Incrível como estamos apenas engatinhando na cultura cervejeira. Nestes últimos meses, estudando a história da cerveja, descobri que realmente não sabemos nada, que essa cultura está apenas começando no Brasil e temos um longo caminho educativo pela frente. Um fato extremamente interessante que surgiu durante os meus estudos foi a relação entre a mulher e a cerveja. Muito longe da mensagem passada pelos comerciais de televisão, ou pelos posters estampados nos botecos tão frequentados durante as noites de quinta-feira, a história nos mostra uma relação bem diferente.
Não vou começar do começo, da origem, do surgimento da primeira cerveja, mas vou fazer uma análise estrutural da família como entidade e dos papéis de seus constituintes.
Desde o começo da civilização, os homens saiam de casa, caverna, roda de fogo, tenda, oca ou o que quer que seja e as mulheres ficavam para tomar conta dos filhos, dos mais velhos e fazer as atividades de preparo dos alimentos, limpeza e todo o resto que não fosse caçar. Com o passar dos séculos, os homens pararam de caçar e começaram a ganhar dinheiro para comprar o alimento e todo o resto, e as mulheres continuaram em casa. Hoje tudo é diferente, pelo menos na maioria das culturas ocidentais.
Mas o que isso tem a ver com cerveja e onde as mulheres entram nessa história? Como muitos devem imaginar, nos primórdios da nossa civilização, poucas eram as coisas produzidas ou adquiridas prontas fora de nossas casas, seja uma roupa, uma cadeira ou um pão. Logo tudo era produzido em casa, o homem geralmente cuidava dos animais e de algumas lavouras e as mulheres da casa e da produção do alimento. Agora vem um fato interessante e que nós geralmente não nos damos conta, cerveja é alimento! Logo a cerveja era feita única e exclusivamente pelas mulheres, não haviam homens cervejeiros, tão pouco homens cozinheiros, todo o processo de produção era conhecimento só das mulheres e durante muito tempo elas tiveram o monopólio da produção.
Quando tudo mudou? Tudo mudou quando as mulheres começaram a produzir para fora e você poderia passar em suas casas ou estalagens e comprar cerveja, era um dos únicos meios de uma mulher se tornar independente financeiramente. Claro que os homens da época não aceitaram isso e foi logo após a primeira mulher poder se sustentar com o dinheiro da venda de sua cerveja que vieram as leis proibindo tal prática. Foi neste ponto da história que os homens se tornaram os produtores de cerveja e mantiveram assim até o século passado.
Hoje tudo está mudando, as mulheres vêm conquistando novamente o seu espaço no universo cervejeiro e muitos são os nomes de sucesso neste meio. Hoje a diversidade e pluralidade são de uma riqueza inestimável, a produção de cervejas está ao alcance de muitos e isso vem nos agraciando com produtos singulares. Viva a cerveja, viva as mulheres cervejeiras e viva a pluralidade!