Foram quase dez horas de estrada até chegarmos à Comunidade de Guanacas, cidade de Inzá, no interior da Colômbia.
A Panamerica, rodovia que liga todo o continente americano, cruza as cordilheiras colombianas em uma só pista, cheia de curvas e sobe-desce. Caminhões pesados andando a vinte por hora deixavam tudo mais tenso e demorado. Manobras arriscadas eram vistas a todo momento na tentativa de ultrapassar os veículos de dois ou mais eixos. Esse foi o primeiro dos aspectos que a Colômbia nos fez lembrar muito o Brasil.
Mas haviam outros: as pessoas de pele queimada do sol, a paisagem verde, as melancias e mangas sendo vendidas na beira da rodovia, uma quantidade absurda de motos e também de ciclistas aproveitando o domingo de manhã para passear.
O que definitivamente não nos lembrava o nosso pais era a presença forte do exército nas ruas. Vimos muito soldados por toda carreteira.
Quando saímos da panamericana para seguirmos em direção ao interior o trânsito ficou mais calmo, diminuíram a quantidade de caminhões e motos, mas não de curvas. Uns setenta quilômetros mais adiante a estrada começou a ficar ruim pra valer.
Desbarrancamento,s lama, buracos, desvios, água e pedras na pista. Nossa velocidade não passava de trinta por hora.
Finalmente por volta das 17:30h chegamos à Inzá, onde fomos recebidos pela professora Lola Morales, simpatizando e atuante do movimento Slow Food.
Lola e outras nove pessoas possuem algumas parcelas de terras onde plantam, de forma orgânica, batatas, granadilhas e cebolas. Algumas culturas estão recebendo inseticidas naturais feitos com pimenta. Os estudos ainda estão em desenvolvimento mas já colhem resultados.
Mas nossa visita à Inzá estava muito mais ligada à produção cafeeira. Conhecido mundialmente por sua qualidade, estávamos curiosos para saber mais sobre os cafés colombianos.
Mas isso ficou para a segunda-feira. Naquele domingo Lola amavelmente nos convidou para ficarmos em sua casa. Antes de jantarmos, ela perguntou se queríamos tomar um banho, o que aceitamos de pronto. Pediu se queríamos que ela esquentasse água no fogão, e para evitar que lhe déssemos trabalho, recusamos gentilmente sua oferta.
Em segundos descobrimos que a ducha era mais gelada que água da chuva. Cremos que não há chuveiro com água quente na casa da maioria das pessoas naquela comunidade já que a energia elétrica é escassa no local. Não há luz nas ruas e às vezes a energia falta nas casas também. Na casa de Lola, propriamente, tampouco havia chuveiro. Um cano com água fria era tudo o que tinha.
Mas a água fria não esfriou a nossa sensação de receptividade da professora colombiana que nos preparou um rápido jantar com frango grelhado e bananas assadas e nos prometeu fazer feijão para o dia seguinte. Banho quente naquela noite, depois tanta estrada, era realmente um detalhe superficial.