poderíamos ter escolhido destino melhor para estrear nossa passagem pelo Equador. Reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade desde 1999, Cuenca nos encantou desde os primeiros quilômetros em que rodamos pela cidade. As razões? Vamos lá:

Chegar ao centro foi tranquilo e muito fácil. O trânsito flui de forma ordeira e civilizada, sem bozinaços. Os semáforos, assim como as faixas de pedestres são respeitadas. Não utilizamos o transporte público, mas aparentemente funciona muito bem. Ônibus circulam por todos os lados.

As construções das casas e prédios são muito bonitas e bem acabadas, diferentemente do que estávamos acostumados a ver no Peru (onde raramente se via uma casa com pintura por toda a parte externa).

O rio Tomebamba, frondoso e de água claras, corta as ruas da cidade que são limpas e bem arborizadas. As montanhas ao final do horizonte deixam a paisagem ainda mais charmosa.

As pessoas – que estão sempre muito bem vestidas! – são muito simpáticas e estão sempre disponíveis para te prestar informação.

Fora tudo isso, Cuenca possui um clima com temperaturas que variam entre 14ºC e 18ºC durante todo o ano, perfeito para os turistas que batem perna o dia todo.

Cuenca
A vista do parque e da parte nova da cidade de Cuenca

Santa Ana de los Ríos de Cuenca, como é oficialmente chamada, é a terceira maior cidade do Equador, possuindo um pouco menos de 600 mil habitantes, mas definitivamente não aparenta ter tudo isso! Situada ao sul de Quito, fica a aproximadamente 450 km da capital e vale muito a pena uma visita.

Gastronomicamente falando, Cuenca é muito bem servida de restaurantes, desde os mais tradicionais aos mais contemporâneos. Inúmeros cafés, padarias e mercados públicos completam o “circuito comer-beber” da cidade. Caminhando pelo centro histórico, pela praças e pela Calle Larga é possível encontrar opções que cabem em todos os bolsos, como menus por U$2,00 até pratos individuais por U$20,00. Variedade de sabores também não faltam. Vimos por lá restaurantes típicos, de comida italiana, indianos, árabes, sem falar nas grandes redes de fast food.

mercado público Cuenca
Mercado 10 de Agosto

Para iniciarmos nosso mergulho pela história da cozinha equatoriana fomos ao Mercado 10 de Agosto, o mercado público mais centralizado de Cuenca. A expectativa era ter uma experiência gastronômica tipicamente equatoriana e foi exatamente isso que encontramos por lá.

O mercado é bonito, bem estruturado, com uma variedade incrível de frutas, algumas delas bem exóticas. Babaco, tomate del árbol, zapote, granadilha, para citar apenas algumas.

mercado público Cuenca
É fruta que não acaba mais!

A novidade ficou mesmo por conta dos grãos, que por lá são vendidos já cozidos, prontos para comer ou colocar em outras preparações. O engraçado é que eles ficam expostos como se estivem crus, dando margem para toda a sorte de insetos provarem um pouquinho do seu gosto.

mercado público Cuenca
Feijão e milho cozidos vendidos a céu aberto

Aliás, comprar grãos crus também exigem cuidado. Além de estarem sem qualquer proteção, as mulheres que tomam conta das bancas costumam fazer a medida com as mãos mesmo.

Apesar disso não dá pra dizer que o mercado é sujo; eles apenas possuem normas sanitárias diferentes, se é que consigo me fazer clara.

No segundo piso, junto com os grãos cozidos, estão as demais barracas que vendem pratos típicos. Destaque para as barracas que vendem carne de porco com batatas assadas, tudo bem ao alcance dos seus olhos.

Como já havíamos provado várias frutas, pulamos uma refeição mais consistente e escolhemos três opções de lanches. Um tamale de carne de porco com ervilhas e cenouras; um bolão verde, feito com banana e queijo; e uma humita, para adoçar o almoço.

mercado público Cuenca
Tamale de carne de porco com legumes

E o que vem depois do almoço? Café!

Nos dirigimos até uma das dezenas de praças da cidade e pedimos um café americano que para fins equatorianos corresponde a um café preto bem grande. Acabamos dividindo a caneca GG e ficamos felizes em saber que estávamos num país com gosto pelo café. Nessa mesma cafeteria era possível encontrar grãos selecionados – na maioria Colombianos – para comprar.

Enquanto estávamos nos esbaldando com o café, um casal entrou ao recinto e em idioma conhecido conferiam algumas fotos no celular. Eram brasileiros a procura de café e de uma sobremesa. O casal era do Rio de Janeiro e ficaram impressionados quando viram nosso carro com a placa de Blumenau em frente ao estabelecimento.

Cuenca
Pelas praças de Cuenca

Trocamos apenas duas palavras porque já eram quase três da tarde e estava na hora no nosso próximo compromisso.

A primeira cozinha de um restaurante que entramos no Equador foi de Eulália …. E que ótima impressão nós tivemos. Maria e Carmem, as irmãs que tomam conta dos fogões do Restaurante El Maíz mantêm tudo muito em ordem e limpo.

restaurante Cuenca
O charmoso restaurante El Maíz

Uma longa conversa com a amável Eulália, proprietária do lugar desde a sua inauguração em 2003, nos fez dar os primeiros passos pelo mundo da gastronomia do Equador, em especial de Cuenca. Eulália aprendeu a cozinhar com sua mãe, de quem se recorda com muito carinho e saudosismo. Nos contou que nos últimos anos de vida, sua mãe se dedicou a escrever um livro de culinária com dezenas de receitas típicas. Por uma série de infortúnios ela não conseguiu ver a obra pronta. As filhas agora procuram reunir forças para continuar a obra da mãe. Torcemos para que esse sonho se realize!

Ao menos duas das receitas tradicionais do restaurante de Eulália nós podemos ajudar a deixar para as próximas gerações, ainda que do nosso jeito. As irmãs cozinheiras nos ensinaram dois pratos que fazem parte do catálogo gastronômico tipico do Equador.

comida típica equatoriana
Eulália verificando o cozimento do milho para preparar Mote Silo

O primeiro foi o Mote Silo, um prato a base de maíz, o milho branco e grande dos andes. Depois de cozido ele entra no preparo feito com alho, cebola e urucum e ganha, ao final do cozimento, queijo, leite e ovos. O prato acompanha carnes, saladas ou pode ser servido como entrada.

O segundo prato que as meninas preparam foi o que chamaram Tortilla. Diferente do que você deve estar acostumado a ver, a tortilla aqui é como um bolinho achatado feito de farinha de milho e recheado com queijo. O bolinho é assado em uma panela de barro bem quente untada com banha de porco. O segredo da tortilla é ir virando de tempos em tempos para que assem por todos os lados. Todo cuidado é pouco para que elas não queimem!

comida típica equatoriana
Tortillas assando na panela de cerâmica

E foi com café que as tortillas foram servidas. Quatro horas depois deixávamos o El Maíz depois daquele dia cheio de novos sabores e com a sensação de que o Equador teria muito a nos oferecer.

Quer aprender a fazer as tortillas? Dá um play no vídeo!

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