Nos dias em que planejamos percorrer longas distâncias costumamos sair bem cedinho para não dirigirmos à noite. Era o caso dessa segunda-feira. De Zorritos à Cuenca, nossa primeira parada no Equador, a previsão era de cinco horas de estrada. O GPS indicava um pouco mais de 300km e muita subida pela frente. Nessa conta nem estávamos calculando o tempo necessário para fazermos os trâmites de saída do Peru e de entrada no Equador.
Sair cedinho, de madrugada, porém, não foi possível. Estávamos estacionados atrás de vários motorhomes e pelo menos um deles teria que se mover para que pudéssemos sair. Isso só aconteceu às 8:30 da manhã. Deu tempo de folga para fazermos nosso café da manhã, tomarmos um banho, guardarmos cada coisa bem encaixadinha em seu lugar e nos despedirmos das sete famílias de overlanders que passaram esses seis dias acampados conosco em Zorritos.
Mas antes de entrarmos no Equador uma coisa era preciso fazer: gastar nossos últimos solis, a moeda peruana. Nos sobraram apenas um pouco mais de vinte solis, o que foi suficiente para comprar frutas, legumes, um pouco de aveia, linhaça e amêndoas no mercado público agitado de Tumbes, a última grande cidade Peruana antes da travessia.
Alguns minutos mais adiante já estava lá a indicação na rodovia de “Salida del País”. Depois de mais de quarenta dias no Peru, estávamos prontos para nova cultura culinária e novas paisagens!
Antes de chegarmos na cidade de Zarumilla (que faz divisa com Huaquilla, no Equador), seguimos pela rodovia 1N, conforme indicação das placas de “FRONTEIRA PERU- ECUADOR”, onde chegamos pelas 10:30 horas.
Em pouco menos de cinquenta minutos fizemos todos os trâmites necessários. Apesar de um pouco confuso o prédio binacional de imigração, com placas indicativas não muito esclarecedoras, foi tudo muito tranquilo.
[Ficamos sabendo que a confusão se deu porque trocaram os locais de atendimento previamente planejados, ficando um pouco sem lógica o procedimento. Assim, depois de feito os papéis pessoais de entrada no Equador é preciso dar meia volta para acessar o local responsável por fazer a entrada do carro…]
A saída do Perú e a entrada no Equador são feitas no mesmo local. Você sai de uma fila e entra na outra logo no guichê ao lado. Diferentemente do Peru, na entrada do Equador não recebemos papel algum, apenas o carimbo no passaporte. Não foi preciso preencher nenhum formulário também. O passaporte é escaneado.
Mais uma importante diferença. Foi nesse dia que pela primeira vez nos pediram a carteira internacional de vacinação contra a febre amarela. Havíamos lido poucos dias atrás que os surtos da doença no Brasil fizeram com que alguns países passassem a exigir a comprovação da vacina. Dito e feito.
Apesar de as novas normas internacionais dizerem que a vacina de febre amarela é tomada em dose única, valendo para toda a vida, na fase de planejamento da viagem tivemos a preocupação de tomar nova dose e refazer nossa carteira internacional de vacinação. Como diz o ditado, melhor prevenir do que remediar e isso nos garantiu a entrada tranquila no Equador.
Fazer os trâmites com o carro também foi muito sossegado. Não precisamos entregar qualquer cópia de documentos, apenas apresentar o passaporte, o documento do carro e a carteira de motorista. Também não revistaram o veículo como costumam fazer no Chile. Apenas entregaram um documento que deverá ser entregue na saída do país, sob pena de multa diária.
Trâmites feitos, seguimos viagem. Nos primeiros quilômetros já pudemos sentir algumas diferenças com o Peru. Vegetação verde e densa, trânsito bem menos caótico nos povoados, vias largas com três pistas e alguns radares eletrônicos.
Outra grande e essencial diferença pra gente: o preço do diesel. Um galão custa apenas e tão somente 1,037 dólares (e o preço é tabelado, só sofrendo alteração nas fronteiras)! Numa conta bem grosseira o litro do diesel no Equador custa o equivalente a R$0,90!
No Equador a moeda corrente é o dólar americano. Assim como nos Estados Unidos, Libras e Galões são unidades de medida utilizadas no lugar de Quilos e Litros.
Nossa primeira refeição em terras equatorianas também não foi cara. Um menu, com entrada de sopa de legumes e principal de salada de camarões acompanhada de arroz e banana frita saiu por U$2,50. Nada mal.
Os quilômetros seguintes foram de estrada boa, cercada por plantações intermináveis de bananas e vegetação verdinha, como já disse, o que nos dava a sensação de estar em casa, de estar no Brasil.
Nossa primeira impressão do Equador foi excelente!
Logos as montanhas que nos levaram até os 2.500 metros de altitude da cidade de Cuenca nos fez parecer que estávamos na serra gaúcha. Casinhas charmosas, quintais bem arrumados e alguns pastos com vaquinhas compunham o cenário.
Chegamos na cidade um pouco mais das três da tarde embaixo de uma chuva fraca que logo cessou.
Fomos logo em direção ao parque onde se encontram as ruínas incas e o museu de Pumapungo. Segundo indicações de Ramon, um dos suíços que conhecemos em Zorritos, no Peru, era um ótimo lugar para ficar em Cuenca.
De fato o lugar era muito bem localizado, bem na parte nova da cidade. E o melhor, de graça. Guardinhas muito simpáticos fazem a segurança do parque. Depois de uma conversa rápida com eles, vimos que o local era bem tranquilo. Deixamos o carro estacionado ali e fomos dar uma caminhada para comprarmos um chip para o telefone.
Nem um quilômetro distante encontramos um shopping e depois de uma breve pesquisa entre os pacotes oferecidos pelas empresas de telefonia local – Movistar, Claro e CNT – optamos pela CNT, mais barata e com a promessa de cobertura por todo Equador. Pagamos U$4,48 pelo chip que já vinha com bônus de U$4,00 para usar internet, facebook e whatsapp por 7 dias.
Conectados ao mundo virtual, voltamos para nossa casinha para pegarmos casacos! Havíamos saído da praia, de bermuda, camiseta e chinelos e em Cuenca, a mais de 2000 metros de altitude, o frio, ainda que ameno, é constante.
Agasalhados, continuamos nossa caminhada pela Calle Larga, um avenida bonita com alguns restaurantes, museu e o prédio do Banco Central do Equador. Paramos em uma pequena vendinha, apenas para tomarmos uma única cerveja que custou U$1,50.
Nosso primeiro dia no Equador foi tão tranquilo que parecia que estávamos na Europa. Exagero? Talvez. Teríamos pelo menos mais dois dias em Cuenca para confirmarmos essa primeira ótima impressão da cidade.