Dia de Natal costuma-se passar com a família, comendo as sobras do dia anterior. No Brasil quase todos estão na praia, pegando sol, tomando uma gelada e colocando os assuntos em dia com aquele primo que não vê o ano inteiro.
Aqui no Peru não rola muita praia, mas as festividades com a família também acontecem. E também rola cerveja (geralmente não gelada), muita comida e música. Vimos vários grupos de músicos com uniformes que lembram fanfarras alegrando as festas nas casas próximas à rodovia que passamos.
Isso mesmo, pegamos estrada no dia de Natal. Mas antes tínhamos um convite muito especial. Tomar café da manhã com a família Soto. O mondongo estaria pronto às oito horas e foi pra lá que fomos logo depois de acordar e descobrir que não havia água quente no hostel em que nos hospedamos naquela noite.
Imprevisto. Essa palavra está mudando de sentido pra gente. Todos os dias, a cada instante, algo não previsto acontece, nem parece mais surpresa. Resiliência, flexibilidade e criatividade nos são exigidas todos os dias para encontrar soluções para as mais diversas situações que passamos.
Nesse caso tentamos reclamar com o responsável pelo hostel, que nos levou até um outro quarto que estava igualmente sem água quente. O problema aqui era o frio. Estávamos a 2600 metros de altitude e pela manhã faz muito frio em Ayacucho…e eu ainda me recuperava do resfriado.
Bom, sem banho seguimos para a casa de Edilberto Soto e sua família. Mama Victoria já estava sentadinha ao redor do fogão à lenha dando os toques finais no preparo do caldo que começou o cozimento na tarde do dia anterior e seria servido para aproximadamente sessenta pessoas.
Um a um ela foi preparando o prato, com quantidade suficiente pra ninguém passar fome por uns três dias. Que fartura!
Depois de alguns dia ao lado da família Soto era hora de seguirmos caminho. Nosso Natal em família foi muito especial…amenizou um pouco a saudade da nossa…lá no Brasil.
De Ayacunho fomos a Pisco, a cidade que leva o nome da bebida símbolo do Peru. Descemos das alturas para chegar ao nível do mar. Aos poucos o gelo desaparecia da paisagem, aumentava a sensação de leveza e com ela o calor da região litorânea desértica.
Nesse dia fizemos uma breve parada para almoçar lá pelas 13 horas, numa cidade que não deveria ter mais que 3000 habitantes. No único restaurante aberto da cidade comemos fettuccine saltado, uma versão do lomo saltado típico do Peru, servido com massa ao invés de arroz. Por 13 solis dividimos o prato simples de influência chinesa….o mondongo ainda nos abastecia de energia.
Por volta das três da tarde já estávamos próximos à cidade de Pisco e decidimos parar em um posto para descansarmos e tomarmos um banho quente. Não é fácil de encontrar, mas às vezes damos sorte de achar um lugar com ducha quente grátis. Imprevistos para o lado bom também acontecem!