Enquanto pessoas caminhavam no parque nós despertávamos às margens do rio Tomebamba. Atipicamente nós só acordamos quando o relógio já batia 7 da manhã.
Reservamos umas boas horas para trabalhar naquela quarta-feira. Havia um museu e uma biblioteca logo a frente das ruínas incas de Tumatombo. A biblioteca possuía uma ótima estrutura, quase ninguém por perto e wifi gratuita.
Só saímos dali para almoçar na rua da Biblioteca mesmo. Encontramos um menu por U$2,50. Uma sopa e um principal com llanpingacho, um bolinho assado feito com massa de batatas. Já tínhamos ouvido falar dele no dia anterior, lá no Restaurante El Maíz, e ainda nesse dia teríamos a oportunidade de experimentá-lo outra vez. Alguém duvida que se trata de comida típica cuencana?
Almoçados, voltamos à Biblioteca por onde ficamos até umas 15 horas. Era hora de nos aprofundarmos ainda mais em direção ao mundo gastronômico equatoriano.
Quem abriu as portas da história da cozinha do país foi o jovem e bem sucedido empresário e amante da gastronomia, Roberto Mora. Depois de ter trabalhado em diversos restaurantes em várias cidades do país, como Quito e Ilhas Galápagos, ele voltou a sua cidade natal para oferecer ao cidadão de Cuenca e aos turísticas que por aí passam, uma experiência gastronômica diversificada.
O espaço chamado de El Mercado é formado por vários ambientes diferentes: uma pequena padaria/ confeitaria; um empório onde são vendidos os doces, geleias e pimentas homemade ; uma pequena loja com produtos típicos do Equador, como os famosos chapéus Panamá; e por último, e mais importante, o salão do restaurante, também dividido em dois espaços. O primeiro, próximo ao bar, e o segundo, descendo as escadas, com vista para o rio e para a grande adega que compõe lindamente a decoração do lugar.
A proposta do Restaurante El Mercado é muito bem executada. O ambiente é aconchegante, não intimida, nem por isso perde glamour. Ao contrário. É descontraído na medida, chic na medida, casando perfeitamente com o conceito da cozinha que lá é servida. Nas palavras de Roberto, longe de querer ser protagonista de alta cozinha, no El Mercado é servida “comida de verdade”.
Deixe-me tentar traduzir: comida simples, muito bem apresentada, bem elaborada, com matéria-prima fresca, em sua maioria orgânica e farta na medida. Quer um exemplo?
Nessa “simples” salada da foto há cinco variedade de tomates, todos produzidos pelo próprio restaurante. Os cogumelos e o presunto dão o ar da graça apenas para lembrar que a estrela do prato é o fruto vermelho, roxo, amarelo, que conhecemos como tomate. Simples, não?
Edwin é o chef responsável pela obra de arte que você viu aí em cima e também pela montagem dos prato principais que provamos em seguida. Com apenas vinte e cinco anos, o jovem chef fala com emoção e brilho nos olhos da sua cozinha. A frente do El Mercado há apenas dois anos, ele tem um caminho longo pela frente e certamente muito promissor.
El Mercado e a aposta na “Comida de Verdade”
Do que presenciamos na cozinha, poucos temperos, mas muitos elementos compõem os pratos. O Locro de Papas, que é basicamente um cozido de batatas com vegetais, ganhou várias camadas de sabores e textura. Abacate, crocante de batatas, ají, flores e uma farofinha de beterraba (tierra de remolacha, como chamam). Tudo isso sobre uma rama farta de alecrim para deixar o prato perfumado e impactante.
É possível dizer que há elementos demais no prato, assim com a cabeça de um jovem chef: cheia de criatividade. Definitivamente o que não dá pra dizer é que os pratos são insossos, apáticos e sem vida.
A fritada de cerdo é outra boa pedida no El Mercado. No prato em que a carne de porco é o destaque você encontra ainda outras preparações bem típicas do Equador: llampingachos, encebollado, mote sucio e abacate.
Foi enorme prazer compartilhar de algumas horas com esses dois cavalheiros que juntos trilham o caminho do sucesso do restaurante. Se você for ao El Mercado, e nós recomendamos que você o faça, certamente também desfrutará de horas naquele ambiente agradável, com boa música e comida de qualidade. Ah, e não se esqueça. Você está na América do Sul, em Cuenca. Talvez essa experiência te leve para ares mais europeus e te faça esquecer desse detalhe.