Naquela quarta-feira, dia 17 de janeiro, acordamos cedinho com o barulho do mar que em Zorritos é bastante agitado. A água já é um pouco mais quente se comparada às demais praias do Pacífico peruano, algo em torno de 25ºC. Vinicius, é claro, se arriscou logo de cara e pulou na água. Pra ele estava “perfeita”!
Isso foi depois de termos levantado (antes de todos os outros), trabalhado um pouco e caminhado na praia. Nessa caminhada decidimos que não poderíamos ir embora tão cedo dali. Não demorou muito para que percebêssemos o porquê os viajantes ficam meses nesse lugar.
Sossego, tranquilidade, um clima de paraíso tropical multilíngue, multicultural. Veja bem, é muito diferente de um hostal hippie. Talvez os espaços compartilhem o clima de paz, mas a energia é diferente. Em um lugar que recebe viajantes da estrada a conexão é muito grande. Todos estão ali por uma filosofia de vida diferente (assim como os hippies, é bem verdade…ops, acho que temos mais em comum do que eu supunha rs).
A verdade é que enquanto os hippies com longos cabelos trançados (ainda) me causam estranheza, os overlanders de chinelos e cabelos não muito alinhados (ainda) me fascinam, em especial os mais experientes. E, em Zorritos, eles eram a maioria. Franceses, suíços, alemães, espanhóis,… Entre eles, a grande maioria tinha mais de sessenta anos e um, em especial, viajava há quarenta!! Claro que Georges fez disso o seu trabalho…
Nesses dias em que passamos nesse paraíso escondido do Pacífico algumas cenas dificilmente serão esquecidas. Pores-do-sol incríveis, rodas de conversa em duas ou três línguas, motorhomes e carros adaptados de todas as marcas, modelos e tamanhos.
Contudo, a cena que mais me marcou foi a de um casal suíço levando seu café da manhã para tomá-lo nas cadeirinhas que ficavam dispostas na beira da praia. Notei que eles ficavam horas conversando, apreciando as ondas do mar por cerca de uma hora ou mais e que faziam isso todos os dias.
Eu não sei sobre a vida deles o suficiente para saber de onde vem a grana, o que fazem ou o que fizeram durante a sua juventude, mas eu sei que pra nós é a imagem perfeita do que é ter sessenta e poucos anos, ter saúde, meios financeiros e ter disposição para curtir a vida de uma forma simples, tranquila, sem luxo, mas com uma qualidade indescritível.
Talvez a soma de todas essas imagens nos fez querer parar mais uns dias por ali. Tínhamos muito o que fazer é claro. Mas mais do que isso. Queríamos absorver, de alguma forma, aquela energia, aquela experiência de poder estar com pessoas que no auge da sua aposentadoria tinham escolhido percorrer o mundo de uma forma bem mais calma, bem mais devagar do que vínhamos fazendo.
Nos dias que se seguiram, inspirados na rotina matinal dos suíços, passamos a levar nosso jantar para a mesinha em frente ao mar.