Às sete da manhã já nos despedíamos e agradecíamos Bené e Vanessa pela hospedagem. Era hora de continuar a nossa volta ao mundo de carro. Sim, isso é só o começo de uma volta no globo. E o começo tem sido excelente, diga-se de passagem.
Quer um exemplo?
Enquanto cruzávamos a pequena cidade de Milho Verde vimos uma placa que dizia “Quitutes da Dona Geralda”. Paramos o carro e fomos até lá. Algumas mesas e cadeiras na frente da casa indicavam que ali não era possível somente comprar doces, pães e bolos, mas também fazer refeições. Entramos devagarinho e ali estava ela, Dona Geralda, alimentando seu forno a lenha iglu com uma dúzia de formas de pãezinhos de abóbora.
Acabamos entrevistando Dona Geralda, 72 anos, que faz quitutes desde os 11! Também ficamos para provar seu pãozinho que saía do forno junto com pães de queijo. Ah, o queijo minas frescal também estava lá. E a manteiga caseira também. Nem preciso dizer que comemos muito mais do que devíamos. Mas aquele pãozinho de queijo quentinho…hummmm, não dava pra resistir.
Lá pelas 11 horas da manhã chegamos em Diamantina, cidade histórica e linda assim como Ouro Preto. Ladeiras enormes feitas de pedras lisas que desafiam a habilidade de qualquer bom motorista. Eu, Dani, nem me arrisquei.
Fomos direto ao Mercado Público que estava lotado. Pastéis, coxinhas, doces de leite, queijos e caldinho de feijão são algumas das opções que lá podem ser saboreadas.
Havia ainda feijão tropeiro, pelo valor de R$ 25,00 a porção para duas pessoas. Lá no Serro, Bené nos mostrou um lugar onde a mesma porção era vendida por apenas R$4,00. Incrível a diferença, né? É a prova de que conhecer os lugares onde o moradores comem e fugir das rotas turísticas faz bem par o bolso!
Ah, só para constar, nós provamos o tropeiro de R$4,00 e estava muito bom!
Era hora de procurarmos um local para passar a noite. Procuramos por um camping, e o GPS nos levava sempre para uma rua na contra mão. Fizemos o contorno e por acaso passamos na frente um estacionamento sem necessidade de uso de cartão, numa rua calma e em terreno plano. Quase um milagre. Estávamos certos de que era possível passar a noite ali mesmo. Mas… o muro que fazia divisa com estacionamento dizia “Hotel Tijuco”. Logo depois do portão havia um baita estacionamento. Resolvemos arriscar e perguntar sobre a possibilidade de pernoitarmos ali.
Fomos muito bem recebidos pela Bárbara que minutos depois nos disse que não teria nenhum problema ficarmos por ali. O que era bom, ficou ainda melhor. Estávamos em local seguro, no centro de Diamantina, a dois passos do Restaurante cuja culinária viemos conhecer, o Relicário.
Mas a visita ao restaurante seria só à noite. Então almoçamos em casa, tiramos uma sesta e trabalhamos umas boas horas.
Lá pelas nove da noite descemos as ladeiras de Diamantina até chegar no Restaurante da Chef Rachel Palhares. Rachel veio de Belo Horizonte há três anos e montou um restaurante com cerca de dez mesas, num local espetacular de Diamantina. Um casarão lindo logo atrás do mercado municipal.
Objetos antigos decoram o ambiente. Discos de vinil servem de sousplat. O cardápio tem muita comida internacional, como massas e risotos. Mas é da releitura de pratos tipicamente mineiros que vamos falar.
No Relicário é possível comer carne na lata. Pra você que é muito novo ou não vive em Minas Gerais, vai aí uma explicação. Quando ainda não havia geladeira a carne era mantida dentro da gordura em uma lata para conservá-la por mais tempo. A carne pode ficar 60 dias na lata fora da geladeira sem qualquer problema. É claro que a gordura faz o papel dela, mas há toda uma técnica de preparação por trás dessa história para manter a carne saudável e adequada ao consumo.
A carne servida no Relicário Gastronomia é de porco caipira, o que faz toda diferença, segundo Rachel. Apesar de ser armazenada na gordura, na hora de comer a gordura desaparece dando lugar a um sabor único. A couve crispy e a maçã dão textura e acidez ao prato, combinando perfeitamente com a carne de pernil. Daqueles pratos que você come devagar e vai sentindo todas as nuances de sabor.
Pudemos provar ainda os dadinhos de queijo do Serro e Coalho com tapioca, empanados e fritos servidos com molho de goiabada. Babou na descrição?
Tem vídeo no canal contando um pouco da história da Raquel, do relicário e da carne na lata! Assista clicando AQUI!
É realmente delicioso, mais uma vez combinando sabores e texturas que surpreendem o paladar.
Já eram 11 da noite e a chuva veio forte em Diamantina. Foi nossa primeira noite dormindo no carro com chuva. E foi bem tranquilo. Depois de um dia incrível, de muita fartura e comida boa, a chuva batendo na lona da barraca era praticamente uma canção de ninar.