Saímos cedo do posto de combustíveis para chegar ao local de onde é possível ver as linhas de Nazca. Lá pelas seis e meia já estávamos lá!
É certo que ver as linhas do céu, sobrevoando os desenhos deve ter outra sensação. Mas ali, de alguns metros de altura sobre uma plataforma construída para visitação, não nos trouxe a emoção que esperávamos.
Bem, alguns minutos e fotos depois já estávamos no carro seguindo caminho para Ayacucho, uma região na Serra, a 2600 metros de altitude aproximadamente.
O GPS nos mandou pela rota mais próxima, uma estradinha asfaltada, mas que só passava um carro. Vindo outro na direção contrária era preciso achar um lugar entre desfiladeiros, paredões e valetas para passar.
Apesar da dificuldades, a estrada era impecável. A paisagem era linda, uma das mais bonitas que já vimos. A todo momento, enquanto subíamos cada vez mais alto, a cena mudava. Uma hora víamos grandes plantações de manga, noutra só haviam pedras. Mais adiante, campos com gado e ovelhinhas.
A aventura ficou menos bucólica e com mais adrenalina quando percebemos que nosso combustível estava no final e que pelo que a paisagem indicava, não haveria um posto nos próximos quilômetros.
Nossa sorte é que tínhamos uns 15 litros em nosso galão reserva. Quando acendeu o sinal de reserva, paramos e colocamos o diesel. Estava tudo certo não fosse pelo bico de borracha do galão ter ficado preso dentro do local onde se coloca o combustível. Tentamos tirar na hora, mas não conseguimos.
Seguimos viagem sabendo que ao achar um posto teríamos que resolver esse inconveniente antes de abastecer. E tínhamos que abastecer!
Ao meio dia chegamos à cidade Huanca Sancos e graças a Deus havia um pequeno, minúsculo posto. Sabendo disso fomos almoçar antes, a fome já havia batido há algum tempo.
Pedi um menu do dia, por 6 solis. Serviram-me uma sopinha de galinha de entrada e um Ají de Gallina com prato principal. O ají de Gallina é um prato com batatas cozidas que levam molho de a base de frango desfiado em molho de pimenta amarela. Uma delícia peruana!
Vinicius queria comer carne e enebriado por seu desejo pediu carne de vaca, que veio com arroz, ovo frito e batatas fritas. Super bem servido, mas…a carne estava meio dura. Bueno, não haveria de ser de primeira.
Não nos demoramos e fomos ao posto. A estradinha com uma só pista e cheia de curvas nos fazia andar muito devagar. Nos restava pelo menos três horas de viagem. Quando chegamos no posto, cuja bomba ficava na verdade na frente da casa de uma família peruana, Vinicius engembrou uma ferramenta para puxar o bico do tanque. Um pedaço de ferro jogado no quintal da casal, um alicate e um pouco de paciência foram suficientes para resolver nosso problema. Ainda bem!
Pé na estrada outra vez. Em Ayacucho Vinicius havia feito contato com um Couchsourfing. Ficaríamos dois dias na casa de Jimmy. Tudo certo então, era só chegar na cidade e fazer contato com ele.
Chegamos na cidade que tem aproximadamente 800 mil habitantes próximo das seis da tarde, embaixo de uma chuva torrencial. Era chuva demais que caia. Logo a cidade estava um caos! O trânsito que não é uma preciosidade no Peru, com placas confusas, falta de sinalização e motoristas estressados e provavelmente sem necessidade de aulas para tirar a habilitação, ficou simplesmente impossível. Algumas ruas estavam em obras, o que piorava o problema. Além disso, a chuva desbarrancou algumas ruas tornando tudo muito mais difícil.
Fizemos contato com Jimmy, que nos passou a localização da sua casa pelo Whatsapp. Com a cidade naquela babilônia simplesmente não conseguíamos chegar até lá. Tentamos alguns caminhos e por nenhum havia passagem.
Jimmy, um senhor de meia idade, veio ao nosso encontro. Nesse meio tempo, achamos um lugar para estacionar e resolvemos não nos estressarmos mais. A ideia era encontrar algum lugar e bebermos uma cerveja. Por incrível que pareça, mesmo estando no centro da cidade, no lugar específico que conseguimos estacionar não encontrávamos nenhum lugar que vendia uma mísera cerveja. Detalhe: a chuva havia dado uma trégua, mas ainda não havia cessado e nossa caça pela cerveja nos deixou um pouco molhados.
De longe avistamos um lugar com mesas e cadeiras servido comida e lá entramos. Era um pequeno estabelecimento que vendia Picarones, um doce típico peruano.
Aproveitamos a oportunidade para conhecer a iguaria que é, na verdade um bolinho de massa frita, com a do nosso “sonho”, só que no formato de rosca. Sobre elas é colocado uma calda açucarada. O local estava lotado e era até engraçado ver um lugar que só vendia Picarones. Não que não fosse bom. Na verdade acho que faltou esmero na preparação naquele local específico, mas é difícil imaginar um lugar que só venda “sonho”, não é mesmo?
Bem, no meio dessa confusão toda a chuva ainda caia, a cerveja não foi encontrada e Jimmy logo nos localizou. Ele veio conosco em nosso carro e começou a nos guiar por um caminho que dava até sua casa, no alto de um morro, na periferia da cidade.
Entre curvas e estradas de terras cheias de valetas e buracos, o escuro e a chuva tornavam o caminho assustador. Não parávamos de subir e de desviar dos tuc-tuc que são demasiado imprudentes na direção.
Quando finalmente chegamos na rua da casa de Jimmy, a coisa ficou feia. A chuva havia simplesmente destruído o caminho e as pessoas só passavam à pé, por um caminho em que havia mais lama do que estrada.
Agradecemos o prestativo couchsurfing, mas definitivamente não teríamos como chegar a sua casa de carro. Ele queria a todo custo nos ajudar e disse que passássemos a noite em frente a casa de uma parente sua.
Aceitamos, subimos mais alguns metros de estradas destruídas pela chuva e chegamos ao suposto local para pernoitarmos. Era no meio da rua mesmo, a qual nem era possível sair do carro sem nos enlamear por completo.
Agradecemos novamente Jimmy e às nove da noite saímos a procura de um lugar para passarmos a noite. Depois de quase uma hora entre descermos as pirambeiras e encontrarmos um caminho que não estivesse interditado, encontramos a rodovia com a intenção de encontrarmos um posto. E achamos.
Já passava das dez quando localizamos um posto 24 horas para ficarmos. Nem saímos no carro já que também no estacionamento estávamos cercados por poças da água e lodo.
Ainda bem que nosso carro nos permite acessar a parte de trás por dentro mesmo. Faz muita diferença no dia-a-dia e nessa noite foi a salvação. Assim, arrumamos nosso carro com as cortinas e ali passamos a noite.
Foi um dia e tanto! Cheio de emoções e imprevistos. Mas no final, mantendo a calma, tudo dá certo.