Em Mérida nosso ponto de apoio foi o Pemex, uma rede de postos de combustíveis com boa estrutura em todo país. Geralmente tem uma boa conveniência, como a Oxxo, e banheiros limpos. No posto de Mérida ainda tinha duas vantagens: chuveiro com água quente e um espaço cercado para caminhoneiros dormirem tranquilamente. No Brasil, um lugar como esse é raro e estaria sendo super disputado centímetro por centímetro por quem vive na estrada. Durante nossa estadia não tiveram mais que dois caminhões.
Depois de uma temporada hospedados em hotéis, pousadas, airbnb e casas de amigos, dormimos novamente na nossa casinha. Por mais que possa parecer estranho pra você, querido leitor, estávamos com saudades de viver um pouco assim, sem os confortos da vida regular.
Essas mudanças de rotina alimentam nossa percepção de como precisamos de pouco para viver. Se temos mais do que esse pouco, é porque somos realmente afortunados. Só nos resta agradecer.
Deixamos a linda cidade de Mérida por volta das dez da manhã, depois de visitarmos o Parque Dzibichaltún, um dos inúmeros que abriga ruínas de uma antiga cidade maia. Elegimos esse porque além de estarmos a com a agenda um pouco mais folgada, no parque também havia um cenote e era permitido nadar em suas águas. Assim, num só passeio conhecemos dois dos atrativos turísticos mais buscados no México: ruínas maias e cenotes.
O primeiro atrativo impressiona pela inteligência e sabedoria daqueles que viveram aqui antes de Cristo; o segundo, pela beleza e profundidade da piscina natural de águas claras: 40 metros solo abaixo.
Depois de nos refrescarmos do calor de Mérida no cenote, nos despedíamos da região de Yucatán para entrarmos em um novo estado mexicano, Campeche.
Chegamos na capital do estado por volta do meio dia, justo quando a fome bateu. Os restaurantes à beira mar indicavam que pescados seriam uma boa pedida, mas desistimos na primeira tentativa. Assim que paramos no estacionamento, cinco pessoas de um único restaurante nos abordaram de uma só vez pela janela do carro, insistindo para que entrássemos. Aquele apelo turístico nos sufocou e imediatamente procuramos um lugar mais simples, longe da praia.
Em uma barraquinha sem vista para o mar nos sentamos super sossegados e pedimos ao garçom que nos trouxesse Pan de Cazón, empanada de camarão e torta de frango.
O Pan de Cazón é uma preparação diferente, com combinação de elementos que não estamos acostumados. Tortilhas de milho são empilhadas em camadas que levam carne de cação moída, feijão moído, queijo e molho de tomate por cima. Pedaços de abacate e um chile habanero chamuscado completavam o prato que na primeira garfada nos pareceu bem estranho.
Sinceramente eu, Dani, não curti. Feijão com peixe definitivamente não me agrada. A primeira vez que vimos essa mistura foi no Peru, quando provamos Tacu Tacu. Vinicius estranhou, acabou se acostumando e comeu tudo, principalmente a habanero. Seu grau de tolerância para os chiles mexicanos está cada vez maior!
Eu provei a empanada frita de queijo com camarão feita com massa de milho e estava bem mais saborosa que a aparência do local sugeria. Com a expectativa superada e ainda com fome, pedi uma torta de frango e em cinco minutos recebi um simples, mas delicioso sanduíche com frango desfiado, alface, cebola e repolho. Sim, no México o sanduíche chama torta e se você quer a versão um pouco maior (como metade de uma baguete), tem que pedir por tranca.
O cardápio ainda trazia outros pratos de nomes curiosos e novos pra gente, como “burritas”. De início achamos que estava escrito errado e que por certo queriam dizer “burritos”. Mas não. As burritas são tortilhas simples de farinha de trigo recheadas apenas com queijo e presunto, como talvez você tenha costume de fazer aí na sua casa para um lanche “rápido”. Viu só? Agora você já pode chamá-las pelo nome.
Como ainda era cedo, decidimos rodar mais alguns quilômetros. Vinicius pulou para o lado do carona para poder editar os vídeos que vão ao ar no nosso Canal do YouTube e eu fui dirigindo pelas estradas que beiravam o Golfo do México. Passamos por inúmeras e lindas praias virgens de águas azuis sem presença de viva alma.
Paramos quando já era quatro da tarde para buscarmos um lugar seguro para pernoitarmos. Seguindo as indicações do ioverlander, fomos até um restaurante que fica a beira mar. Segundo relatos dos nossos amigos viajantes era possível ficar acampando ali desde que fosse consumido algo no estabelecimento. Nos pareceu perfeito.
Logo que chegamos, ainda dentro do carro, perguntamos se podíamos ficar acampados se ali jantássemos e, com um largo sorriso, o dono nos disse que sim.
Estacionamos o carro e bem felizes fomos dar um mergulho no Golfo do México. Assim que voltamos a terra firme e sentindo a pressão por parte do garçom, fizemos o pedido: camarões a la diabla.
Ao final do jantar, o garçom queria a todo custo incluir na conta do restaurante o valor do camping. Discutimos com o atendente e fomos tirar a limpo a história com o dono. Afinal, só tínhamos jantado ali porque nos autorizaram a ficar mediante consumo. Aparentemente o sorriso era só para dar as boas vindas aos trouxas. Mas batemos o pé e ao final da confusão o dono do local disse que poderíamos ficar “sem custo e sem problemas”.
A verdade é que tínhamos vontade mesmo era de ir embora, mas já estava caindo a tarde, demoraríamos até encontrar outro local, e já havíamos pago pela hospedagem. Teríamos feito nossa própria comida se tivessem dito que teríamos que pagar pelo camping que não tinha mais que um banheiro imundo e um chuveiro nojento.
No final das contas ficamos por lá mesmo e o stress do inconveniente foi passando conforme o sol ia se pondo no mar.